quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
IMPACTO DOS METAIS NA REPROGRAMAÇÃO DA EXPRESSÃO GENÉTICA
Na próxima 4ª feira, dia 7 de Março, pelas 18h00,
vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a
palestra "Impacto dos metais na reprogramação da expressão genética", por Claudina Rodrigues-Pousada, uma das mais destacadas cientistas portuguesas com 40 anos
de carreira de investigação, Professora Catedrática do Instituto de Tecnologia
Química e Biológica António Xavier (ITQB). Recebeu em 2016 a Medalha de
Mérito para a Ciência, atribuída pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior.
Esta palestra integra-se no ciclo "Ciência às Seis"*.
Resumo da palestra:
"A capacidade para a adaptação a alterações das condições intra e extracelulares constitui um pré-requisito para a sobrevivência e evolução de um ser vivo. Os mecanismos moleculares responsáveis por esta adaptação são muito conservados na natureza e permitem que a célula tenha a plasticidade necessária para se ajustar às sucessivas alterações ambientais, um acontecimento homeostático designado por resposta ao stress.
No meu laboratório estudamos estes mecanismos na levedura Saccharomyces cerevisiae, um eucarionte, que possui um programa complexo de expressão genética, quando exposta a uma plétora de alterações ambientais como por exemplo vários metais. Entre estes estão as altas concentrações de cobalto, de ferro, os compostos de arsénio e o cádmio que é muito tóxico.
A homeostase das células de levedura é exercida através de um mecanismo altamente coordenado da regulação da transcrição, para o que são necessários vários factores, que podem actuar individualmente ou em combinação para levar a cabo funções específicas. Através da transdução de sinais produzidos pelo stress, assiste-se a uma reprogramação genética que por um lado leva a uma paragem transitória dos processos normais celulares e por outro lado a um aumento da expressão dos genes que codificam as proteínas de «stress». Destas proteínas fazem parte as «chaperones moleculares» que são responsáveis por manter a correcta estrutura das proteínas incluindo a dos factores de transcrição que modulam a expressão genética bem como uma diversa rede de outras proteínas que exercem funções diferentes. Para além dos diferentes factores de transcrição são também relevantes as modificações pós-transcricionais e pós traducionais. Nós estudámos uma família de genes que exercem uma função transcricional e que é designada pela família Yap, que contém 8 proteínas (Yap-1…Yap8).
Nesta conferencia vou falar do factor Yap8 que é activado pelos compostos de arsénio que embora tóxicos são utilizados no tratamento de algumas doenças."
Sobre a professora Claudina Rodrigues-Pousada:
Acabou
a licenciatura em Farmácia pela Universidade do Porto no ano de 1968, tendo em
seguida iniciado um estágio no laboratório de Bioquímica do Centro de Biologia
(CB) do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Com bolsas do Serviço de Ciência
da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e dos Serviços Culturais da Embaixada de
França foi, em 1973, para o Institut de Biologie Physico-Chimique (IBPC),
laboratório dirigido pelo Professor Donal Hayes, tendo realizado a tese 3.º ciclo que defendeu em Julho de 1976 na
Universidade de Paris VII; em Janeiro de 1980 defendeu o doutoramento de Estado
no IBPC. Em 1976 entrou como funcionária da FCG na qualidade de investigadora
assistente no CB; em 1980 passou a investigadora e em 1983 a investigadora
sénior depois de ter realizado as provas de agregação no Instituto de Ciências
Biomédicas da Universidade do Porto. Começou a dirigir o seu laboratório em
1976 e entre esta data e 1979 ia por períodos longos a Paris ao IBPC para finalizar
experiências e discutir os resultados obtidos com o Professor Hayes. Introduziu no seu laboratório as metodologias da Biologia Molecular,
doutorou trinta alunos e publicou mais de cento e vinte artigos em revistas
internacionais com arbitragem.
Prémios
principais. Foi galoarda com vários prémios, nomeadamente o prémio
de Genética pelo Instituto de Genética Médica Jacinto Magalhães (1994). Nesse
ano foi também eleita membro da organização europeia de Biologia Molecular
(EMBO). Recebeu o prémio de excelência atribuído pela Ministra da Ciência e
Tecnologia e Ensino Superior (2003/2004), Professora Doutora Graça Carvalho;
foi eleita membro honorário da Sociedade Internacional do Stress Cellular
(CSSI, 2005); recebeu em 2009 o Diplôme
d’Honneur da Federação Europeia das Sociedades de Bioquímica (FEBS) e o
prémio Almofariz (figura do ano) da revista Farmácia; recebeu Seeds of Science
“Consagração” da Ciência Hoje e foi eleita em 2011 “fellow” da Associação Americana
para o Avanço da Ciência (AAAS). Em 2016 recebeu a Medalha de Mérito para a Ciência, atribuída pelo Ministro da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professor Manuel Heitor. Organizou
vários eventos científicos sendo os mais importantes o 27.º Congresso da FEBS e
o 2.º Congresso Internacional da Resposta ao Stress em Biologia e Medicina.
*Este ciclo de palestras é coordenado por António Piedade, Bioquímico e Divulgador de Ciência.
ENTRADA LIVRE
Apresentação Livro "Terapias, energias e algumas fantasias"
Amanhã às 19h, no Museu do Oriente, em Lisboa, irei participar na apresentação do novo livro de João Villalobos, "Terapias, energias e algumas fantasias", editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Transmissão em directo e entrada livre, mediante inscrição.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
PREFÁCIO A “PARA LÁ DOS OMBROS DE GIGANTES”
Meu prefácio ao livro do físico Marinho Lopes, "Para Lá dos Ombros de Gigantes" (Edições Viriato), que está a ser lançado em várias cidades do país:
,
É do físico inglês Isaac Newton a
conhecida expressão “Se consegui ver mais longe foi porque estava aos ombros de
gigantes”. A frase é correntemente interpretada como significando que a ciência
é cumulativa: Newton baseou-se nos trabalhos das gerações anteriores, como os
de Copérnico, Galileu e Kepler e, do mesmo modo, Einstein baseou-se nos
trabalhos de Newton para chegar mais além. Um dia alguém subirá aos ombros de
Einstein, já que o processo de construção da ciência não tem fim à vista. A
ciência é um dos mais formidáveis empreendimentos humanos: consiste em
conciliar a tradição – o que já se conhece bem sobre o mundo – com a inovação –
o que se vai descobrindo, usando o método científico. O que se descobre tem sempre
de respeitar aquilo que se conhece bastante beem.
