Minha crónica no Público de hoje:
À medida que as
férias de Verão se aproximavam fui fazendo um montinho de livros para ler ou
reler nesta altura. Parecem-me bons para a canícula, evitando uma paragem
estival do cérebro. Proponho uma smart season em vez de uma silly
season. A ordem destes oito títulos recentes é a alfabética do apelido
do autor.
-
Almeida, Onésimo T., A Obsessão da Portugalidade, Identidade,
Língua, Saudade e Valores, Quetzal, 2017. Onésimo, professor na Universidade Brown, Estados Unidos,
vê melhor Portugal ao longe do que muita gente cá perto. Este é um repositório
de textos sobre a “portugalidade”. Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos?
O autor tenta introduzir racionalidade num campo minado pela confusão.
-
Brennan, Jason, Contra a Democracia, Gradiva, 2017. Da autoria de um
professor americano de Política e Ética que já ensinou na Universidade de
Brown, mas que agora ensina em Georgetown, este livro defende que nenhum modelo
político deve ser sacralizado. A democracia tem decerto virtudes, mas tem
também defeitos, aqui escalpelizados e está em muitos casos a falhar. A ler
agora que em Portugal se irão realizar eleições, nas quais os partidos
tradicionais vão ter de concorrer em muitos locais com movimentos de cidadãos.
- Harari, Yuval N., Homo Deus.
História Breve do Amanhã, Elsinore, 2017. Este é um dos livros do ano
tanto em Portugal como no mundo. Depois do grande êxito de Sapiens: História
Breve da Humanidade, um irreverente historiador israelita traça a história
do nosso eventual futuro (o seu subtítulo lembra a História do Futuro do
Padre António Vieira). As perspectivas não são brilhantes: podemos estar
condenados a dar o nosso lugar aos robôs que criámos. Para ler e reflectir.
Ainda estamos a tempo de arrepiar caminho?
-
Ordine, Nuccio, A utilidade do inútil, manifesto, Ágora K, 2016. Um professor universitário italiano
defende a utilidade das Humanidades. Num mundo em que a tecnologia está
omnipresente, é bom atentar no valor perene do saber "inútil” legado por
uma pleiade de filósofos e literatos. O autor virá na rentrée a Portugal
no quadro do Mês da Educação e da Ciência da Fundação Francisco Manuel dos
Santos.
-
Perry, Sarah, A Serpente do Essex, Minotauro, 2017. Este
romance é o segundo da autora inglesa, depois do grande êxito que foi o
primeiro. Conta a história de uma naturalista que vai viver para o Essex, a
terra natal da autora, onde se vê confrontada com a suposta aparição nos
pântanos de um animal lendário, do tipo do “Loch Ness”. Céptica, logo quer
investigar o que se passa. E é assim que conhece o padre local, iniciando-se um
encontro de duas personagens muito diferentes que, no entanto... Este livro
integrou a short-list do Prémio do Livro de Ciência da Wellcome de 2017,
que raramente inclui obras de ficção. Ganhou uma outra obra de ficção, o
romance Mend the Living, de Naylis de Kerangal.
-
Real, Miguel, Traços fundamentais da cultura portuguesa, Planeta,
2017. O professor de
Filosofia, escritor e crítico literário é um dos autores que, com Eduardo Lourenço
e Onésimo Almeida, mais tem escrito sobre a cultura nacional. Mas como definir
essa cultura? Com prefácio de José Eduardo Franco, outro grande estudioso da
cultura portuguesa, designadamente na procura das suas obras pioneiras, esta é
uma reflexão que vale a pena ler.
- Rodrigues,
Alexandre Marques, Entropia, Teodolito, 2017. O título é um termo da
termodinâmica, o ramo da física que estuda a energia. É o segundo romance do
autor, um psicólogo brasileiro. A segunda lei da termodinâmica ou lei da entropia
surge na portaria do livro, na sua expressão matemática. Mas o leitor não se
assuste que não tem que saber física nem matemática. Começa aliás com uma quente
cena de sexo.
- Tyson, Neil de
Grasse, Astrofísica para gente com pressa, Gradiva, 2017. O novo título
da colecção “Ciência Aberta” é a mais recente obra de um dos divulgadores
científicos mais conhecidos do mundo, hoje famoso por ser o autor do slogan
anti-trumpiano: “Let us make America smart again.” Com um estilo muito próprio
pontuado por humor, Tyson leva-nos numa viagem às origens do Universo, a maior
e a mais interessante de todas as histórias.
Bom Verão. Boas
leituras!
*versitário (tcarlos@uc.pt)
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