Acaba de sair o livro com o título de cima, da autoria de José Fanha (poemas), Daniel Completo (músicas e interpretação) e meu (prefácio e notas introdutórias aos poemas). Trata-se de um livro de poemas infantis que vem acompanhado por um CD e com belas instruções da Cristina Completo. A editora é Edições Canto das Cores. Sesimbra, que tem publicado outras obras congéneres. Os dois primeiros autores têm feito sessões nas escolas em que juntam música e poesia. A novidade deste livro consiste no facto de todos os poemas envolverem a ciência, a começar no Big Bang e a acabar no planeta Terra. Quem estiver interessado em adquirir o livro pode fazê-lo através do endereço: https://www.cantodascores.com/loja?lightbox=dataItem-jdg5kk4j
Deixo aqui o meu prefácio e um poema de José Fanha "Canção do Porquê" com uma minha nota introdutória:
Estes poemas de José Fanha, feitos a pensar nos mais jovens, são todos eles
inspirados na ciência. A ciência é a descoberta do mundo. Os cientistas colocam
questões sobre o mundo e tentam saber se as respostas que dão estão certas. É
logo de pequenino que todos nós começamos, movidos pela curiosidade, a colocar
perguntas. Os cientistas são aquelas pessoas que nunca deixam de colocar
perguntas e de procurar as melhores respostas. E para isso é preciso observar e
experimentar. Os poemas que se seguem convidam a fazer perguntas, a observar e
a experimentar.
Hoje os cientistas, depois de terem colocado perguntas sobre as estrelas,
sabem que houve um tempo em que ainda não havia estrelas, mas apenas o material
para fazer essas estrelas. O início do mundo foi semelhante a uma grande,
tremenda, explosão. O material de que viriam a ser feitas as estrelas
espalhou-se pelo espaço e só depois, quando o Universo foi arrefecendo, é que
se juntou devido à força da gravidade, formando os astros luminosos que vemos
no céu.
A estrela mais próxima de nós, a “nossa estrela”, é o Sol. Sem ela, sem a
sua luz, não poderíamos viver neste planeta a que chamamos Terra. A Terra está
à distância certa do Sol para aqui podermos viver: nem é muito quente, nem
muito frio. Ao longo de um ano damos uma volta ao Sol, numa órbita que é ainda
explicada pela força da gravidade. E, tal como a Terra anda à volta do Sol, a
Lua anda à volta da Terra. Sempre graças à gravidade. Para viver, beneficiamos também
da presença de ar e de água no nosso planeta, o ar que respiramos, e a água que
bebemos. A vida, que se multiplica no
nosso planeta, não é conhecida em mais nenhum outro sítio. Mas os cientistas
continuam à procura de vida noutros lados...
De posse de algumas respostas, validadas pela observação e pela
experiência, os cientistas conseguem mudar o mundo. Falamos de invenções, como
a da luz eléctrica, que nos permite ler quando está escuro. Os cientistas têm
ideias sobre o mundo e essas
ideias acabam por permitir uma vida melhor nele.
Tudo isto pode levar muito tempo a explicar. Mas aqui está explicado de um
modo muito simples e atraente. Na forma de poemas para canções. A cantar também
se pode aprender. A ciência, como José Fanha mostra, pode misturar-se com a
poesia.
Carlos Fiolhais
Professor de Física da Universidade de Coimbra
CANÇÃO DO PORQUÊ
Fazer perguntas sobre o mundo à nossa volta é o o início de toda a ciência.
Na “idade dos porquês” as crianças começam a fazer perguntas. Começam,
portanto, a imitar os cientistas: dizem, como eles, “quero saber o porquê”.
Ai porquê porquê porquê
ai porquê porquê porquê
ai de tudo à minha volta
quero saber o porquê
Porque é que o céu é azul
e começa a escurecer
quando é hora de deitar
e eu estou quase a adormecer
Porque é que o deserto é quente
e o Polo Norte tão frio
porque corre o rio para o mar
e o mar não corre para o rio
Ai porquê porquê porquê
ai porquê porquê porquê
ai de tudo à minha volta
quero saber o porquê
Porque é que
o céu fica escuro
para dizer
que vai chover
porque é que
eu fico com fome
na horinha
de comer
Porque é que somos diferentes
uns loiros outros morenos
negros brancos amarelos
mais altos ou mais pequenos.
Ai porquê porquê porquê
ai porquê porquê porquê
ai de tudo à minha volta
quero saber o porquê
Porque é que a terra não pára
porque é que o mar é salgado
e o fumo sobe para o céu
e a chuva cai no telhado
Porque é que a água congela
e outras vezes é vapor
ou então é água pura
nos olhos do meu amor.
José Fanha
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