Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras" ( e distribuído com o semanário "Expresso):
“Considero
professores e professoras como a corporação mais necessária, mais esforçada e
generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para satisfazer as exigências
de um Estado Democrático”.
Fernando Savater (Professor catedrático de Ética
do País Basco).
O artigo de opinião (publicado neste Jornal, no
passado dia 8 deste mês) do médico Hernâni Caniço, intitulado “Ordens profissionais,
elitismo ou proximidade”, fez-me recuar ao tempo em que o prestígio profissional
dos professores do então chamado ensino
liceal se identificava com o dos médicos,
quiçá, com leve vantagem de prestígio social destes por lidarem com a doença e
serem a esperança na sua cura.
Anos atrás, esse prestígio foi posto em causa ao
ser tida por Manuela Teixeira, ao tempo presidente da Federação Nacional de
Educação, a criação de uma Ordem dos Professores como o “elitismo de criar um grupo à parte” (“Jornal de
Notícias”, 13/08/1998). Por seu turno, a
Fenprof, pela voz de Paulo Sucena, numa perspectiva maniqueísta, repetida mais
tarde por Mário Nogueira, considerou que os problemas de natureza ética e
deontológica “para serem assumidos pela classe docente não necessitam de
vigilância ou da orientação de uma ordem profissional (“Jornal de Notícias”,
13/08/1998). Ou seja, de um lado os maus
e desonestos profissionais possuidores de ordens profissionais a justificarem a
tutela de seus pares; do outro lado, os bons e honestos e professores à rédea
solta.
Correndo o risco de poder ser tido como
deselegante encontro respaldo em Einstein: “Se vais à frente para descrever a
verdade, deixa a elegância para o alfaiate”. Assim, numa altura que já existem
mais de uma dezena e meia de ordens
profissionais em Portugal, e outras se
perfilam no horizonte, a posição assumida por determinados sindicatos de professores que têm a criação de uma Ordem
dos Professores como desnecessária dá
azo a perguntar, desculpando-se-me o plebeísmo: “Será que para quem é bacalhau basta?”
Não posso deixar de me sentir desiludido com o
passado e com pouca esperança no futuro próximo da criação de uma Ordem dos Professores pela qual me
bati como presidente da Assembleia Geral do Sindicato Nacional dos Professores
Licenciados (SNPL) de que me demiti, por
discordância para com a sua adesão à então chamada “Plataforma de Sindicatos”,
de que foi porta-voz Mário Nogueira da Fenprof.
Em defesa
da criação de uma Ordem dos Professores
escrevi várias dezenas de artigos de opinião em diversos jornais (nomeadamente ,
“Público” e “Correio da Manhã” ), fui
autor do livro “Do Caos à Ordem dos Professores” e do opúsculo, ambos em
edição do SNPL, “Proposta de Estatutos de uma Ordem dos Professores” (de
parceria com Carlos Sarmento e Maria
José Iria) entregue pelo SNPL ao Presidente da Assembleia da República, em 20
de Junho de 1996, e difundida pelas Associações Científicas de Professores, por
instituições de Ensino Superior ligadas à formação de professores, etc.
Em consequência, discordo visceralmente que para o associativismo dos professores seja
bastante debater com o ministério da tutela questões de natureza laboral como vencimentos
auferidos e horários de trabalho. E muito menos que determinados sindicatos de
professores persistam em se transvestir de ordens profissionais porque, colhendo
exemplo em Pessoa, “hoje só me diverte o circo de Domingo de toda a semana da
minha infância”!
(Na imagem: recepção do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa no Conselho Nacional das Ordens Profissionais)
4 comentários:
“Se vais à frente para descrever a verdade, deixa a elegância para o alfaiate”.
A verdade não tem formas nem feitios. Ou é ou não é. Talvez no meio disto, vejamos um buda de pernas cruzadas e dedos ajoelhados em zero a meditar dobragens da coisa em si, à esquerda e à direita, à frente e atrás, em cima e em baixo, consoante o plano dimensional em que a coisa se circunscreve. E aí atinge o tetradimensional, a iluminação, a coisa fora de si, sendo “o fora” a dimensão ética da coisa que não se sabe muito bem o que é ou não é, nem onde fica, impermanecendo o buda elegantemente calado de cabeça pendular a mastigar o que parece ser o deprimido nobre sim da inconsistência e da incongruência. Não me admira que seja a religião do futuro. Cambaleante. Niilista. Com um buraco negro no umbigo do ego que não foi capaz de substituir, tentando tapá-lo com todos os exteriores possíveis e imaginários, a fazer petições pela natureza e pelos animais. Já que os outros não têm remédio.
