As denominadas «medidas de promoção do
sucesso escolar», habitualmente propostas nos 2º e 3º ciclos do ensino básico,
continuam a ser identificadas sobretudo com a remediação do insucesso já
instalado. De facto, o apoio ao estudo, a discriminação de grupos de
homogeneidade relativa (no máximo em três disciplinas), o acompanhamento
extraordinário de alunos, a coadjuvação em sala de aula ou a implementação de
tutorias, excluído o desenvolvimento da excelência em turmas de elite, não passam
de medidas específicas de recuperação de alunos com dificuldades. Diferenciar com
base na separação temporária por níveis de competência e no atendimento mais
personalizado, com professores motivados, pode ser eficaz no combate ao
insucesso, mas pouco eficiente pela maior mobilização de recursos humanos e
financeiros. Só uma verdadeira mudança na metodologia de ensino/aprendizagem
poderá, significativamente e com economia de meios, promover o êxito dos
discentes e prevenir ou remediar o seu fracasso.
A promoção do sucesso educativo consiste em
acrescentar valor positivo à formação geral dos alunos, tanto na dimensão
académica, como na socializadora. Por um lado, clubes de matemática, de
ciências ou de artes e bibliotecas transformadas em centros de saber contribuem
decisivamente para a melhoria da aprendizagem, e, por outro lado, clubes
cívicos favorecem o cultivo de atitudes e valores, que induzem um comportamento
social responsável, fator de integração na vida coletiva.
Como mais vale prevenir que remediar, o relevante
é evitar a emergência do insucesso escolar. Cabe a cada professor na sua
própria disciplina transmitir o conteúdo curricular associado ao método que capacite
os alunos para estudar, após a aula, de modo autónomo e proficiente, com
sentido crítico e criativo. Significa o ensino integrado do objeto e do
processo do estudo, extensível ao desenvolvimento da excelência. Pertence aos
pais (com o conselho do diretor da turma) a supervisão do espaço e do tempo de
estudo. Competem aos serviços especializados os problemas psicológicos e
sociais. Previne-se o insucesso sem esperar que ocorra para o combater.
No entanto, há sempre casos residuais de
insucesso, não só transitados do ano letivo anterior, como revelados ao longo
do corrente. O professor é o agente privilegiado para identificar as causas do
baixo desempenho dos seus alunos e prescrever as medidas de remediação
adequadas. Assim, para reduzir esse estado negativo, além de adotar programas
aceleradores da aprendizagem, poderá ter de solicitar quer a intervenção do
diretor da turma para obter o envolvimento parental, quer a colaboração da
psicologia ou do serviço social intra ou extramuros. Como especialista na sua
área capaz de controlar todo o processo de ensino/aprendizagem, deve assumir a responsabilidade de recuperar os
seus alunos, no seio da própria turma, sem recurso a outros agentes educativos,
nem sobrecarga horária. As turmas incluem, claro, alunos com diferentes
características, ritmos de aprendizagem e níveis de desempenho. Importa que os
professores facultem, a qualquer momento e de modo diferenciado, aos alunos
mais atrasados blocos concisos de informações sistematizadas (dos anos
anteriores) necessárias para compreender a matéria, isto é, sem as quais eles não
conseguem progredir. Trata-se de construir conhecimentos consistentes, de forma
rápida, com o reforço de prática intensiva. Também com função reparadora do
insucesso a uma língua estrangeira pode utilizar-se, ao ritmo individual, um
programa complementar de aprendizagem por «impregnação» com tecnologias de
apoio.
Nunca é de mais insistir na importância da
formação num modelo pedagógico integrado, que responda às necessidades dos alunos
sem o risco de estigmatizar e envolva os professores de todas as disciplinas.
Nuno Pereira (psiquiatra)
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