O jovem físico português Marinho
Lopes não só sabe bem o que é a ciência, em particular o processo de construção
da ciência, como sente o ímpeto de o transmitir aos outros essa sua sabedoria,
juntando-se a colegas seus no alargamento da cultura científica. Para isso
serve-se de um blogue que alimenta desde 2007, Sophia of Nature, a Sabedoria da Natureza, com o subtítulo
“Conhecimento é poder” (um aforisma do jurista e filósofo inglês Francis Bacon,
um dos primeiros teorizadores da ciência quando esta, no século XVII, começou a
surgir com a forma que tem hoje). Esse blogue, que cobre numerosos tópicos de
física, de matemática e da especialidade científica do autor, que é a modelação
físico-matemática em neurociências, contém um conjunto de textos bem escritos,
que são úteis para quem se queira iniciar nos assuntos da física ou para quem
queira complementar a formação de base que já possua.
O livro que o leitor tem em mãos
é uma selecção de textos desse blogue, estando os temas ordenados por
capítulos. A abrir o leitor encontrará um capítulo introdutório, intitulado
“Criar ciência”, que explicita o processo de construção da ciência. A explicação
dada por Newton sobre o movimento da Lua
em torno da Terra – a força de gravitação entre a Lua e a Terra - é o tema do
capítulo seguinte, ao qual se segue uma explicação das marés – causadas afinal pela
mesma força. Mesmo que o leitor já esteja familiarizado com a física básica,
aprende sempre qualquer coisa como, por exemplo, o facto de a Lua se estar a
afastar da Terra de uma distância de quatro centímetros em cada ano. Não só a
Lua não cai sobre nós, como está, embora lentamente a fugir de nós,
contrariando o senso comum. Seguem-se outros dois capítulos sobre astronomia:
um, um pouco mais quantitativo (não muito, como bom divulgador, o autor evita a
matemática), sobre medições astronómicas e o outro sobre movimentos celestes.
Mais uma vez um leitor eventualmente mais sábio pode aprender alguma coisa, por
exemplo, o surpreendente facto de que o Natal pode muito bem vir a ser no
Verão, no hemisfério Norte, devido ao movimento de precessão do eixo de rotação
da Terra. Segue-se uma apresentação das leis de conservação, que são
importantíssimas em física - por
exemplo, a rotação da Terra em torno do seu eixo respeita a lei de conservação
do momento angular -, e uma breve digressão sobre o pêndulo de Foucault, uma
maneira engenhosa de medir, sobre a Terra, esse movimento. Dois pequenos
capítulos sobre os balões de ar quente e sobre o fogo precedem uma discussão,
maior e mais fundamental, sobre as quatro forças básicas da Natureza, que
permitem as relações entre as partículas que constituem o mundo. O carácter
dual da luz e da matéria, que está no cerne da
mecânica quântica, precede um capítulo sobre esta teoria. Por último, surgem
alguns capítulos sobre temas avulsos, como a supercondutividade, os malefícios de
algumas radiações, os sentidos que nos permitem percepcionar o mundo à nossa
volta e o movimento browniano, isto é, o misterioso movimento de um pólen em
suspensão na água que levou no século XIX ao ganho de confiança na hipótese
atómica, trazendo á atenção dos nossos sentidos uma realidade até então
invisível.
O autor, licenciado e doutorado
na Universidade de Aveiro e a trabalhar actualmente como investigador na
Universidade de Exeter, no Reino Unido (pertence a uma geração de portugueses
que não conhece fronteiras geográficas), sabe do que fala, pelo que o livro
está cientificamente correcto. Sem prejuízo do rigor, o Marinho Lopes faz um louvável
esforço de simplificação com o objectivo de tornar inteligíveis conceitos e
teorias que podem não ser de compreensão fácil para quem lhes seja estranho.
Por exemplo, logo no início apresenta uma analogia divertida entre fazer
ciência e cozinhar arroz. E serve-se de figuras esquemáticas sempre que
necessário.
Eis pois uma obra de leitura leve
que recomendo a quem tenha curiosidade por assuntos de física. Não poderá existir
ciência se a sociedade, que a sustenta, não tiver a mínima noção do que ela é.
Para levar a ciência a todos são evidentemente úteis tanto blogues como livros,
que obviamente se somam a outros meios como a imprensa, a rádio e televisão, os
museus e centros de ciência, etc. Todos os meios são úteis! Os cientistas têm
particulares responsabilidades na transmissão dos conhecimentos e, acima do
tudo, do extraordinário método que os proporciona. Eles são “enviados
especiais” da Humanidade às fronteiras do conhecimento e a Humanidade quer também
saber aquilo que eles sabem. O autor está de parabéns por manifestar sob a forma, provavelmente mais
perene, de livro a sua paixão pela
ciência, que já estava visível na Internet.
Coimbra, 31 de Dezembro de 2017
Carlos Fiolhais
Professor de Física da
Universidade de Coimbra e divulgador científico
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Urbano Duarte
Uma das minhas felicidades, enquanto estudante, foi ser aluno de Urbano Duarte. Passaram muitos anos, mas continuo a pensar assim. Quando revejo todos os meus professores, Urbano Duarte está entre os primeiros.
Era um homem arguto, muito fino, com vasta cultura, atento aos tempos e à evolução das coisas; nunca ficou agarrado a fórmulas, nem a dogmas nem a ideias feitas. E, além disso, irradiava simpatia e tinha graça a falar e a responder, o que não é coisa pouca.
Possuía, acima de tudo, a enorme e rara qualidade de abordar os assuntos por todos os pontos de vista, de aceitar as opiniões alheias e de assim nos ensinar a pensar e a respeitar os adversários.
Sendo um homem de grande honestidade intelectual – coisa raríssima nos tempos que correm – foi, em plena ditadura, o meu grande mestre de democracia. Meu e de sucessivas levas de alunos do Liceu D. João III, em Coimbra.
