quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Hulot ou a "introspecção profunda" que precisamos de fazer sobre o mundo, sobre nós

Antes de ser ministro da Ecologia de França, Nicolas Hulot foi um ambientalista activo e convicto. Teve programas na televisão nessa área e criou uma fundação com o seu nome (Fondation pour la Nature et l’Homme).

Tal fundação, cujo objectivo é modificar comportamentos individuais e colectivos no sentido de preservar o nosso planeta, numa ligação a outras iniciativas, como a Plate-Forme Française de L´Education à la Citoyenneté et à la Solidarité Internationaletem ganho protagonismo na área da educação, com destaque para a educação escolar.
São muitas as ligações, iniciativas, documentos, etc. que disponibiliza para uso, nomeadamente, de professores.

Hulot demitiu-se ontem ou anteontem, em directo, quando estava a ser entrevistado num programa de rádio. Disse:
“Não quero continuar a mentir a mim próprio. Não quero dar a ilusão de que a minha presença no Governo significa que estamos a avançar”. 
Reconheceu que o seu país dá "pequenos passos" para face às alterações climáticas, o que é "muito mais do que outros países" fazem, mas esses "pequenos passos não são suficientes". E há recuos (graves, pelo que deu a entender) decorrentes de pressões diversas e fortes, que se traduzem em cedências inaceitáveis.
Explicou que, por isso mesmo, o Governo não foi até onde havia prometido em matéria de proibição de pesticidas, de protecção da biodiversidade, de paragem da exploração e utilização de hidrocarbonetos...
Admitindo que Hulot foi sincero - talvez tivesse sido - as suas palavras conduzem à interrogação do sentido e da eficácia da dita "Educação ambiental", que consta nos currículos escolares.

Recomendada, com insistência, por instâncias internacionais que se infiltram nos sistemas de ensino, ditando a sua orientação, é substancialmente apoiada por empresas e por associações e fundações, muitas delas dependentes de empresas ou com ligação a elas. E, claro, com ligação às mais variadas instâncias de poder.

Quando se desbrava o caminho do currículo (e se começam a abrir links, que vão dar a links, que vão dar a links... e a analisar o teor e a substância da intervenção pedagógica, incluindo os seus patrocinadores), isto é mais do que evidente, ficando a desconfiança (para não dizer a certeza) de que a educação ambiental serve sobretudo para "tapar os olhos" a toda uma sociedade, para que não se veja a realidade tal como ela é: manipulada por aqueles criam problemas ou que permitam que se mantenham, com o fito de obter alguma coisa que os beneficia. Mas não é só isso, é um pouco mais: para dar a ideia de que estão muitíssimo empenhados, a trabalhar altruísta e duramente para debelar (todos) os problemas do mundo.

E, neste jogo de bastidores, o mundo vai perecendo.

Talvez Hulot tivesse percebido, de forma inequívoca, que a sua mobilização e intervenção na comunicação social, em organismos não governamentais e outros, na educação não escolar e escolar, e, mesmo, como responsável máximo de uma pasta ministerial específica não conduzia àquilo de que está convencido e ao que prometeu.

Assim, restou-lhe uma demissão abrupta e nada convencional para destacar o seu apelo  à “introspecção profunda" que há a fazer sobre o estado do mundo e o seu desgoverno.

1 comentário:

João Alves disse...

Basta ver que o governo português, apesar do QEPIC e do compromisso em fazer cumprir aquelas estratégias, autorizou a exploração de hidrocarbonetos, e o Sr. Presidente, em vez de lembrar ao governo essas orientações, disse que ia estudar o assunto.

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