As explicações particulares constituem
serviços pagos de apoio extraescolar com o objetivo de melhorar o desempenho dos
alunos. O recurso transitório a explicações individuais ou em pequenos grupos pode
ser vantajoso, quer como recuperação para alunos com dificuldades, quer como
reforço para bons alunos, permitindo acelerar a aprendizagem. Os primeiros
procuram acompanhar o ritmo da turma e os segundos aspiram à excelência. Dada a
competitividade na sociedade, são as classes médias e altas que mais se valem
das explicações para seguir estudos superiores. No entanto, manter explicações ao
longo da escolaridade obrigatória prejudica por um lado os alunos, porque lhes
cria dependência e limita o tempo livre, e por outro lado as famílias, porque
sobrecarrega o orçamento doméstico.
Em primeiro lugar, os alunos, habituando-se
a dispor sempre da ajuda dos explicadores, desvalorizam as aulas oficiais e não
desenvolvem o estudo autónomo. Os explicadores para obterem resultados rápidos
apresentam o conteúdo curricular já pronto e treinam para os testes. Os
explicandos limitam-se a assimilar a matéria “mastigada”, o que lhes permite
uma progressão mais célere. Ficam porém privados de aprenderem de modo autónomo
não só a recolher e organizar informações, transformando-as em conhecimentos,
como também a aplicar estes últimos. Já sem falar nos “explicadores” que
praticamente resolvem os trabalhos para casa dos alunos, o que falseia o mérito
individual. Tudo isto pode trazer consequências funestas na universidade e
mesmo na vida profissional, em que mais se exige competência autorregulatória. Em
segundo lugar, a sobrecarga das explicações e deslocações gera fadiga, reduz o
tempo de socialização e afeta o convívio familiar. Pior ainda se se resumem a meras
aulas extras para oferecer mais do mesmo. Em terceiro lugar, o custo das
explicações é insuportável para muitas famílias, o que motiva desigualdades
sobretudo no acesso ao ensino superior. Seja como for, mesmo que acabem com os
exames na escolaridade obrigatória (como defendem alguns), haverá sempre provas
de ingresso com a consequente seriação, caso os candidatos superem as vagas
subordinadas à capacidade de formação no curso pretendido.
Em suma, as explicações privadas – sinais
de insuficiência da escola - podem ser úteis se episódicas, mas prejudiciais se
duradouras. Porém, o ideal é o domínio de todo o processo de
ensino/aprendizagem exercido pelo professor no âmbito da própria disciplina com
a progressiva autonomização dos seus alunos, sem que estes necessitem de
duplicar as lições.
Nuno Pereira (psiquiatra)
2 comentários:
Esta breve exposição do psiquiatra Nuno Pereira é irrepreensível do ponto de vista formal e científico. Já no que diz respeito a referências ao pragmatismo, que, nos tempos que correm, se tem vindo a infiltrar nos grandes sistemas de pensamento, nomeadamente naqueles de onde provêm as linhas mestras orientadoras das políticas educativas em Portugal nas últimas décadas, o texto é de uma pobreza franciscana. Por outras palavras, a maioria dos estudantes que procuram explicações, assim como os que vão “estudar” para os colégios particulares, querem apenas desenvencilhar-se, o mais rápido possível, das dificuldades postas pela aquisição de conhecimentos, que na escola do Aprender a Aprender há muito tempo deixou de ser essencial, e pela falta de autonomia de aprendizagem, que também já não faz falta, e investem, muito dinheiro e vontade, na papinha feita dos explicadores que lhes dá acesso fácil à porta do cavalo de entrada na universidade ou politécnico, onde o que vão aprender continuará a ser secundário em relação ao objetivo supremo que é ter o canudo que prova que são engenheiros, arquitetos ou doutores. Concluindo, no nosso ensino secundário de faz de conta há mais vantagens do que desvantagens em contratar um explicador particular.
ok
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