E para os que pensam que a pedagogia é coisas de somenos, as aulas dele eram escolas vivas de uma pedagogia ativa, estimulante e muito formativa. Em todas as aulas éramos convidados a colocar questões para serem debatidas na aula – problemas nossos, que nos preocupavam, ou de que ao tempo se falava.
As coisas funcionavam do seguinte modo. Escrevíamos a questão num papelinho e púnhamo-lo em cima da secretária, antes da aula. É de calcular que aparecessem assuntos difíceis, às vezes provocadores, ou até “proibidos”. Mas para Urbano Duarte e, portanto, para nós, ali, não havia assuntos proibidos. Nunca houve.
Chegado à aula, baralhava os papelinhos que estavam em cima da mesa, pedia a um de nós para tirar três, ao acaso. Lia o primeiro, em seguida solicitava a opinião dos que quisessem contribuir para debater aquele assunto, e no fim dava a sua opinião. Encerrado a primeira questão, passava à segunda e procedia do mesmo modo. Quando se chegava ao terceiro tema já estávamos perto da hora, como se calcula, mas a aula tinha sido tão vivida e apaixonante que nos parecia sempre demasiado curta.
Mas se um dado tema não tinha tido a sorte de ser escolhido, o proponente podia sempre repeti-lo na aula seguinte, e na outra, até vê-lo tratado por todos. Em geral aceitava três opiniões para cada problema, para não se ficar todo o tempo num só assunto, mas éramos livres de debater com ele, no fim da aula, no corredor, ou até pela rua fora. Durante anos e anos assinou no Correio de Coimbra – de que era diretor - uma coluna, ao tempo famosa – Sintomas – que era uma janela semanal de ideias frescas, corajosas, informadas e honestas.
Atento aos sinais, preocupado em estimular os jovens, convidou-me um dia a colaborar no jornal, o que fiz, com muito gosto, durante anos. A outros fez o mesmo, como ainda há dias Carlos Fiolhais revelou no De Rerum Natura. É, pois, com um profundo sentimento de gratidão para com este homem exemplar, que me associo à homenagem que lhe prestaram no centenário do seu nascimento. Vem tarde – não pude participar por estar no estrangeiro - mas, como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
Era um homem arguto, muito fino, com vasta cultura, atento aos tempos e à evolução das coisas; nunca ficou agarrado a fórmulas, nem a dogmas nem a ideias feitas. E, além disso, irradiava simpatia e tinha graça a falar e a responder, o que não é coisa pouca.
Possuía, acima de tudo, a enorme e rara qualidade de abordar os assuntos por todos os pontos de vista, de aceitar as opiniões alheias e de assim nos ensinar a pensar e a respeitar os adversários.
Sendo um homem de grande honestidade intelectual – coisa raríssima nos tempos que correm – foi, em plena ditadura, o meu grande mestre de democracia. Meu e de sucessivas levas de alunos do Liceu D. João III, em Coimbra.
E para os que pensam que a pedagogia é coisas de somenos, as aulas dele eram escolas vivas de uma pedagogia ativa, estimulante e muito formativa. Em todas as aulas éramos convidados a colocar questões para serem debatidas na aula – problemas nossos, que nos preocupavam, ou de que ao tempo se falava.
As coisas funcionavam do seguinte modo. Escrevíamos a questão num papelinho e púnhamo-lo em cima da secretária, antes da aula. É de calcular que aparecessem assuntos difíceis, às vezes provocadores, ou até “proibidos”. Mas para Urbano Duarte e, portanto, para nós, ali, não havia assuntos proibidos. Nunca houve.
Chegado à aula, baralhava os papelinhos que estavam em cima da mesa, pedia a um de nós para tirar três, ao acaso. Lia o primeiro, em seguida solicitava a opinião dos que quisessem contribuir para debater aquele assunto, e no fim dava a sua opinião. Encerrado a primeira questão, passava à segunda e procedia do mesmo modo. Quando se chegava ao terceiro tema já estávamos perto da hora, como se calcula, mas a aula tinha sido tão vivida e apaixonante que nos parecia sempre demasiado curta.
Mas se um dado tema não tinha tido a sorte de ser escolhido, o proponente podia sempre repeti-lo na aula seguinte, e na outra, até vê-lo tratado por todos. Em geral aceitava três opiniões para cada problema, para não se ficar todo o tempo num só assunto, mas éramos livres de debater com ele, no fim da aula, no corredor, ou até pela rua fora. Durante anos e anos assinou no Correio de Coimbra – de que era diretor - uma coluna, ao tempo famosa – Sintomas – que era uma janela semanal de ideias frescas, corajosas, informadas e honestas.
Atento aos sinais, preocupado em estimular os jovens, convidou-me um dia a colaborar no jornal, o que fiz, com muito gosto, durante anos. A outros fez o mesmo, como ainda há dias Carlos Fiolhais revelou no De Rerum Natura. É, pois, com um profundo sentimento de gratidão para com este homem exemplar, que me associo à homenagem que lhe prestaram no centenário do seu nascimento. Vem tarde – não pude participar por estar no estrangeiro - mas, como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
João Boavida
A Física do Big Bang
Amanhã, 27 de Fevereiro, pelas 19h, realiza-se no RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, mais uma palestra do Ciclo Astrotalks, intitulado “A Física do Big Bang” com Carlos Martins, investigador coordenador no CAUP - Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (Training Unit) e na FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia.
RICARDO ARAÚJO PEREIRA SOBRE A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
João Miguel Tavares também falou sobre o assunto, referindo o meu recente artigo no Público sobre o tema, em coautoria com o David Marçal.
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Por que aprendemos melhor ciência quando se parece com um romance?
Palestra sobre
"Por que aprendemos melhor ciência quando se parece com um romance?
O Ensino das Ciências através de narrativas literárias."
por
Sara Soares
ISCTE- Lisboa - Departamento de Psicologia Social e das Organizações
e CIS-IUL - Centro de Investigação e de Intervenção Social
No RÓMULO- Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra
Dep. Física da Universidade - Piso 0
A palestrante e o tema da palestra serão apreesntados por Carlos Fiolhais, director do Centro.
Segunda feira, dia 26 de Fevereiro 2018, 18 h
Entrada livre
ZOMBIES E CÁLCULO
Acaba de sair o n.º 225 da colecção Ciência Aberta:
Resumo:
Como pode o cálculo ajudá-lo a sobreviver a um apocalipse de zombies? Colin Adams, um dos divulgadores de matemática mais criativos e divertidos, revela o segredo nesta fantástica aventura de zombies.
