sábado, 29 de abril de 2017

Nas escolas do futuro não se vêem professores.

"A educação dos nossos filhos deve ser uma componente importante
do seu desenvolvimento (...). Há escolas que romperam com o
ensino tradicional e exploraram também a alteração do design dos
espaços educativos (...) mostramos alguns exemplos de como podem 
vir a ser as escolas do século XXI; amplas, arejadas e luminosas… 
com muito espaço para que os jovens estudantes 
expressem as suas emoções e estimulem o seu desejo de aprender."
Frase retirada daqui.

A história e a sociologia da educação, evidenciam uma tensão que, pelo menos desde a Antiguidade, se tem feito sentir, ininterruptamente, sobre a escola. Essa tensão pode ser traduzida do seguinte modo:

ela é, por um lado, afirmada como uma via - ou, mesmo como a via - de acesso ao conhecimento erudito, esse que permite o pensamento esclarecido, livre e responsável 
e,
por outro lado, como um instrumento doutrinal, ao serviço de forças de poder, especialmente de ordem religiosa e política.

Com a progressiva expansão da escolaridade obrigatória (ainda bem que assim é), assumida pelos Estados (também ainda bem que assim é), criou-se uma nova realidade que, sendo inequivocamente positiva (pelo que não podemos voltar atrás), tem tido um reverso pouco destacado e ainda menos discutido. Vejamos.

Uma boa parte da população mundial (alunos, suas famílias e também comunidades de pertença) passou a estar ligada à escola, tornando-se esta particularmente apetecível a quem interesse, para proveito próprio, mudar mentalidades. Por isso, o poder para decidir os seus desígnios tem sido reivindicado por diversas forças de pressão alheias ao intento educativo, forças que, actuando de forma dissimulada mas eficaz, têm colhido aceitação social e sido legitimadas pelo poder político.

Os grande ideólogos da educação são agora economistas, arquitectos, designers, tecnólogos... directa ou indirectamente ligados a empresas. Fazem previsões do retorno financeiro deste ou daquele currículo e corrigem os que daí se desviam, concebem os espaços e o mobiliário, determinam os equipamentos necessários e os conteúdos que neles serão integrados... Tudo isto em função de critérios "centrados nos alunos", como a agradabilidade, o conforto, a colaboração, o interesse, a possibilidade de descobrir e de criar... A auto e hetero-aprendizagem é, obviamente, lúdica e divertida.

Estes especialistas emergentes, com ou sem conhecimentos de educação, impõem, por delicadas palavras, uma ideia de escola que, se seguida "à risca", salvará todas as crianças e, com elas, a humanidade! 

Mas há uma condição: que o professor esteja afastado! A boa escola é aquela em que o professor não esteja! Veja-se a imagem acima, retirada de um artigo muito sintomaticamente intitulado "Assim têm de ser as escolas do século XXI". 

Neste e noutros artigos que tenho lido, bem como em prospectos online que tenho visto a anunciar "escolas maravilhosas" que emergem por esse mundo fora, a sua ausência é recorrente e, certamente, intencional.

Aceitamos confiar as crianças e os jovens uns aos outros, esperando que os espaços e equipamentos sofisticados operem o milagre da aprendizagem. 
Esperamos demais, penso eu, esperamos o impossível. Até porque no "postal ilustrado", que remete para um campo aberto, amplo, asséptico, luminoso, vislumbram-se poderes que serão mais eficazes sem a presença do professor, sobretudo se ele for um intelectual crítico, como deve. O leitor perceberá o que digo se olhar com atenção para esta segunda imagem.

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