Jean-Michel Blanquer, um jurista de formação é, desde há pouco mais de um ano, Ministro da Educação Nacional de França. Tem sido notícia em Portugal sobretudo por causa de proibições (dos métodos globais de aprendizagem da leitura, do uso de telemóveis no espaço escolar...) e de reforços (da laicidade da escola pública, das humanidades...)
Antes de assumir esta pasta governamental, teve cargos de direcção relevantes em instituições educativas e foi director e professor, de modo que as políticas de ensino não lhe são estranhas.
Em 2016 publicou um pequeno livro (L’École de demain: Propositions pour une Éducation nationale rénovée, Paris, Odile Jacob), que só agora li. Não é um livro extraordinário, mas tem algo na introdução que é extraordinário.
Começo pela estrutura, a qual se encontra bem arrumada.
São seis capítulos, quatro dedicados a outros tantos patamares de escolaridade, um dedicado à carreira docente e o último dedicado à organização do sistema educativo.
Em todos eles faz uma análise em seis tópicos: O que nos ensina a experiência; O que nos ensina a comparação internacional; O que nos ensina a ciência; O que é preciso fazer; Medidas-chave.
O conteúdo não é, no entanto, surpreendente: pouca profundidade de análise e um óbvio pragmatismo. Interessante, contudo, por estas mesmas razões, mostra uma reflexão política sobre a educação e aponta a sua orientação. Distancia-se também do discurso "politica e social e (sobretudo) economicamente correcto", além de que reafirma, com especial ênfase na Conclusão, os valores essenciais da escola pública francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
Mas é na Introdução - intitulada O grande equilíbrio - que me detenho.
O Ministro começa por citar a famosa frase de Montaigne, cujo sentido Kant retomaria: "Tratar a maneira de elevar e educar as crianças parece ser a coisa
o mais importante e mais difícil de toda a ciência humana" (Ensaios, Livro 1, Capítulo XXV).
Denota, assim, a consciência da dimensão e responsabilidade que tem em mãos e, é nesse espírito, que inicia o seu texto dizendo que a França (e eu acrescento, qualquer país) não pode fugir às inquietações do mundo actual, entre as quais se contam o progresso tecnológico, os riscos do declínio económico e de implosão da sociedade...
Impõe-se, portanto, elaborar um projecto escolar assente numa filosofia clara e numa visão histórica, ambas concorrendo para que o futuro assente no passado e no presente. É isto que se me afigura extraordinário: um político escrever que a base da educação, melhor da construção da educação, deve ser esta dupla: filosofia e história
Ora, trata-se de uma dupla em tudo contrária ao mercantilismo da educação formal ao serviço de uma certa economia, que está longe de constituir benefício para todos.
Foi também com surpresa que vi ser convocada uma terceira base para tal projecto, de ordem científica e que se situa na área da psicopedagogia: os estudos sobre a cognição. Quando esta palavra desaparece do vocabulário das instâncias supranacionais e nacionais, em favor de palavras de sentido fluído, retomá-la é, devo dizer, de alguma coragem. Destaca, ainda, a necessidade de reintroduzir áreas do conhecimento que têm sido afastadas do currículo ou menorizadas: as artes estão entre elas.
Não deixando de ter em conta as orientações da OCDE e as comparações entre países proporcionada por provas internacionais (como o poderia fazer sendo político e ministro?), a mensagem em que insiste é que não será possível construir um futuro para a educação na ausência ou descuido destas três bases.
terça-feira, 28 de agosto de 2018
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12 comentários:
Entre nós, também tivemos, há poucos anos atrás, um ministro clarividente e corajoso, como Jean-Michel Blanquer, que se propunha mudar o rumo da educação em Portugal, através da substituição das ideias absurdas da pedagogia do Aprender a Aprender por uma nova filosofia para a escola que tinha como pedra de toque a revalorização dos conteúdos lecionados, por oposição a um ensino baseado em vacuidades fáceis com que se pretende justificar a atribuição de vistosos diplomas a todos os alunos submetidos à escolaridade obrigatória de 12 anos!
Nuno Crato é o nome desse grande Ministro da Educação!
Porém, acima de Nuno Crato e Jean-Michel Blanquer estão grandes instâncias internacionais que são quem verdadeiramente define as políticas educativas a nível mundial! A França e Portugal foram, em séculos passados, fontes e correias de transmissão, das doutrinas filosóficas e religiosas, incluindo a área da educação, que irradiavam de Roma para todo o mundo. Entretanto, o mundo mudou. O ministro Nuno Crato praticamente nem aqueceu o lugar; esperemos que o ministro Blanquer aguente o tempo suficiente para que comecemos a ver uma pequena luz ao fundo deste túnel escuro para onde nos empurraram há já tanto tempo!...
Acho sempre curioso que livros sobre Educação e Escolas, nunca se debrucem sobre uma zona, o Pátio, que fica sob a gestão do "Pessoal Menor" geralmente pouco letrado e mal pago, infelizmente, e, especialmente nas zonas degradadas, provenientes da mesma zona dos Alunos.