Zombies & Cálculo conta a história de um professor de Matemática numa pequena cidade americana, que, a meio de uma aula de Cálculo Infinitesimal, se vê confrontado com um aluno retardatário cuja fome não é de conhecimento... À medida que o vírus zombie se espalha e a civilização se desmorona, o professor usa o cálculo para ajudar o seu pequeno grupo de sobreviventes a derrotar as hordas dos mortos-vivos.
Com este livro, os leitores ficam a saber como evitar ser comidos aproveitando o facto de os zombies apontarem sempre o seu vector tangente ao alvo, e também como usar o crescimento exponencial para determinar uma taxa de propagação viral. Também são tratados tópicos como a aceleração da gravidade, modelos predadores-presas, problemas de perseguição, a física do combate e muito mais. Um livro bastante útil: graças a ele, o leitor poderá sobreviver a um ataque zombie. E enquanto ele não acontece, pode divertir-se com a leitura.
Contendo apêndices que explicam a matemática do livro em maior pormenor mas de um modo acessível, Zombies & Cálculo é recomendado tanto para aqueles que foram recentemente apanhados pelo vírus do cálculo, como para aqueles cuja «doença» já se encontra num estado mais avançado. E ainda para aqueles que ainda não sabem sequer o que é o cálculo.
Bio do autor:
Colin Adams é professor de Matemática no Williams College, Massachusetts, Estados Unidos. É o autor, entre outros livros pedagógicos e de divulgação, do The Knot Book e How to Ace Calculus e vencedor do Distinguished Teaching Award de 1998 da Sociedade Americana de Matemática. É colunista de humor da revista Mathematical Intelligencer.
LISTA BIBLIOGRÁFICA de Richard Phillips Feynman (1918-1988) , Nobel da Física em 1965
Nos 100 anos do físico Richard Feynman, divulgamos uma lista
bibliográfica de obras dele e sobre ele:
Obras do
Autor disponíveis no RÓMULO CCVUC (por ordem cronológica de publicação)
The development of the space-time view of quantum electrodynamics : Nobel
Lecture, 1965. [Stockholm] : The Nobel Foundation,
1966.
The character of physical law. Cambridge : MIT Press, 1970.
ISBN 0262560038.
La nature de la physique. Tradution Hélène Isaac, Jean-Marc Lévy-Leblond, François Balibar. Paris :
Éditions du Seuil, 1980. (Science Ouverte ; S23). ISBN 2020056585.
“Surely you're joking, Mr.
Feynman!” : adventures on a curious character. London : Unwin Paperbacks,
1986. (Counterpoint). ISBN 0045300232.
FEYNMAN, Richard P. ; WEINBERG, Steven – Elementary particles and the laws of physics
: the 1986 Dirac Memorial Lectures. Cambridge :
Cambridge University Press, 1987. ISBN 0521340004.
QED : a estranha teoria da luz e da matéria. Tradução Ana Maria Ovídio Baptista. 1ª ed. Lisboa :
Gradiva, 1988. (Ciência Aberta ; 25).
O que é uma lei física?. Tradução de Carlos Fiolhais. 1ª ed. Lisboa :
Gradiva, 1989. (Ciência Aberta ; 35). ISBN 9726621380.
What do you care what other
people think? : further adventures of a curious character. London : Unwin Hyman, 1989. ISBN 0044403410.
Uma tarde com o Sr. Feynman : que é a ciência?,
Conferência Nobel e outros textos. Introdução,
apresentação, notas e tradução A. M. Nunes dos Santos, C. Auretta. Lisboa :
Gradiva, 1991. (Panfletos Gradiva ; 16). ISBN 9726622204.
Six easy pieces : essentials of physics explained by its most brilliant
teacher. 3ª imp. New York :
Addison-Wesley, 1995. ISBN 0201409550.
Está a brincar, Sr. Feynman! : retrato de um físico
enquanto homem. Tradução Isabel
Neves. 3ª ed. Lisboa : Gradiva, 1998. (Ciência Aberta ; 21). ISBN 726620384.
The meaning of it all :
thoughts of a citizen scientist. Massachusetts : Addison-Wesley, 1998. (Helix
Books). ISBN 0201360802.
The
pleasure of finding things out : the best short works of Richard P. Feynman. Edited
by Jeffrey Robbins. London : Allen Lane, 2000. ISBN 0713994371.
Seis lições sobre os
fundamentos da física. Tradução de Maria Teresa Escoval. 1ª ed. Lisboa : Presença, 2000. (Universidade Hoje ; 13). ISBN 9722325957.
"Nem sempre a brincar, Sr. Feynman!" : novos
elementos para o retrato de um físico enquanto homem. Tradução Maria Georgina Segurado. 3ª ed. Lisboa :
Gradiva, 2004. (Ciência Aberta ; 37). ISBN 9726621429.
O significado de tudo : reflexões de um
cidadão-cientista. Tradução de
José Luís Fachada. 2ª ed. Lisboa : Gradiva, 2005. (Ciência Aberta ; 110). ISBN
9726627680.
Classic
Feynman : all the adventures of a curious character. Edited
by Ralph Leighton. New York : W.W. Norton, 2006.
O prazer da descoberta : os melhores textos breves de
Richard Feynman. Organização
de Jeffrey Robbins ; tradução Ana Correia Moutinho. 2ª ed. Lisboa : Gradiva,
2011. (Ciência Aberta ; 151). ISBN 9789896161279.
Obras sobre
o Autor disponíveis no RÓMULO CCVUC
GLEICK, James – Feynman : a
natureza do génio. Revisão científica de Carlos Fiolhais ; tradução Ana
Falcão Bastos, Luis Leitão. 1ª ed.
Lisboa : Gradiva, 1993. (Ciência Aberta ; 61). ISBN 9726623278.
GOODSTEIN, David L. ; GOODSTEIN, Judith R. – A lição esquecida de Feynman : o movimento dos planetas em torno do sol.
Tradução de Maria Alice Gomes da Costa.
Lisboa :
Gradiva, 1997. (Ciência Aberta ; 88). ISBN 9726625351.
