A razão, nunca no sentido da infalibilidade do pensamento, que declara certezas definitivas, as quais conduzem à imposição de dogmas, mas no sentido do uso metódico do pensamento na procura de verdades, sabendo-se que aquelas que se conseguirem alcançar serão, com grande probabilidade, mais dia menos dia, revistas.
Verdades que, mesmo assim - no campo da ciência, repito - têm um poder de explicação e de intervenção que a crença não tem.
Acreditou-se que isso pudesse ser assim nos campos da medicina e da educação, onde, ainda que de modo diferente, está implicado o valor da vida humana.
Foi, efectivamente, uma questão de crença: vemo-lo, com grande clareza, pelo menos desde meados do século passado mas, arrisco afirmá-lo, só neste século damos conta das suas reais dimensões, primeiro na educação escolar, depois na medicina.
Uma sala de aula das Escolas Vittra (aqui) |
Faço esta afirmações com base em dados científicos de que dispomos e que, até serem desmentidos, devem ser tidos por credíveis.
Porém, a "inovação curricular" que está ser legitimada e implementada por vários países dispersos pelo mundo é de sentido contrário, assenta em muito na crença que é contrária ao que acima referi. O espaço - interior ou exterior - sem professor, no qual os alunos, podem descobrir o seu próprio conhecimento e criar livremente é, pelo seu elogio e sofisticação que lhe está agregado, difícil de consciencializar e superar.
O mesmo acontece na medicina: procedimentos que se têm por seguros na melhoria da vida de cada pessoa e das populações, poupando-as a doenças e à morte antecipada, e que, por isso, se reconhecem como fazendo parte do progresso civilizacional, passaram a ser equiparados a outros que não encontram mais sustentação do que declarações por parte de quem nunca seguiu, ou abandonou, o modo de pensar científico.
Numa era em que a ciência deixou de se distinguir da pseudo-ciência, esgrimem-se argumentos da mesma ordem, que se encontram plasmados em artigos científicos - com e sem aspas - que foram revistos por peritos - com e sem aspas - e publicados em revistas científicas - com e sem aspas.
Tudo está ao mesmo nível, tudo se equivale: o que se declara num sentido e no sentido contrário; o que tem um efeito e o efeito contrário.
Finalmente, tudo se vai reconhecendo em letra de lei. E quando isto acontece devemos ficar muito incomodados pois, afinal, estamos a normatizar o que concorre para pôr em causa o conhecimento e, com ele, o valor da vida.
4 comentários:
LIVE: March for science takes place in Washington DC
https://www.youtube.com/watch?v=_XdOm4MiuYE
A INQUISIÇÃO DO SÉC: XXI - o activismo da ciência cientificista
Os palermas de serviço em Portugal também já aderiram ao movimento internacional. Agora vamos lá pensar, este tipo de movimentos e as reivindicações que acabo de ouvir tem a impressão digital 100% certificada das organizações de George Soros, o globalismo transpira por todo o lado, já vi isto antes, muitas vezes.
Como é que pessoas supostamente inteligentes, como os cientistas deveriam ser, podem cair numa patranha destas, apoiando este movimento???
A ruptura de paradigma está prestes a ocorrer, e não irá ocorrer sem um grande BANG!
Até a ciência e a tecnologia deixarem de estar suprimidas nos balcões de registo de patentes, por critérios e serviços governamentais cuja a supervisão é tudo menos democrática ou cidadã, jamais poderemos ter este tipo de confiança e abertura para com a Ciência. E jamais deixaremos de estar sujeitos às crenças que manipulam a Ciência no sentido de criar uma tecnocracia tenebrosa e desumana. Uma nova religião baseada na distorção de factos científicos endeusados é tudo o que podemos conseguir. Sérios riscos pairam sobre as nossas cabeças, ainda assim, prefiro romar a Fátima, do que a qualquer laboratório para ser cobaia de um qualquer mandato tecnocrático!
(ironia) Gritem, gritem, façam-lhe a vontade!
Carlos Moedas insta cientistas a gritarem pela ciência e a manifestarem-se
https://www.dinheirovivo.pt/economia/carlos-moedas-insta-cientistas-a-gritarem-pela-ciencia-e-a-manifestarem-se/
Este tempo de pós-verdades é um tempo de suspeita baseada na ignorância da verdade. É um tempo de crise de confiança nos referenciais de autoridade, tradicionalmente propostos pelos poderes institucionalizados, como garantes impolutos da verdade do "ser", do "dever-ser", do "poder-ser" e do "querer-ser".
Para acreditar é preciso querer, mais do que crer. Hoje, temos muita dificuldade em acreditar, por exemplo, que uma pasta de dentes produz o efeito que proclama ter. Não vejo mal nesta atitude de retranca, porque, afinal, é a mais adequada, do ponto de vista crítico e científico.
E como as verdades parecem inacessíveis a todos (quanto mais alguém se arroga de uma verdade, mais suspeito é, sobretudo se for interessado nela), é de bom senso não acreditar sem provas seguras e, sobretudo, não acreditar naquilo que não nos interessa.
Ora, então, cá está: o interesse como critério de verdade. Mas isto é tão velho como a tal profissão mais antiga.
Enviar um comentário