E, contudo, uma das causas de mau aproveitamento é os "Problemas e valores do Pátio" entrarem, ao fim de cada intervalo, pela Aula a dentro (e não o contrário ...), o que faz com que o Professor perca tempo e se desgaste a "apaziguar as almas" do petizes ...
Também a analise e solução dos "chumbos" parece-me pouco mais do que "repitir anos", servindo-se sempre "pratos cada vez mais requentados" até ao falhanço final...
A opinião do vagabundo ignorante, de 29 de agosto, vem, por linhas tortas, apoiar o parecer refletido e muito bem ponderado do anónimo de 28 de agosto sobre a degradação do sistema educativo em Portugal desde que os especialistas da pedagogia do Aprender a Aprender se instalaram de pedra e cal no ministério da educação nacional. O vagabundo tem muita razão quando desloca a chave da resolução dos problemas de ensino/ aprendizagem - causados pelos teóricos doutorados do Aprender a Aprender -, do interior mal arejado e opressivo das salas de aula - com as mesas e cadeiras dispostas no espaço segundo uma ortodoxia de linhas retas cartesianas -, para o recreio da escola, onde a ação do "Pessoal Menor"- desde que devidamente incentivado a melhorar a sua formação académica, a exemplo do que o governo fez com os doutores-enfermeiros, os doutores-enfermeiros-especialistas e os doutores-enfermeiros-diretores, que atualmente são tão doutores como os médicos -, infundiria nas mentes e corações dos petizes os valores corretos e apropriados para estes obterem bom aproveitamento, após entrarem pela "Aula Adentro".
Em Portugal, um dos principais problemas do ensino não é haver "chumbos" de mais - o problema é haver "chumbos" de menos!
Anónimo 30/08, caso não tenha reparado, chumbar alunos é fácil, mesmo para o pior professor. Basta empurrar o questionário para a "zona de conhecimento" que o aluno não domine. Era o método usado pelo Homem das Cavernas para caçar Mamutes (levando-os, segundo as más línguas para a extinção, caso não saiba), o que, podendo ser um método de caça, não me parece que seja um Método de Ensino.
Ensinar é dar conhecimentos, desenvolver sentido crítico, sentido cívico, etc, e reconheço que outros poderiam ser mui melhores que eu nesta acção, mas tenho a certeza que, definitivamente, não é disparar "chumbos" a caçadeira a torto e direito só para "serem muitos".
Quanto à sua proposta de "doutoramento do Pessoal Menor" (coisa que nunca propus ou me passou pela cabeça), só traz ao de cima o "Síndroma Portuga dos Títalos" (SPT) em que alguém, para ser respeitado, sente que tem de ter um "Títalo" mesmo não precise dele para nada para ser quem é, veja-se o "Caso Relvas" (e para que raio ele precisava da Licenciatura ? ....)
O problema é que para tudo precisamos de gente qualificada e respeita nas suas funções, e o Pátio pela sua dinâmica e volatilidade é uma parte importante da Escola.
Por exemplo, já pensaram que as "pseudo aulas de substituição" inventadas pela Lurdes R. teve a emérita vantagem de tirar do Pátio os alunos sem aulas, que perturbavam no seu "bulício" as que estavam a decorrer, logo melhorando o aproveitamento (diminuído os Chumbos ....).
Ex.mo Senhor Vagabundo Ignorante,
Não se faça de ingénuo!
Os "petizes" passam todos de ano porque as ordens do governo são muito claras: os professores da escola obrigatória do "aprender a aprender", com a duração de 12 anos, não podem ensinar matérias que os alunos achem um bocadinho difíceis, mas, em contrapartida, devem distribuir à farta elevadas classificações, que salvaguardam boas avaliações internas e externas dos estabelecimentos de ensino e refletem, com justiça e verdade, o porfiado labor de aprendizagem desenvolvido por todos os pequenos estudantes!
A caricatura de exame só vale 30 %.
Fernando Madureira, o macaco, chefe da claque dos Super-Dragões, é doutor e mestre, como qualquer doutor-enfermeiro, professor primário ou educador de infância, em Portugal, claro!...
Simplifiquemos, caro Anónimo 15/04 (não dá para mais ...).
1º - Lembremo-nos que isto começou pelo meu comentário de que o Pátio é um elemento das Escolas, a meu ver, geralmente ausente na análise e reflexão sobre o sistema de ensino e o sucesso do mesmo;
2º - Nesse sentido será que o Bulling, por exemplo, não contribui para o insucesso? As disputas do Pátio não perturbam, no mínimo, o início de qualquer aula?
3º - Quanto à "ingenuidade", diz que, se bem entendi, que há ordens superiores para "passa tudo", certo? Por seu lado, você propõe o "chumba tudo" como método. Para mim, nenhum destes método serve, como "Método de Ensino".
4º - Se, no seu entender, o Ministério está cheio Condes Andeiros, e Migueis de Vasconcelos, que levaram ao "estado a que isto chegou", o que está à espera para o "tomar de assalto" o dito? Organise-se numa Revolução!
Agora, peço que não se ponha como mui doutros profs universitários, que em programas de TV se lamentam que os alunos lhes chegam "cada vez mais fracos", "não sabem escrever" e outros lamentos, mas fazem nada sobre isso.