ROSENFELD, Rogério – Feynman & Gell-Mann : luz, quarks, ação.
1ª ed. São Paulo : Odysseus, 2003. (Imortais da Ciência). ISBN
858802327X.
MLODINOW, Leonard – Feynman's rainbow : a
search for beauty in physics and in life. New York : Warner Books, 2003. ISBN 044653045X.
O melhor de Feynman :
evocação da vida e obra de Richard Feynman. Organização de Laurie M. Brown, John S. Rigden
; tradução Luís Leitão. 1ª ed. Lisboa :
Gradiva, 1994. (Ciência Aberta ; 69). ISBN 9726623774.
GRIBBIN, John ;
GRIBBIN, Mary – Richard Feynman : a life in science.
London : Viking, 1997. ISBN 0670872458.
LEIGHTON, Ralph – Tuva or bust! : Richard
Feynman's last journey. New York : W.W. Norton &
Company, 2000. ISBN 0393320693.
OTTAVIANI, Jim – Feynman. Art by Leland Myring ; coloring by Hilary
Sycamore. New York : First Second, cop. 2011. ISBN 9781596432598.
Outras obras
de e sobre Feynman disponíveis nas Bibliotecas da UC
AUTORIA
FEYNMAN, Richard P. ;
HIBBS, A. R. – Quantenelektrodynamik : eine Vorlesungsmitschrift
und Nachdruck von Originalarbeiten. Mannheim : Bibliographisches
Institut, 1961. ISBN 3411004010.
Quantum
electrodynamics : a lecture note and reprint volume. New York : W.A. Benjamin,
1961.
FEYNMAN, Richard P. ;
YURA, H. T. – The theory of fundamental processes :
a lecture note volume.
New York :
W. A. Benjamin, 1961. (Frontiers in Physics).
FEYNMAN, Richard P. ;
LEIGHTON, Robert B. ; SANDS, Mathew – The
Feynman lectures on physics. Massachusetts : Addison-Wesley, 1963-1964. 3 Vol.
Lectures on physics : exercices. Massachusetts : Addison-Wesley,
1964-1965. 3 Vol.
FEYNMAN, Richard P. ;
HIBBS, A. R. – Quantum mechanics and path integrals. New York :
McGraw-Hill, 1965. (International Series in Pure and Applied Physics).
Statistical mechanics : a set of lectures. Massachusetts
: W.A. Benjamin, 1972.
QED : the strange theory of light and matter. Princeton : Princeton
University Press, 1985. ISBN 0691083886.
Photon-hadron
interactions. Massachusetts ; W.A. Benjamin, 1989. ISBN
0201360748.
Feynman
lectures on computation. London : Penguim Books, 1997. ISBN 0140284516.
Feynman
lectures on gravitation. London : Penguim Books, 1999. ISBN 0140284508.
Six not-so-easy pieces : Einstein’s relativity,
symmetry and space-time.
London :
Penguin Books, 1999. ISBN 014027667X.
SOBRE
GLEICK,
James –
Genius : Richard Feynman
and modern physics. London : Little, Brown and Company, 1992. ISBN
0316903167.
SCHWEBER,
Silvan S. – QED and the men who made it :
Dyson, Feynman, Schwinger, and Tomonaga. Princeton :
Princeton University Press, 1994. ISBN 0691036853.
GOODSTEIN,
David L. ; GOODSTEIN, Judith – Feynman's lost lecture : the motion of planets around the sun. London :
Jonathan Cape, 1996.
MEHRA,
Jagdish –
The beat of a different
drum : the life and science of Richard Feynman. Oxford : Clarendon Press, 2000. ISBN
0198518870.
RÓMULO CCVUC
Fevereiro 2018
MJ
A INVENÇÃO DA CIÊNCIA
Minha recensão no último As Artes entre as Letras:
É um grande livro em dois
sentidos: pelo tamanho e pela qualidade. Saído entre nós em Setembro de 2017, mas,
como há muita gente da cultura distraída, praticamente não apareceu, como
merecia, nos habituais destaques do fim do ano. O título é “A Invenção da
Ciência” e o subtítulo, esclarecedor, é “Nova história da Revolução
Científica”. A Revolução Científica, na tese bem justificada do autor, situa-se
entre 1572, quando o astrónomo dinamarquês Tycho Brahe observou uma nova
estrela no céu (era o que chamamos hoje uma supernova, uma estrela não nova,
mas velha que explode de surpresa no céu) e 1704, quando o físico, e também
astrónomo, inglês Isaac Newton publicou o seu famoso tratado sobre óptica, no
qual expõe as conclusões de experiências que tinha efectuado décadas antes, sobre
as propriedades da luz, concluindo que as cores, por ele decompostas com a
ajuda de um prisma, eram inerentes à luz e não aos objectos. A observação e a
experiência, as duas servidas pelo raciocínio lógico (muito em particular pela
matemática), são os dois pilares da, como então se dizia, “nova ciência”, ou
como hoje se diz, da “ciência”, uma vez que a ciência tal como a conhecemos
teve a sua origem nesse período, o período de gigantes da ciência pois além de
Brahe e Newton brilharam, e entre outros, Galileu, Kepler, Descartes, Gilbert,
Harvey, Boyle, etc. David Wootton, professor de História da Ciência da
Universidade de York, no Reino Unido, enfatiza neste seu livro que, se a nossa
vida hoje é como é, tal se deve em grande medida à ciência que surgiu neste
período que convencionámos designar por Revolução Científica. Foi uma mudança
extraordinária, uma transformação da nossa maneira de ver o mundo que teve o
impacto que está à vista de todos.
