sexta-feira, 7 de abril de 2017

INDÚSTRIA 4.0: EFEITOS NA EDUCAÇÃO

Fala-se hoje muito de “Indústria 4.0” ou da “Quarta Revolução Industrial”. O conceito, bastante recente, pretende designar a indústria do futuro. Ora, como toda a gente sabe, o futuro já começou. Se a Primeira Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, consistiu no aproveitamento da força motriz da água aquecida para libertar o homem e os animais dos trabalhos mais pesados, a Segunda Revolução Industrial, já o século XIX ia adiantado, consistiu na mudança das máquinas a vapor para máquinas eléctricas. A meio do século XX, a Terceira Revolução Industrial apareceu com o desenvolvimento da electrónica, tornada possível pela invenção do transístor no pós-guerra. Ora a  Quarta Revolução Industrial, que está já em curso, consiste não apenas no uso dos autómatos, máquinas electrónicas que hoje são correntes nas fábricas, mas também na combinação de uma série de tecnologias bem estabelecidas, como as redes de comunicação que ligam hoje praticamente todos os computadores, ou em vias de estabelecimento, como a chamada “Internet das Coisas” (baseada em sensores ubíquos), a “computação em nuvem” (isto é, feita por máquinas situadas algures mas coligadas), a impressão tridimensional (que permite criar rapidamente objectos à medida), os algoritmos de “big data”, a inteligência artificial, etc. Embora ninguém saiba ainda muito bem o que virá a ser a “Indústria 4.0”, pois está tudo no início, o termo refere-se aos tipos de manufactura cada vez mais inteligente que vão decerto aparecer no futuro.

Foi no quadro da indústria alemã, onde a robotização é muito visível (basta olhar para uma moderna linha de montagem de automóveis), que surgiu o termo “Indústria 4.0”, tendo em 2012 sido criado pelo governo federal um grupo de trabalho para fazer um exercício de prospectiva. Concluíram que os processos de manufacturação irão funcionar através de  sistemas complexos de máquinas, instalações, produtos e logística, onde não poderão deixar de estar presentes o pensamento e a mão humanas. Os desafios são múltiplos e temos, desde já, de nos interrogar sobre o papel que fica para os humanos, em particular sobre os perfis profissionais previsíveis  as novas necessidades de formação.

Parece claro que, na senda das revoluções industriais anteriores, a intervenção humana nas fábricas passará a ser cada vez mais de criação e não de execução. Tal significa que alguns empregos que hoje existem vão deixar de existir: não é novidade, uma vez que temos assistido tanto na indústria como nos serviços a processos de substituição do homem em tudo o que sejam tarefas repetidas. Uma máquina faz melhor apertar da mesma maneira repetidas porcas do que um operário do tipo de Charlot em “Tempos Difíceis”, mas a robotização coloca questões sociais importantes, às quais a economia e a política têm de responder. Mas tal também significa que cada vez vai ser necessário usar a criatividade humana a um nível superior, o que significa que cada vez mais ser necessária uma preparação superior. Também aqui não é nada de absolutamente novo: a sociedade tem cada vez mais percebido o valor do ensino superior, seja ele universitário ou politécnico. Não admira que, na formação básica e secundária, se tenha caminhado no sentido de proporcionar um cada vez melhor e mais amplo acesso ao ensino superior.

Não podendo nós adivinhar o futuro, podemos porém indicar tendências. E parece provável que, numa sociedade onde a indústria funciona em rede, a escola, seja a básica e secundária  seja a superior, deve preparar para um funcionamento em rede. Numa sociedade onde há mudanças rápidas há que preparar para a mudança. A informação já está e estará cada vez mais acessível em todo o lado e há que saber não apenas recolhê-la, mas sobretudo interpretá-la e, a seguir, saber tomar as melhores decisões. Tudo isto em equipa. Como devem as escolas, os professores, os currículos adaptar-se às novas exigências são questões em aberto. Nessa reflexão, convém não esquecer o essencial. É preciso cima de tudo assegurar que o mundo permaneça humano, o que quer dizer que a sociedade não deverá nunca ver as tecnologias como um fim mas sim como um meio.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gulag 2.0, isso sim é a Indústria 4.0

marina disse...

a indústria 4 -0 não tem implicações na educação , o homem é sempre igual . Só de o ler fiquei com a cabeça à roda , de tanta mudança.. Suponho é que terá de haver um curso de formação na escola a ensinar a trabalhar com impressoras 3D ... A primeira coisa a imprimir é um robot que faça a faxina :) A indústria 4-0 com as impressoras 3D tem a vida muito difícil , de aí os da robótica terem "perdido" o interesse nelas :)

Guilherme Santos disse...

Oi Carlos, muito interessante seu artigo!

Gostaria de aproveitar para citar também outra fonte sobre o tema Indústria 4.0 para quem tiver interesse:

https://www.automacaoindustrial.info/industria-4-0/

Espero que seja de ajuda!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...