Artigo de Carlos Fiolhais e Pedro Pombo (Comissão Nacional do 2015 Ano
Internacional da Luz) que está a sair naGazeta de Física especial dedicada à luz (na imagem, espectáculo de luz no Pavilhão do Conhecimento, integrado na Conferência Light: From the Earth to the Stars):
O Ano Internacional da Luz (AIL2015) foi anunciado em Portugal em Setembro de 2014 na Conferência Nacional de Física realizada no Instituto Superior Técnico, que contou com a presença do Comissário internacional e Presidente da Sociedade Europeia de Física, John Dudley. Após ter sido criada uma Comissão Nacional que reúne representantes das Sociedades Portuguesas de Física, de Química e de Óptica, da Ordem dos Biólogos, da UNESCO e da Agência Ciência Viva, o AIL2015 foi inaugurado em Portugal, em Março de 2015, com uma palestra do Coordenador da Comissão Nacional sobre a história do nosso conhecimento da luz e um espectacular show de luz da responsabilidade da Fábrica Ciência Viva em Aveiro, na mais antiga escola secundária portuguesa, a Escola Básica e Secundária Passos Manuel, em Lisboa.
Foi um ano em que por todo o país se sucedeu um sem número de actividades (ver ail2015.org), das quais, dada a exiguidade de espaço, só aqui podem ser reportadas algumas, digamos alguns highlights, resultado de uma selecção que corre o risco de ser injusta. De resto, no passado dia 15 de Dezembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, na abertura da conferência internacional Haja Luz – Diálogos em Volta da Luz, que contou com a presença de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e apresentação inicial de Jorge Calado, foi anunciado que o Ano Internacional da Luz, à semelhança do que se passou noutros países, ia ser prolongado por mais seis meses em 2016. As actividades vão continuar e o relatório final terá, por isso, de aguardar.
Decorreram várias exposições sobre a luz. A Comissão Nacional promoveu uma exposição itinerante Janelas de Luz sobre hologramas, da autoria da Fábrica Centro Ciência Viva da Universidade de Aveiro, que foi inaugurada em Aveiro e que já passou pela Guarda, Covilhã (com um total de 2000 visitantes até agora), e que viajará para o Lousal, Lagos, Faro, Estremoz, Coimbra e Porto. No Porto abriu a 15 de Dezembro no Museu Nacional Soares dos Reis a exposição Lux Mirabilis, que mostra instrumentos científicos e objectos artísticos dos acervos do Museu da Ciência da Universidade do Porto e daquele museu nacional. Em Lisboa estiveram duas exposições luminosas, muito perto uma da outra: A Luz de Lisboa, num torreão do Terreiro do Paço, e Na Luz/ Dentro do Vidro, na Galeria Millennium, na Rua Augusta, a primeira com a colaboração do Museu da Cidade de Lisboa e a segunda da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. A Festa do Avante na Quinta da Atalaia, Setúbal, incluiu uma exposição e uma palestra sobre a luz. Em Óbidos, no âmbito do Festival literário Fólio e em vários concelhos limítrofes, esteve uma exposição de cartoons internacionais sobre a luz, organizado pelo Museu da Imprensa do Porto. Em Coimbra esteve no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra a exposição Visões – o interior do olho humano, da responsabilidade do Centro Cirúrgico de Coimbra, para além da sua mostra permanente Segredos da Luz e da Matéria.
O Ano chamou-se da Luz e das Tecnologias da Luz. Na Feira do Património 2015 realizada em Coimbra uma empresa de luz, o atelier OCubo, fez uma fantástica apresentação de luz no Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha, em Coimbra, que acresceu ao show que tinha apresentado antes nas fachadas do Paço das Escolas da Universidade de Coimbra, a que assistiram mais de 30 mil pessoas, no quadro da celebração dos 725 anos da Universidade de Coimbra, e ao festival de luz Lumina, realizado em Setembro em Cascais. Houve outros espectáculos de luz em Aveiro, Lousada, Barreiro, Oeiras e Lisboa. Também houve espectáculos de luz da autoria de por outras empresas, por exemplo em Almeida, Sintra e Lisboa. No Porto abriu uma instalação de Luz, Porto Light Experience, perto da Estação de São Bento, promovida pelo Lighting Living Lab de Águeda e que ganhou um prémio no concurso internacional Happy LED Life.
