segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Os cigarros electrónicos são inócuos como iogurtes?


O meu artigo mais recente no PÚBLICO:



Foi aprovado em Conselho de Ministros na passada quinta-feira um projecto de lei que altera a Lei do Tabaco, que passa a incluir no conceito de fumar os novos produtos de tabaco sem combustão, A intenção já era conhecida e a deputada Isabel Moreira tinha reagido antecipadamente, afirmando que isso seria “a mesma coisa que equiparar cigarros a iogurtes”. 

Para além da nicotina, os líquidos dos cigarros electrónicos contêm substâncias relativamente inofensivas. Mas estas são aquecidas e podem ocorrer reacções químicas. Será que os produtos dessas reacções, aquilo que realmente é inalado, podem ser problemáticos? Num estudo publicado em 2014, investigadores procuraram agentes cancerígenos e tóxicos no vapor de cigarros electrónicos de 12 marcas. E detectaram vários, como formaldeído, tolueno ou acetaldeído. Mas em quantidades muito menores do que as que há no fumo de cigarros convencionais. O formaldeído está presente numa quantidade nove vezes mais baixa. E há 450 vezes menos acetaldeído no vapor de um cigarro electrónico. Mas nem tudo são boas notícias. Uma outra investigação de 2015 encontrou partículas muito pequenas de cobre, numa concentração seis vezes superior à do fumo de tabaco. Foram detectadas também espécies reactivas de oxigénio (radicais livres), associados à carcinogénese, em quantidades semelhantes às dos cigarros convencionais.



Quanto à nicotina, apesar de ser extremamente viciante, considera-se que na maior parte dos casos não causa problemas significativos de saúde em adultos. Mas não é inofensiva. Um relatório de 2014 do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças norte americano concluiu que a exposição durante a gravidez afecta negativamente o desenvolvimento cerebral do feto, aumenta o número de partos prematuros e de nados-mortos. Durante a adolescência também tem consequências negativas no desenvolvimento do cérebro.
Os cigarros electrónicos parecem bem menos tóxicos, mas estão muito longe de serem inócuos. E isso vale também para os “vapeadores” passivos. Uma investigação de 2014 concluiu que estes estão expostos a componentes prejudiciais do vapor em segunda mão, tais como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (cancerígenos) e metais, dispersos em partículas muito finas que se podem depositar nos pulmões. Os investigadores alertam em particular para riscos de toxicidade do “vapeamento" passivo em crianças.


Todos os meus textos publicados na mesma rubrica: http://www.publico.pt/a-serio

1 comentário:

Laura disse...

Electronic cigarettes_A report commissioned by Public Health England 2014
https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/311887/Ecigarettes_report.pdf

"Potential hazards of electronic cigarettes relate primarily to the purity of nicotine emissions, and the effects of long-term exposure to vapour. Evidence on these is summarised in section 2.3 above, but relate primarily to the effects of substances other than nicotine in the vapour. Overall however the hazards associated with use of products currently on the market is likely to be extremely low, and certainly much lower than smoking. They could be reduced further still by applying appropriate product standards.
Electronic cigarettes do not produce smoke so the well-documented effects of passive exposure of others to cigarette smoke[9, 10] are clearly not relevant. Exposure of nonsmokers to electronic cigarette vapour poses a concern, though laboratory work suggests that electronic cigarette use in an enclosed space exposes others to nicotine at levels about one tenth generated by a cigarette, but little else[78]. The health risks of passive exposure to electronic cigarette vapour are therefore likely to be extremely low."

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