Voltando ao não, à ética, ao plano, ao pano de fundo do alfaiate garboso mas desastrado que corta formas superiores de asas em tule que depois não cabem nos corpos alambazados e rústicos dos seus clientes... A ética é um problema de alta costura. Não serve para vestir o zé. Elegantemente bizarra, cheia de atavios dogmáticos e corpetes asfixiantes que espremem os olhos para cima, é deitada pelo zé, no lixo, à nascença, por onde pululam uns inquisidores e juízes de barba longa mais esboçados do que reais, que rebuscam no contentor um sentido de talhe, um alinhavo perfeito, um corte aprumado de verdadeira densidade ontológica, axiológica, que depois guardam na redoma inorgânica para exposição em calhamaços que ninguém lê.
Simples, de uma simplicidade quase chocante a ética é RESPEITO. O conceito mais difícil de tornar real. Utópico. Não há escola que o implemente porque simplesmente ele não existe enquanto matéria verificável e trabalhável.
“Será que para quem é bacalhau basta?” Sim. O circo aplaude.
Talvez por criticar o plebeísmo da minha expressão - “Será que para quem é bacalhau basta?”- foi-me servida por si em rica baixela de prata, uma lauta refeição em linguagem esotérica (que os filósofos antigos utilizavam para os seus alunos mais adiantados) que, por confessada ignorância minha, me fica curta nas mangas e comprida nas calças, para utilizar linguagem de alfaiate, não podendo,”ipso facto”, deixar de me merecer a crítica de George Lichtenberg: “Se queres provar-nos que és competente em agricultura, não o faças semeando urtigas”.
Ou será que a Ética só funciona num determinado sentido? Sendo respeito para si (urtigas) e desrespeito para mim? (bacalhau)!
“E prontos, como dizem os jovens letrados” (Clara Ferreira Alves) mas que eu fui ensinado a dizer pronto, peço-lhe que reverta, sem malabarismos circenses, o seu comentário para uma linguagem entendível, quer defendamos quer estejamos contra a criação de uma Ordem dos Professores.
Caro Professor,
rendo-me, em vénia, perante tão singular “elogio”. Repartamos, então, a refeição e a baixela e alinhemos o fato pelo normativo tamanho.
Centremos:
“As Ordens Profissionais são associações profissionais de direito público e de reconhecida autonomia pela Constituição da República Portuguesa, criadas com o objetivo de promover a autorregulação e a descentralização administrativa, com respeito pelos princípios da harmonização e da transparência.”
Lista das Ordens Profissionais existentes em Portugal (Universia):
Câmara dos Solicitadores
Câmara dos Despachantes Oficiais
Ordem dos Advogados
Ordem dos Arquitetos
Ordem dos Engenheiros
Ordem dos Enfermeiros
Ordem dos Farmacêuticos
Ordem dos Médicos
Ordem dos Médicos Veterinários
Ordem dos Biólogos
Ordem dos Médicos Dentistas
Ordem dos Economistas
Ordem dos Notários
Ordem dos Nutricionistas
Ordem dos Psicólogos
Ordem dos Revisores Oficiais de Contas
Enquadramento de algumas funções:
• Atribuição do título profissional e regulação do exercício da profissão;
• Defesa dos interesses, direitos e prerrogativas dos profissionais e proteção do respetivo título e profissão;
• Defesa da função social, dignidade e prestígio da profissão e valorização da respetiva qualificação profissional;
• Fomento do desenvolvimento do ensino;
• Promoção da cooperação e solidariedade entre profissionais;
• Regulação/poder da ação disciplinar dos profissionais?
Benefícios possíveis:
• Ações de formação gratuitas, palestras, conferências;
• Seguros profissionais;
• Protocolos de cooperação;
• Documentação legislativa sempre atualizada;
• Apoio jurídico;
• Descontos em vários serviços;
(...)
Claro que concordo, com os devidos contorcionismos e adequações esotéricas.
Espreite.
http://www.dulcerodrigues.info/plantas/pt/ortiga_pt.html
FC
Agradecendo sinceramente os comentários de FC, informo estar a preparar um post/resposta intitulado: "Ainda (e sempre) a Ordem dos Professores".
Gostaria que ele fosse ponto de partida para uma discussão sobre esta temática, através de comentários, apropriando-me do título de um programa da RTP 1, “Prós & Contras”
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