As Câmaras Municipais organizaram ou apoiaram várias actividades luminosas, como o evento que congregou várias empresas industriais associadas à luz (Lighting Living Lab), patrocinado pelo município de Águeda, que culminou na inauguração de iluminação pública inteligente, e o festival Cultura e Luz, em Almeida. O mesmo se passou com associações e ordens profissionais: a Ordem dos Engenheiros realizou uma conferência na sua sede em Lisboa e outro no Funchal (na “Casa da Luz”), além de ter editado um número especial da sua revista Ingenium, quase todo ele devotado ao tema da luz.
Tiveram lugar numerosas conferências sobre luz, além das que já foram referidas, designadamente na Faculdade de Ciências e no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, e na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, sobre vários aspectos da ciência e tecnologia da luz, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sobre luz e museus (Lights on), na Universidade do Minho, em Braga, sobre luz e media (Comunicação e Luz), na Madeira, sobre luz e estratégias educativas (Hands-on Science 2015), na Universidade de Évora, sobre luz, arte e ciência (Colours 2015), duas na Universidade de Coimbra, uma sobre interdisciplinaridade e outra sobre sustentabilidade (intituladas respectivamente Visões da Luz e À Volta da Luz), no Instituto Português de Qualidade, no Monte da Caparica, em Almada, sobre metrologia, e no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva de Lisboa (Light, from the Earth to the Stars), com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, na qual foi prestada uma justíssima homenagem a José Mariano Gago e na qual falou o físico espanhol do CERN Álvaro de Rujula. Logo no início da rentrée tiveram lugar dois eventos internacionais: conferências científicas na Figueira da Foz (Colloquium Spectroscopicum Internationale) e em Faro (International Conference on Advanced Laser Technologies). E outras conferências houve em Novembro em torno da Teoria da Relatividade Geral. A 10 de Novembro, Dia Mundial da Conferência pela Paz e Desenvolvimento, a Comissão Nacional da UNESCO realizou no Pavilhão do Conhecimento uma conferência sobre o AIL2015 e sobre o Ano Internacional dos Solos, que é simultâneo do Ano da Luz. Mas merece especial relevo a conferência sobre luz, centrada na radiação cósmica de fundo e no Telescópio Espacial James Webb, que foi proferida no Teatro Rivoli do Porto pelo cientista da NASA e Prémio Nobel da Física John Mather, no quadro do Festival do Pensamento organizado pelo saudoso Paulo Cunha e Silva, vereador da cultura da Câmara Municipal do Porto, e à qual assistiram mais de 600 pessoas. No quadro internacional, os signatários fizeram uma apresentação sobre a história da luz, acompanhada de experiências interactivas, no Encuentro Ibérico de Enseñanza de la Física, que teve lugar em Julho em Gijon, Espanha.
Realizaram-se outras sessões sobre luz por todo o país: na Biblioteca de Viana do Castelo (Mundos de Luz), sobre a luz nos livros, na Faculdade de Nutrição e Ciências da Alimentação da Universidade do Porto (Dia da Faculdade), sobre luz e saúde, na Academia Portuguesa de Medicina e na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (também Dia da Faculdade), sobre luz e medicina, etc., no Rómulo – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra e na Fábrica Ciência Viva da Universidade de Aveiro (Noite Europeia dos Investigadores). No Rómulo teve lugar uma série intitulada À luz da ciência. Muito intensas têm sido as atividades no Ano da Luz da Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no Monte da Caparica, dirigida por José Moura, que procuraram juntar ciência e arte, acrescendo às palestras e debates pequenas exposições. Destaque particular para a Noite da Luz, que mobilizou muita gente do campus.
Houve celebração da luz em forma teatral (peça Luz estreada pela Marionet no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra) e cinema (Let there be light, uma curta-metragem sobre o “fim da luz” realizada por Laura Seixas, que foi apresentada na Conferência Internacional na Gulbenkian).
A luz de dia vem-nos do Sol e de noite vem-nos dos outros astros. Salientem-se, portanto, as várias actividades de astronomia realizadas no Verão, entre as quais uma na aldeia da Luz, Reserva de Escuridão do Alqueva, onde esteve uma exposição de fotografia astronómica de Miguel Claro, e outra, a Astrofesta, em Castro Verde, congregando astrónomos amadores de todo o país, bem como outras realizadas em diversos locais de Portugal ao longo de todo o ano (designadamente no Observatório Astronómico de Lisboa, onde se realizou o ciclo de palestras mensais Noites de Ciências, Noites de Luz, e ainda a muito original Noite de Estrelas e Pirilampos, em Azeitão, na Serra da Arrábida.