5º - O SPT e o caso do Sr. Fernando Madureira, que é o que é, independentemente dos "Títalos", académicos ou outros tenha obtido com o seu trabalho honesto:
- Será que ele é confiável para trabalhar num local que não a "claque dos Super Dragões"?
- Ou será que se tivesse um "Títalo", por exemplo, Marquês, Duque, ou mesmo Príncipe Herdeiro, o torna uma pessoa confiável?
Calar-se-á a vagabunda ignorante e passará por sábia!
A resposta é muito simples:
A escola tradicional, que a maioria das pessoas ainda tem na cabeça, já não existe. Através de pequenos passos, tais como fingir que na físico-química do secundário os alunos aprendiam os princípios de funcionamento do complexo sistema GPS, os especialistas da pedagogia do aprender a aprender foram progressivamente esvaziando de conteúdos as matérias lecionadas até chegarmos à situação atual em que os professores apenas têm autorização para ensinarem assuntos ordinários, acabando de vez com as hipocrisias do tipo GPS!
Do pouco que ainda se pode ensinar faz parte o valor da aceleração da gravidade perto da superfície da Terra, mas com a ressalva de que os alunos devem aprender o valor errado de 10 m/s^2, porque é mais fácil, em vez do valor correto de 9,8 m/s^2 que dificultaria muitos os cálculos efetuados com a máquina de calcular!
Pode ser que estejamos a atravessar uma fase de transição na educação e a escola ainda venha a recuperar a função para que foi criada nos alvores da civilização humana, porque não é a mera distribuição de diplomas, a torto e a direito, que vai evitar o colapso de tão veneranda instituição!
Concordo consigo, a Escola Tradicional já não existe e está morta, mas há quem queira ressuscita-la a todo o custo.
Vejamos:
1º - para os Alunos é o sítio de convívio, de encontro de amigos, onde se pode comer uma refeição (almoço), enfim socializar, pelo que as aulas são uma interrupção desse convívio.
Neste processo transportam para a Escola os problemas Sócio-familiares do seu meio donde moram, sejam os do "Bairro Social", sejam os do "Bairro Fino";
2º - para os Pais/Encarregados de Educação é uma espécie "área Protegida", onde entregam os filhos supostamente protegidos dos "males" (acidentes, droga, etc) enquanto trabalham na esperança que aprendam.
Há parte disso, não ligam mais à Escola, nem tem tempo para qualquer outra participação (Associação de Pais, Orgãos da Escola, etc), o que não é de estranhar com vidas com 3 horas bichas no IC19 e afins.
3º - A Escola, e os Professores em particular, tem de, para além de Ensinar as matérias do seu "Pelouro", introduzir nas mentes "normas de comportamento social", tendo em conta base a origem do aluno (por exemplo, não olhar nos olhos quem esta repreender, pode ser um sinal de respeito, e não contrário), detectar problemas vários (sub-nutrição, desavenças familiares, pedofilia, gravidez, etc) para despista-los.
Nesse sentido, uma intervenção estruturada no Pátio e respectivo pessoal, parece-me essencial.
Já agora uma "vistoria obrigatória anual à visão e audição" dos Alunos, feita deste a pré-Primária por médicos (de Família, por exemplo), cujos os resultados seriam comunicados à Escola, com responsabilização da Família no uso das próteses necessárias, poderia melhorar o aproveitamento Escolar.
Desculpem-me, mas quanto à aberração dos 10m/s^2, não percebo o que estão a espera para protestarem publicamente, para ficarmos a saber que os Professores se preocupam com o rigor cientifico, e não só com tempo de serviço, ordenados e afins.
Para não serem gosados por um Ministro que perante um erro num enunciado dum exame de Geometria Descritiva, disse que a recta seria tangente ao circunferência se fosse desenhada com lápis grosso ..
O "Pessoal Maior" do Ministério da Educação e da Pedagogia do Aprender a Aprender estão-se borrifando para o valor da aceleração da gravidade que os professores de Física querem continuar a ensinar na escola. Não é preciso ser um génio da Pedagogia para ver imediatamente as vantagens inerentes à utilização, num contexto moderno de ensino/ aprendizagem em sala de aula, do valor errado, mas redondo, de 10 m/ s^2, quando se faz a comparação com a complexidade do valor quebrado, e cientificamente correto, de 9,8 m/ s^2. No campo do saber, houve tempos em que os professores do liceu licenciados tiveram algum poder; atualmente, são funcionários públicos cheios de dignidade, mas mandam tanto como os assistentes operacionais que tomam conta dos petizes no "Pátio" da escola!
Resumindo:
1º - Não se admirem que o People diga que os Prof's só estão preocupados com com o Carcanhól e Tempo de Serviço, e desde que mantenham os Alunos no Redil da Escola, enquanto trabalham e se divertem, tudo bem;
2º - Não se admirem que, em nome da simplificação, passem a ensinar que "a Terra é plana", e "está no Centro do Universo", e o "Homem descende do macaco", etc, etc.....
3º - Perante isto, qual a importância de os Maias serem, ou não, de leitura obrigatória?!
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