O conteúdo do livro está meticulosamente
argumentado. Houve um período antes da Revolução Científica, que foi o tempo
das descobertas marítimas, que em boa parte foram obra dos portugueses, houve o
período da Revolução Científica, e houve finalmente o tempo posterior, onde se
assistiu às consequências da grande mudança. Como seria de esperar num livro de
história de 823 páginas, o conteúdo é erudito (e que grande erudição mostra o
autor parece que leu tudo!), mas, no entanto, a escrita é clara e fluente,
seduzindo o leitor que, sem temer o tamanho da obra, se abalance à leitura. É uma
obra da historiografia anglo-saxónica que prima pela clareza: o autor considera
o leitor inteligente e, para o convencer, usa um manancial de factos inteligentemente
encadeados por uma interpretação persuasiva. Wootton demarca-se claramente de
algumas teses pós-modernas, alicerçadas em concepções relativistas. É bastante salutar,
neste tempo impregnado não apenas pelo pós-modernismo, mas também (e o que é
pior) pela pós-verdade, ler uma obra honesta, baseada na investigação de fonte primárias
e secundárias, que só considera factos reais e não alternativos e não se deixa
levar por algumas das vozes que têm feito moda na pós-modernidade. Por exemplo,
a ideia do filósofo americano Thomas Kuhn, autor de “A Estrutura das Revoluções
Científicas”, que advoga a existência de períodos de estagnação científica, entrecortados
por revoluções como por exemplo a revolução quântica. Mas, de facto, Revolução
Científica houve só uma. A ciência tem sido desde ela um trabalho permanente,
um trabalho baseado num método então proposto. Wootton apresenta-nos com um pormenor
muito rico o tempo incrível e irrepetível no qual esse método ficou estabelecido,
quando se percebeu como é que se podia descobrir. Desde essa altura a
humanidade deixou de ser a mesma, pois ficou aberta a via da descoberta. A explosão
da ciência de que o nosso tempo é testemunho (nunca houve tantos cientistas
como hoje) começou entre o final do século XVI e o início do século XVIII
graças à nova forma de pensar dos referidos gigantes. A revolução quântica na
física, que Kuhn discute, é um resultado da Revolução Científica, tal como tinha
sido, por exemplo, a revolução darwinista. Wootton distingue a Revolução Científica,
de mudanças, ainda que significativas, de teorias na ciência. A Revolução
Científica foi profunda e mudou-nos a todos como, noutro plano, a Revolução Francesa,
uma transformação política e social rápida e violenta que veio apregoar a
liberdade e a igualdade, ou, mais próximo do plano da ciência, a Revolução Industrial,
que provocou uma explosão económica, isto é, a passagem, da pobreza para a
riqueza, ainda que mal distribuída. Tratou-se de inventar a ciência, como
noutras revoluções se tratou de inventar a igualdade ou a riqueza.
Ao serviço do seu argumentário, as
citações de Wootton são bem escolhidas, as ilustrações (algumas a cores, em extratexto,
bem escolhidas) elucidativas, as notas e referências, no fim dos capítulos e do
livro, numerosas e informativas. A tradução de Pedro Garcia Rosado é assaz
cuidadosa. Nada melhor do que deixar um parágrafo – escolho o parágrafo final por
ser uma súmula - para dar a saborear só não só estilo mas a mensagem do livro:
“A ciência – o programa de
pesquisa, o método experimental, a interligação da ciência pura e da nova
tecnologia e a linguagem do conhecimento revogável – foi inventada entre 1572 e
1704. Ainda vivemos com as suas consequências e parece provável que os seres
humanos sempre venham a viver assim. Mas nós não vivemos apenas com os
benefícios tecnológicos da ciência: o moderno modo científico de pensar
tornou-se de tal modo parte da nossa cultura que já é difícil pensarmos num mundo
que ficou para trás, e onde as pessoas não falavam de factos, de hipóteses e de
teorias, onde o conhecimento não assentava na evidência e onde a natureza não
tinha leis. A Revolução Científica tornou-se quase invisível por ter sido tão
surpreendentemente triunfante.”
A obra, com primeira edição em
2015, do prelo da editora londrina Allen Lane, veio prestar, através desta
edição em português, um benefício inestimável à cultura nacional, onde a A Temas e Debates prestou um serviço inestimável à cultura
portuguesa, ao publicar este livro, com um preço bastante acessível para o seu elevado
valor. A cultura, em particular, a cultura científica é um bem precioso, e é a
luz que nos pode guiar nesta época trumpiana cuja escuridão nos faz recear. Essa
luz foi acesa há cerca de três séculos. Façam o favor de ler “A Invenção da
Ciência” e digam depois se não se sentem mais iluminados.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
"Classica Digitalia". Novidades editoriais
Informação chegada ao De Rerum Natura.
Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar duas novas publicações, com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume (São Paulo).
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital, em acesso aberto.
Além do usual circuito de distribuição da IUC, a versão impressa das novas publicações encontra-se disponível em todas as lojas Amazon.
NOVIDADES EDITORIAIS
Série “Humanitas Supplementum" [Estudos]
- Christian Werner, Memórias da Guerra de Troia: a performance do passado épico na Odisseia de Homero (Coimbra e São Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume, 2018). 242 p.
- Ana Alexandra Alves de Sousa (coord.): Hipócrates. Juramento; Dos fetos de oito meses; Das mulheres inférteis; Das doenças das jovens; Da superfetação; Da fetotomia. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e Sao Paulo, IUC e Annablume, 2018). 158 p.
Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar duas novas publicações, com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume (São Paulo).
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital, em acesso aberto.
Além do usual circuito de distribuição da IUC, a versão impressa das novas publicações encontra-se disponível em todas as lojas Amazon.
NOVIDADES EDITORIAIS
Série “Humanitas Supplementum" [Estudos]
- Christian Werner, Memórias da Guerra de Troia: a performance do passado épico na Odisseia de Homero (Coimbra e São Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume, 2018). 242 p.
[O enfoque deste livro é a forma como as personagens do poema falam do passado, em particular, de um passado significativo para muitas delas, a Guerra de Troia. Falar do passado em um poema homérico implica algumas noções-chave exploradas neste livro: tradição, memória, fama (kleos) e gêneros de discurso. O principal aspecto ligado a todas essas noções é a performance discursiva do falante que constrói o passado para seu interlocutor: o aqui e agora implicado na performance diminui a distância entre passado e presente de uma forma algo homóloga à própria performance do rapsodo que apresentava os poemas homéricos diante de uma plateia na Grécia Arcaica e Clássica.]Série “Autores Gregos e Latinos" [Textos]
- Ana Alexandra Alves de Sousa (coord.): Hipócrates. Juramento; Dos fetos de oito meses; Das mulheres inférteis; Das doenças das jovens; Da superfetação; Da fetotomia. Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra e Sao Paulo, IUC e Annablume, 2018). 158 p.
