sábado, 10 de fevereiro de 2018

De nada mais o professor precisa para... não ser professor


Caro(a) colega
..........................................
No âmbito da disciplina de .........., colocamos ao seu dispor um Teste de Avaliação, cenários de resposta e matriz informativa. Esperamos que este recurso didático se revele útil e vá ao encontro das suas expectativas.
Votos de continuação de bom ano letivo!
...........................

As ofertas de materiais pedagógico-didácticos que as editoras de manuais escolares fazem aos professores (em mão ou por envio para as suas caixas de correio) são progressivamente mais intrusivas no que é a essência do seu trabalho.

É o manual do professor em que está tudo o que ele deve fazer e como deve fazer; são as planificações a longo, a médio e a curto prazo, incluindo as das aulas; é a calendarização com a distribuição de conteúdos pelo ano lectivo, trimestre, semana; são os testes de avaliação diagnóstica, formativa e sumativa; são os power-points; são os textos e as fichas suplementares, são as "actividades" para comemorar os dias disto e daquilo, são os programas informáticos para os tablets; são os vídeos e os filmes; são os guiões para visitas de estudo...

Quando abro a pasta do arquivo em que guardo esse material não posso deixar de pensar que está ali tudo; de nada mais o professor precisa para... não ser professor.

Na verdade, o que define o professor é o que o professor faz (em função, naturalmente, do que pensa): planificar o seu ensino da melhor maneira, tendo em vista a aprendizagem; elaborar testes para saber de onde parte (em termos de aprendizagem), como evoluem os seus alunos, onde chegam; escolher os métodos e os recursos que melhor se ajustam aos conteúdos que ensina sem perder de vista os objectivos a atingir... e, claro, estar com os alunos nas aulas, nos apoios, perto deles, numa relação que não é substituível.

Trata-se de um trabalho necessariamente fundamentado num saber multifacetado (que tem de ser profundo e vasto), nas directrizes que constituem o currículo oficial, e no conhecimento da escola, do meio, dos alunos. Esta fundamentação é o ponto de partida do professor, o que lhe permite organizar o ensino em situações específicas.

Como se percebe, é um trabalho criativo de grande exigência intelectual, onde os princípios e a técnica fazem a diferença. Mas, requerendo-se a decisão constante num campo tão delicado, está bem de ver que a responsabilidade é enorme.

Mas, se os professores abdicarem de tal trabalho, abdicam da sua "alma". E temo que muitos (já) o tenham feito.

Digo isto quando vejo exemplos como o que acima reproduzi: uma mensagem de certa editora dirigida a todos os professores de determinada disciplina do ensino secundário (portanto licenciados, mestres e alguns doutores) a oferecer uma "pasta zipada" que contém: a matriz de um teste, o teste, e a grelha de correcção.

Ora, esta e outras editoras não se dariam a tal trabalho (que envolve custos) se soubessem que ninguém o usaria. Logo, deduzo que ele seja usado.

Reafirmo o tenho dito (aquiaquiaquiaquiaquiaqui): o problema não está da parte das editoras, que são empresas, o seu fim não é educativo é económico; o problema está do lado das escolas e dos professores que não vêem, ou não querem ver, que é a própria profissão docente que põem em causa quando usam tais ofertas.

3 comentários:

Anónimo disse...

O ideal do ministério da educação é ter escolas secundárias sem professores! Eles podem ser facilmente substituídos pelos novos recursos informáticos que, diga-se de passagem, são muito mais baratos! Os professores que ainda insistem em ensinar, apesar das ordens dos governantes em sentido contrário, são vistos como grãos de areia grossa que emperram a engrenagem do ensino/ aprendizagem que trabalha para que todos os alunos obtenham elevadas qualificações com poucos ou nenhuns conhecimentos!
Para ilustrar a minha tese, transcrevo a seguir um item de um exame, do ano passado, de Física e Química A (a mais difícil!) do 11.º ano, onde, para evitar que os alunos não inventem muito na resposta, correndo o risco de errar, faz-se uma pergunta do tipo "Branco é, galinha o põe. O que é?":
1.3. De acordo com o teorema da energia cinética, o trabalho que seria realizado pela resultante das forças que atuam no balão é igual à variação da energia cinética do balão.
Conclua, com base neste teorema, qual é a intensidade da resultante das forças que atuam no balão, no deslocamento entre as posições A e B.
Apresente num texto a fundamentação da conclusão solicitada.
Há professores que, por pouco mais do que um prato de lentilhas por dia, contribuem por esta forma absurda para a redução do insucesso escolar!

Anónimo disse...

O futuro dos professores é realmente, nenhum... o programa de revolucionar (destruir) a Escola continua em curso, acompanhando a destruição marxista-cientificista e luciferiana de toda a humanidade.

Anónimo disse...

"companhando a destruição marxista-cientificista e luciferiana de toda a humanidade." É pá, esta tem piada. Fartei-me de rir.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...