sexta-feira, 2 de junho de 2017
METRO MONDEGO: O TSUNAMI DAS POLÍTICAS PS E PSD
Hoje é o dia em que um ministro do PS, Pedro Marques,vem acrescentar mais um remendo a um processo que tem mais de 25 anos e que está pior do que quando começou: o Metro Mondego. Foi um quarto de século de disparates, com o governo central à frente, com a cumplicidade da CP e da REFER, e com os municípios de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã no comboio dos disparates. O disparate maior aconteceu logo no início, atrelando-se todos uns aos outros, só porque o comboio da Lousã parava numa ponta da cidade de Coimbra e não podia atravessar a cidade para ir para Coimbra B. Está tudo explicado na Wikipedia, com uma boa tradução em alemão para que a Europa saiba:
"A razão inicial para a construção de uma linha de metro de superfície entre Coimbra e Serpins não foi a necessidade de melhorar a rede de transportes urbanos de Coimbra, mas sim resolver a situação de ter um ramal ferroviário isolado da rede ferroviária nacional. Com efeito, por razões de segurança o serviço no Ramal da Lousã nos últimos trinta anos terminava em Coimbra Parque, a 800m da estação Coimbra A, que por sua vez tem ligação a Coimbra B, na Linha do Norte."
É claro: a linha chamada Metro Mondego que normalmente serve uma zona urbana era feita apenas por causa de um serviço ferroviário rural, zona rural onde nem sequer passava o rio Mondego. Claro que as populações de Lousã e Miranda do Corvo tinham direito ao acesso a Coimbra. E tinham-no por um comboio, tal como existe comboio de Coimbra para a Figueira da Foz ou para a Pampilhosa,
comboio esse que podia ser melhorado com pouco custo. Mas, em troca de um hipotético "metro", que foi oferecido como miragem, o comboio foi-lhes retirado. Os carris foram vendidos aos sucateiros. Em Coimbra destruíram por causa do metro o centro histórico da cidade, tornando a paisagem parecida com a Síria. E não havia nenhuma solução viável em carteira. De resto, não podia haver pois não faz sentido estrutural a mobilidade de uma cidade por causa de uma linha rural. O Metro Mondego seria quando muito para a Figueira da Foz. Nunca percebi por que é que o Metro Mondego não ia até à Figueira...
Quer dizer: as populações foram completamente enganadas pelos políticos nacionais e locais. Já houve muitos casos de incompetência na política em Portugal, mas nenhum tão grande como este. Não foi um só presidente da Câmara: foram vários nos três lados. Não foi só um governo nacional: foram os sucessivos governos. Mas há uma constante: foram sempre os políticos do PS e do PSD. Entre os responsáveis nacionais encontramos, por exemplo, José Sócrates, Mário Lino, Miguel Relvas e Miguel Maduro. Foi um "fartar vilanagem" de má política, de má gestão, de dinheiro gasto sem destino, de estudos e mais estudos de gente que não sabe fazer um estudo.
Passado um quarto de século, vem o ministro do PS apresentar uma solução desatinada, com autocarros em vez de comboios. É uma solução que envergonha o governo que a propõe, assim como os partidos que o apoiam. Dizem que o modelo é uma pequena aldeia piscatória no Japão, de 50 000 habitantes, que ninguém conhece. Mas há uma diferença: aí uma linha de comboio foi destruída por um tsunami, em Portugal houve um tsunami político , um vendaval de incompetência no serviço público por gente, muitas vezes sem escrúpulos, que só queria saber de si. Parece que foram gastos mais de cem milhões de euros, principalmente em estudos. E agora, com um novo estudo às três pancadas, um estudo de poucos meses, querem gastar mais outros cem milhões de euros numa solução que não é solução nenhuma, pois já existem autocarros entre a Lousã e Coimbra e a população pura e simplesmente não os quer. E já existem autocarros em Coimbra e também não servem as necessidades da população: Coimbra precisa de um serviço decente para a cidade toda e não apenas a ligações entre dois ou três lados. A anunciada mini-frota de autocarros não vai funcionar, conforme alertam os especialistas: entre a Lousã e Coimbra numa linha difícil não podem passar ao mesmo tempo dois autocarros, terão de esperar um pelo outro nas estações. Receio que haja acidentes, pois não há no mundo desse tipo para autocarros, mas sim para comboios, que têm sistemas de sinalização próprios. Em Coimbra também é óbvio que não passam, sem túnel, dois autocarros e carros ao mesmo tempo por exemplo no Largo de Celas, que é a porta de entrada do Hospital Universitário.
Era preciso um estudo, mas se calhar não um estudo de engenharia (competência que nesta área terá de ser procurada fora do país, há na Europa soluções bem planeadas e testadas em cidades como Coimbra), mas sim uma investigação policial, Tudo leva a crer que houve crimes de gestão danosa. Por que não se chama a polícia?
Há, além do mais, aqui um problema político de fundo: Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra têm sido tratadas com total desprezo pelo governo do país, o actual depois de todos os outros. Jorram milhões para o metro do Porto (porventura outro caso de polícia) e de Lisboa (o CDS quer mais, muito mais, quer hipotecar o país todo com mais duas dezenas de estações em Lisboa). No Centro os políticos não têm, qualquer capacidade pois estão subordinados às sedes nacionais do partido. Para chamar as pessoas pelos nomes, Manuel Machado é o candidato do Largo do Rato e Jaime Ramos é o candidato da S. Caetano à Lapa à Câmara de Coimbra. Tanto Machado como Ramos estão directamente envolvidos no caso do Metro Mondego dadas as suas ligações partidárias e as suas longas carreiras políticas: são ambos dinossauros do tempo que viu nascer e crescer a tragédia do Metro Mondego. É o vergonhoso que os dois partidos não ofereçam melhor.
Vai haver eleições a 1 de Outubro. Quem escolher mais dos mesmos, arrisca-se a ter mais dos mesmos.
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