[O presente volume contém a tradução, com uma breve introdução, de cinco tratados hipocráticos de temática ginecológica. Acompanham a tradução notas botânicas e médicas, atualizadas, da autoria de especialistas nas respetivas matérias. Os temas dos tratados são os fetos e a infertilidade das mulheres. A propósito daqueles fala-se de partos difíceis e de nados mortos; e sobre a infertilidade referem-se processos para detetar uma gravidez e descrevem-se procedimentos para promover a fecundação e limpar a matriz em caso de aborto.]
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Terapias alternativas: quando as portarias substituem as provas
Artigo de David Marçal e
Carlos Fiolhais saído hoje no Pùblico:
Foi publicada no dia
9 de Fevereiro no Diário da República uma portaria (45/2018) que regula
os requisitos das licenciaturas
em medicina tradicional chinesa. É mais uma peça de uma
avalanche legislativa que começou em 2003 e que ganhou particular dinamismo a
partir de 2013, no governo de Passos Coelho. O que esta legislação faz é
colmatar a falta de provas científicas de eficácia e segurança de várias terapias
alternativas, da homeopatia à medicina tradicional chinesa, substituindo-a por
portarias e decretos-leis. Permite aos terapeutas alternativos pendurarem nas
paredes dos seus consultórios cédulas profissionais passadas pela Administração
Central de Saúde, o que induz o público no erro de pensar que estas têm
fundamentação científica. Mas estão longe de a ter. Tem inteira razão a Ordem
dos Médicos, que publicou um vigoroso protesto.
A medicina
tradicional chinesa assenta numa filosofia pré-científica. Também existe uma
medicina ocidental antiga, que não é científica. Cinco séculos antes de Cristo
o grego Hipócrates defendeu a teoria dos quatro humores corporais: sangue,
fleuma, bílis amarela e bílis negra. Para o romano Galeno, no século II, que
acreditava na teoria de Hipócrates, havia dois tipos de doentes: os curáveis e
os incuráveis. Os curáveis, dizia ele, curava-os a todos, enquanto os incuráveis
morriam todos. Nos séculos XVI e XVII, Hipócrates e Galeno começaram a ser
postos em xeque. Com o surgimento da ciência moderna, baseada na observação,
na experiência e no raciocínio, derrubou-se a ideia de que a validade do
conhecimento assenta na sua antiguidade. No domínio da geografia, apurou-se,
logo no século XV, que muito do conhecimento clássico estava pura e
simplesmente errado. Para Aristóteles as regiões equatoriais eram demasiado
quentes para serem habitáveis, mas as viagens dos portugueses, que passaram o
equador em 1475, mostraram que Aristóteles estava equivocado (já agora,
Aristóteles também não acertou no número de dentes da mulher, decerto porque
nunca pediu à sua para abrir a boca!). Galileu escreveu, em 1615, que tinha
descoberto, com o seu telescópio, factos inteiramente contrários às convicções
dos filósofos e que, por isso, eles deviam mudar de opinião.
Já no século XX foi
ultrapassado o paradigma do médico guru, cujo conhecimento emanava da sua
personalidade e da sua experiência, que não podia ser questionado. A moderna
medicina, baseada nas provas, assenta numa ideia muito simples: deve ser
avaliada a eficácia e a segurança de todos os tratamentos usando métodos
estatísticos seguros. Uma afirmação não é verdadeira porque pessoas muito
importantes a defendem ou porque está escrita em livros muito antigos, mas sim
porque é provada. Existe uma hierarquia de provas, em que no nível mais baixo
está a publicação de um caso clínico (que nada prova) e no mais alto as
revisões sistemáticas da literatura médica, que retiram conclusões de todos os
ensaios clínicos bem feitos acerca de um determinado tratamento. É por causa da
medicina baseada na ciência que hoje vivemos mais e melhor.
Os terapeutas
alternativos, quando se vêem confrontados com os maus resultados das suas
práticas, invocam, tal como Galeno, uma aplicabilidade retrospectiva,
restringindo-a aos casos em que aparentemente resultaram. Alguns deles,
pretendendo ser mais sofisticados, alegam que também têm provas, socorrendo-se de
uns poucos ensaios clínicos, escolhidos a dedo, por vezes mal feitos, e
ignorando todos os outros. Mas, se estão mesmo convencidos de que é verdade
aquilo que afirmam, aqui fica o desafio: abdiquem de todos os regimes de
excepção e aceitem aprovar os tratamentos alternativos com a mesma exigência
que é necessária para introduzir medicamentos ou tratamentos normais no
mercado. Podem não gostar, mas isso é a medicina científica. O problema é que,
se o aceitassem, seria obviamente o fim das suas terapias alternativas. Pois
como se chama uma medicina alternativa que provou ser segura e eficaz?
Simplesmente medicina.
A
recente portaria das licenciaturas em medicina tradicional chinesa usa uma
linguagem pré-científica que não corresponde ao entendimento actual dos seres
vivos. Fala de coisas misteriosas como yin e yang, qi, ramificações jing
lu, síndromes dos zang fu, nas quatro camadas e nos três aquecedores.
Por redução ao absurdo poderíamos dizer que essas coisas existem porque constam
da portaria
45/2018. Ora isto não faz qualquer sentido: é a ciência que deve
informar o poder político e não o contrário.
David Marçal e Carlos Fiolhais
Il(e)iteracia científica: um caso de estudo
Artigo recebido da jornalista Vera Novais (Observador):
Sabia os riscos que corria quando decidi escrever sobre os impactos que o consumo de leite tinha na saúde. E rapidamente decidi que não iria falar nem com aqueles que são contra o consumo de leite, nem com os profissionais que dependem da venda deste produto. Assumi, e assumo, que neste caso (como em outros) não tinha de ouvir dois lados da questão, tinha de ouvir apenas um: o lado da Ciência. Esta foi uma das críticas que recebi: parcialidade. Mas não foi a única.
Escolhi profissionais ligados à saúde ou à academia, sem qualquer relação com a indústria do leite e que, à partida, me dariam respostas isentas e baseadas nos conhecimentos científicos mais atuais. Continuo confiante de que assim o fizeram. Escolhendo como fontes estes profissionais de áreas distintas, deixei aberta a possibilidade de a informação dada ser divergente ou mesmo contraditória. Mas isso não aconteceu. O que me deixa também um pouco mais segura em relação ao trabalho que produzi.
