terça-feira, 1 de agosto de 2017

A escola pública de uns e de outros

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Sei que Paulo Rangel é político e comentador mas não consigo situá-lo num partido nem consigo dizer o que comenta. O perfil não me atrai propriamente (os tais pré-conceitos!) mas hoje ao passar os olhos por um artigo que escreveu não pude deixar de o ler até ao fim.

Nesse artigo, intitulado Matrículas, escola pública e a nossa sociedade aristocrática, saído no Público online, explica como a nossa escola pública se tem mantido como "mecanismo reprodutor e amplificador das diferenças sociais" com a conivência de todos, de esquerda e de direita. Ainda que o discurso de uns seja diferente do discurso de outros, os resultados são os mesmos.

Um dos factores (tão tradicional que já pertence à nossa cultura) que tem contribuído para tal, diz ele e eu sublinho, são as estratégias usadas por alguns pais/encarregados de educação para matricularem os seus filhos/educandos em certas escolas consideradas de elite e, mais, para que eles fiquem em certas turmas onde o ensino, por estarem certos alunos e certos professores, é mais isto ou aquilo.

Essas estratégias, de entre as quais se destacam a falsa declaração de morada e a uma palavrinha a alguém da escola, é conhecida de toda a gente, mas como temos tendência para considerar a "coisa pública" como "coisa privada, aceitando que uns tenham mais direitos do que outros, comentamos e deixamos passar ou fazemos o mesmo. 

Por seu lado, algumas escolas (é bom não generalizar a todas), em vez de agirem em função de óbvios padrões de equidade, pugnando, nessa medida, pela moralização do sistema, vão fechando os olhos, fingem que de nada sabem, isto quando não dão um jeitinho.

Afinal, e situando-nos num momento mais recente, no "mercado das escolas" é preciso mostrar resultados e eles não caem do céu: alunos de extractos sociais diferentes oferecem, à partida, garantias diferentes; em turmas homogéneas, dependendo da homogeneidade, avança-se a uma ou a outra velocidade no programa, etc.

Além disso, há aquele direito equívoco de os pais/encarregados de educação escolherem a escola para os seus filhos/educandos, com base, diz-se, no projecto educativo que mais se identifique com a sua ideia de educação. Este direito que nem sequer o pode ser, pelo menos da maneira como tem sido apregoado, acabou por legitimar uma prática é preciso questionar.

Esperemos, por isso, que o debate agora iniciado não caia no esquecimento.

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