"Bom aluno em Ciências Naturais, cheguei ao final do 7.º ano (o actual 11.º). Aí, como nos tempos que correm, a razia no exame de Matemática foi quase total e nessa quase totalidade estava eu.
E a causa destas razias foi e é, sem dúvida, nas mais das vezes, a falta de qualidade do professor.
Na repetição desta disciplina apanhei o Dr. João Seruca, com quem o insucesso escolar nada queria, ao contrário do que tinha sido o seu antecessor. Com o novo professor passei a gostar de Matemática e fui, pela primeira vez, bom aluno nesta disciplina. Com ele comecei a consertar e a repor todos os degraus, dos mais baixos aos mais altos, que me faltavam para poder subir, sem tropeçar, a este maravilhoso edifício do saber racional.
– A Matemática, - disse-me um dia – é uma escada, sobes um degrau de cada vez. E se, em cada degrau, assentares bem os pés, podes subir até onde quiseres".
A. Galopim de Carvalho
1 comentário:
Muita água correu por baixo das pontes desde esses anos 30 e 40 do século XX, quando, antes de mais, muita fome grassava por essas aldeias, vilas e cidades de um Portugal neutro – dada a sua insignificância política, militar, geoestratégica e económica -, relativamente a uma guerra fratricida, da qual resultaram milhões de mortos, que, nessa época, deflagrou entre as grandes potências europeias e rapidamente se alastrou a todo o mundo!
Nesses tempos, nas escolas os professores ensinavam e os alunos aprendiam!
As provas de exame finais serviam para avaliar se os alunos ficavam aprovados, no caso em que obtinham classificações positivas e portanto tinham aprendido o mínimo de conhecimentos exigidos numa dada disciplina, ou se ficavam reprovados, no caso em que obtinham classificações negativas.
Agora já não é assim! Um examinando pode realizar a sua prova de Matemática A, a mais difícil, com grande descontração e irresponsabilidade, dado que na nota final a classificação do exame nunca vale mais do que 30 %. Os restantes 70 % vão sendo amealhados ao longo do ano letivo, que pode ser passado num colégio interno dirigido com grande liberalidade, e nessa grande percentagem, para além dos conhecimentos adquiridos, entram fatores muito pesados na atribuição da classificação final de ano como sejam o baixo nível socioeconómico do aluno e dos seus encarregados de educação, que faz subir a nota, a circunstância de o aluno ser filho de pais divorciados ou separados de facto, que faz subir a nota, a condição de o aluno ser estrangeiro, que faz subir a nota, a pressão execranda exercida pelos órgãos dirigentes das escolas
sobre os professores honestos e responsáveis, quando atribuem, com justiça, notas baixas, que faz subir a nota, etc, etc, etc.
Perante este panorama, a parábola das escadas e da Matemática, do Dr. João Seruca, passa a documento histórico-literário, desprovida de qualquer sentido quando aplicada ao contexto da escola portuguesa do século XXI, onde quem dita as regras são os especialistas da pedagogia do aprender a aprender!
Enviar um comentário