Para não ficar só com a informação dada pelas minhas fontes, tentei procurar fontes alternativas, mas confesso que tive alguma dificuldade em separar o que era realmente credível do que aparentava ser. Walter Willet, por exemplo, foi um nome recorrente nas minhas pesquisas, mas as suas declarações não eram, no entanto, compatíveis com a informação que tinha recolhido junto das minhas fontes. Quem estaria errado (se é que alguém o estava): as minhas fontes ou o professor e investigador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard? O peso da instituição ecoava na minha cabeça, ao mesmo tempo que a minha campainha de alerta-contra-figuras-de-autoridade disparava.
As declarações proferidas pelo professor, que o site da faculdade classifica como “o nutricionista mais citado internacionalmente”, pareciam-me extremadas e as conclusões, tiradas dos artigos científicos, parciais. Mas o que sei eu? Ele é professor em Harvard. Não conseguindo garantir que não havia aqui algum enviesamento por parte deste investigador, fiquei-me pelas conclusões dos artigos de revisão e meta-análises que consultei. Outra das condições que assumi quando decidi escrever o texto era que me ia focar no impacto na saúde. Nada digo sobre os impactos ambientais da produção de leite ou sobre o bem estar animal que leva muitas pessoas a optar por não beber leite. Não que o tema não me interesse, apenas não era o meu foco. Não queria escrever sobre as questões que levam uma pessoa a deixar de beber leite — porque uma pessoa pode e deve fazê-lo se assim o entender —, mas sobre as alegações de saúde que são feitas para incentivar ou demonizar o consumo de leite.
Querer conclusões definitivas e não as incertezas da Ciência
Um texto que mexe com ódios e paixões acaba por também fazer mexer os dedos e não tardou a que os comentários começassem a chegar. Sobre quem argumenta que não bebe leite por questões ambientais ou éticas nada tenho a dizer, porque a decisão de cada um só a si pertence. Lembro, apenas, que esse não era o foco do artigo. Mas outros comentários demonstraram que ainda há conceitos de Ciência que não estão bem presentes na cabeça das pessoas. A começar pelos fatores que tornam algumas conclusões mais robustas do que outras.
Li todos os comentários (que já ultrapassaram uma centena e meia). Alguns mereceram um sorriso, outros um encolher de os ombros, mas pelo menos um deles deixou-me de olhos postos no ecrã, incrédula sobre o que estava a ler. Aí nasceu a necessidade de escrever este texto. O leitor criticava ferozmente o facto de eu ter escolhido médicos e nutricionistas no papel de especialistas de alimentação e saúde, mas não era o primeiro a dizer a tratar as minhas fontes como “supostos especialistas”. O que mais me marcou foi a interrogação do comentador: como é que eu podia informar os leitores corretamente se me limitava a dizer para que situações havia evidência científica ou não.
Aceito que “evidência” pode não ser a melhor tradução para “evidence”, em inglês, mas certamente que “prova” não será uma melhor tradução no contexto de resultados científicos. Fiquei sem saber exatamente como é que o leitor queria que fosse apresentada uma informação correta se esta não fosse baseada nas evidências científicas. Mas fiquei com uma pista. O leitor fazia referência a Harvard — talvez uma alusão à universidade de Walter Willet —, o sítio onde se apresentam conclusões, não evidências.
Faz-me pensar que as pessoas não lidam bem com as incertezas da ciência e com a evolução dos conhecimentos científicos. Querem afirmações definitivas. Mas, curiosamente, também acham que o jornalismo só é bom jornalismo quando ouve as duas partes — mesmo que essas duas partes sejam ciência versus pseudo-ciência, como alertava um dos leitores. Assumo que em muitos temas pode não haver consenso científico, mas quando se pretende debater resultados científicos não faz sentido dar voz a quem “acredita” e quem “não acredita”. E alguns dos leitores não acreditam, nem nos resultados científicos, nem nos médicos, nem nos académicos. As minhas fontes e os artigos científicos citados foram menosprezados e minimizados por alguns desses leitores, que depois me sugeriam como leituras e fontes alternativas, ou como prova daquilo que me diziam, documentários tendenciosos, sites duvidosos ou até as alterações do cardápio de uma universidade.
As pessoas não lidam bem com as informações que contradizem as crenças que têm e atacam-nas como podem, incluindo (como não poderia deixar de ser) com teorias da conspiração. A acusação é que os artigos de revisão e meta-análises são pagos pela indústria do leite para manipular a opinião pública.
Alguns dos leitores tinham a lição melhor estudada e citavam referências retiradas do site PubMed, uma base de dados para publicações na área da biomedicina e ciências da vida. Uma base de dados que as minhas fontes também usam. Mas o facto de estar alojado numa plataforma dos Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos não lhe confere validade acima de qualquer dúvida.
Mais, alguns dos exemplos citados também não concluem aquilo que os seus leitores desejavam que concluísse. “Os povos que mais leite bebem são os que mais sofrem de osteoporose” ou “nos países onde o consumo de leite é mais baixo a longevidade é maior”. Ainda que esta associação até possa ser feita ou até possa ser válida (só vendo o estudo para o afirmar com certeza), há que lembrar que associação não é causalidade e que estes trabalhos não provam que é o consumo (ou não consumo) de leite que tem consequências diretas na saúde. Aliás, alguns dos artigos citados referiam isso mesmo, mas esta é uma parte que os comentadores do meu texto escolheram não referir nas suas argumentações. Outras vezes o argumento foi bem mais simples como: “Deixei de beber leite e sinto-me muito melhor”. Ou “eu, a minha família e amigos”, para aumentar a amostragem. Sim, há pessoas
que são intolerantes ao leite. Não, um exemplo de uma pessoa não serve para todas as pessoas. E sim, todas as pessoas são livres de beber ou não beber leite se assim o entenderem.
Felizmente, nem todos os comentários são maus e há quem veja Ciência, evidências e equilíbrio onde se pretendia que eles existissem. Estes são os leitores que espero que continuem a escrutinar o meu trabalho e que me alertem se alguma vez me virem desviar da rota.
Vera Novais
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