Foram várias as edições de livros. Saíram na Gradiva os livros Uma Biografia da Luz, de José Tito Mendonça, QED, de Richard Feynman (reedição), Cosmicomix, de Amedeo Balbi e Rossano Piccioni (banda desenhada sobre o Big Bang), e Histórias da Física em Portugal no século XX (eds. Teresa Pena e Gonçalo Figueira). Saiu no Centro Atlântico Dark Sky – Alqueva, com fotos astronómicas de Miguel Claro feitas na Reserva do Alqueva. Foi editado pelo Museu da Imprensa, no Porto, o catálogo sobre os cartoons de luz que estiveram em Óbidos (no Facebook também houve uma galeria de cartoons intitulada iLuz2015, de onde saiu uma t-shirt). A Tinta da China editou A Luz dos Livros, de António Leal, fotografias de pin-hole feitas na Biblioteca de José Pacheco Pereira, na Marmeleira. E a ISTpress publicou a 3.ª edição de Haja Luz, de Jorge Calado. A Relógio d’Água republicou A Luz de Newton da escritora Hélia Correia (prémio Camões 2015).
Os media acompanharam o AIL2015. Nos jornais, o Público dedicou o seu número de aniversário aos cem anos da teoria da relatividade geral de Einstein e publicou, na sua revista dominical, uma série sobre diferentes aspectos científicos e artísticos da luz (A Luz como meio e limite). Outros jornais, como o semanário Sol, publicaram reportagens sobre o AIL2015. A agência de notícias Lusa divulgou o conceito do AIL2015 e alguns dos eventos. A imprensa regional esteve muito atenta ao AIL2015, através do programa Ciência na Imprensa Regional, dinamizado por António Piedade. A RTP passou um spot sobre o ano da luz, preparado pela Fábrica Ciência Viva de Aveiro (que já antes tinha feito os posters do AIL2015). E foram transmitidos programas sobre a luz na RTP2, em particular Sociedade Civil, e na rádio, em particular na Antena 2. A Gazeta de Matemática publicou um número especial sobre o AIL2015. O Boletim da Sociedade Portuguesa de Química publicou alguns artigos sobre a luz. O presente número da Gazeta de Física é todo ele dedicado ao tema da luz. A revista Rua Larga, da Universidade de Coimbra, dedicou um número à luz. Revistas de iluminação técnica como o boletim da Aura Light e a revista digital do Light Living Lab dedicaram artigos ao Ano da Luz.
Houve concursos de fotografia e cinema, designadamente o concurso Luz em Flash, organizado pela Comissão Nacional do AIL2015 (ao qual concorreram cerca de 500 fotografias de participantes vindos de 15 distritos nacionais) e o concurso também de fotografia organizado pela Ordem dos Engenheiros. A Associação Portuguesa da Indústria de Ourivesaria promoveu o seu 7.º Concurso de Ourivesaria, dedicado este ano ao tema da Luz e a Sociedade Portuguesa de Óptica e Fotónica, em parceria com a Associação Hands-on Science, organizou o concurso Feira de Ciência À Descoberta da Luz, dedicado às escolas e a alunos de todos os níveis de ensino. Finalmente, os CTT – Correios de Portugal realizaram uma emissão onde se destacaram as duas comemorações mundiais deste ano: o Ano Internacional da Luz e o Ano Internacional dos Solos (a edição foi distinguida em Itália).
Patrocinaram estas iniciativas o Ministério da Educação e Ciência, através da Fundação para a Ciência e Tecnologia, a Agência Nacional para a Cultura Científica – Ciência Viva e a Fundação Calouste Gulbenkian (apoio centrado na conferência na sua sede), para além de várias outras entidades, algumas das quais atrás mencionadas.
Em conclusão: o ano de 2015 foi muito iluminado em Portugal. As actividades foram muito variadas e descentralizadas, tendo chegado no total, de uma forma ou de outra, a milhões de portugueses. Prevemos que 2016 continue a ser um ano iluminado com a celebração que se prolonga até ao final do mês de Junho. Se a abertura foi em Lisboa, o fecho do AIL2015 será a 21 de Junho na Casa da Música no Porto, reflectindo o carácter nacional do conjunto de actividades.
Sem comentários:
Enviar um comentário