domingo, 22 de abril de 2018

A "OCDE como instância de legitimação das políticas" educativas

António Teodoro, professor universitário, num artigo de opinião publicado no dia 5 de Abril no Diário de Notícias online com o título Incoerência nas políticas de ensino superior e ciência, detém-se na influência que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) tem ganho nas políticas educativas do ensino superior, destacando o caso de Portugal.

As considerações que faz aplicam-se a todos os níveis de ensino e o país poderia ser outro. De facto, independentemente do contexto, até partidário, a "narrativa" da OCDE impõe-se pelo mundo fora sem resistências, apenas com cedências, determinando o rumo da escola pública.

Recupero as passagens mais generalistas que traduzem bem esse rumo, e que não é visível para todos, pois a "narrativa" que o apresenta, esconde-o.
(...) não deixa de ser interessante a escolha da OCDE como instância de legitimação das políticas apresentadas, insistentemente presente nas notas introdutórias de quase todos os projetos de diploma apresentados. A OCDE é, reconhecidamente, o principal think tank internacional do projeto neoliberal: na economia, nas relações laborais, mas também na educação. 
A ironia é que o governo da geringonça, que se afirma de esquerda e adversário confesso das políticas neoliberais, tenha recorrido a essa legitimação (que, obviamente, não é "técnica" mas ideologicamente orientada). 
A OCDE não é a única organização internacional presente no espaço da "consultoria" internacional. Porque se omite sempre a UNESCO, com um imenso trabalho na educação (...) desde há décadas? (...) Será porque se teme que as recomendações não correspondam ao que se deseja? (...) 
Os projetos de diploma apresentados acentuam algo muito grave no discurso do atual (...): o conhecimento válido é aquele que tem valor de mercado. 
Todas as prioridades, todas as introduções, todos os discursos, incluindo a nova modalidade de mestrados em empresas, vão neste sentido (...). Mal vai um país que não valoriza o conhecimento crítico, reflexivo, "desinteressado". 
O discurso dominante é, em primeiro lugar, penalizador para as ciências sociais, para as artes, para as humanidades, mas também para áreas como as ciências da vida ou as matemáticas. Mas a prazo afeta todas as áreas do conhecimento e da cultura (...)
A construção de políticas de educação e ciência que juntem conhecimento e verdade (...), a justiça social tem um longo caminho ainda a percorrer. E essa é também a função dos intelectuais e dos cientistas que partilham esses valores. E não será seguramente numa leitura acrítica, tecnocrática, das agendas da OCDE que haverá políticas que privilegiem a justiça social."

1 comentário:

Anónimo disse...

Após o 25 de abril de 1974, a nossa Constituição democrática, outorgando a sede do poder no Povo, é uma das mais avançadas do mundo!
Porém, sem dinheiro e sem um parque industrial moderno e pujante, se cumprirmos à risca as recomendações da OCDE em matéria de educação já não fazemos pouco!...
Um país que fecha tribunais e maternidades por ordem expressa de autoridades estrangeiras, já não mete prego nem estopa em assuntos tão corriqueiros como os do ensino/ aprendizagem!

NOVA ATLÂNTIDA

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