Meu artigo de opinião publicado hoje no "Jornal as Beiras", saído conjuntamente com o Semanário "Expresso":
Estando eu a tentar arrumar a minha biblioteca de consulta constante, deparei-me num escaninho escondido de uma das suas prateleiras, como que a reprovar-me pelo esquecimento a que o votara, o meu “Livro de Curso” (1975), parte importante da minha saudosa juventude académica que deve ser recordada porque, como escreveu Pessoa, ”a memória é a consciência inserida no tempo”.
Em remorso tardio, reconcilio-me, assim, com a minha desarrumação para com os livros, alguns amarelecidos pelo tempo e com páginas roídas pelas traças por, a par de papéis em que fui ao longo dos anos tomando notas pessoais, serem eles minha fonte de consulta constante para a minha escrita mais ou menos elaborada, espalhando-os em desalinho pelo chão à mão de semear dada a minha declarada iliteracia informática e uma memória que se vai esvaindo com a velhice porque, recolhido de um texto de Eugénio Lisboa, segundo Ugo Belfi, “as memórias são como as pedras: o tempo e a distância corroem-nas como ácido”.
Ou seja, a minha iliteracia informática não me permite grandes voos em horizontes internéticos, apenas levantar os pés do chão com cuidados redobrados para não tropeçar num mare magnum de informação buscando eu muletas para esta penosa situação no desencanto de Ortega y Gasset: “Muitos meios e saber de pouco servem. Vivemos num tempo que se sente fabulosamente capaz de realizar, porém não sabe o que realizar. Domina todas as coisas, mas não é dono de si mesmo. Sente-se perdido na sua própria abundância. Com mais meios, mais saber, mais técnica do que nunca, afinal de contas o mundo actual vai, como o mais infeliz que tenha havido, permanentemente à deriva”.
Porque “roubar a muitos é pesquisa, roubar a um só autor é plágio” (Wilson Minzer) reside aqui alguns dos perigos da informação aportada pelo mundo informático, utilizada, mesmo em provas de doutoramento pesquisadas na Net.
Tentando retaguarda para a minha ignorância sobre este mundo novo, em corrida vertiginosa rumo ao futuro, procuro razão de mau pagador em Steve Balmmer, presidente da Microsoft: “Eu testo, mas não uso no dia-a-dia. Mais importante, meus filhos não usam. Eles são bons garotos”. E se, segundo o filósofo Erc Hoffer (1902-1983), “a única forma de prevermos o futuro é ter poder para formar o futuro”, talvez que esta minha “alergia” ao homem versus máquina se consubstancie no pólen letal libertado pelo filme “2001, Odisseia no Espaço” (1968) em que um computador, Hal 9000, de uma nave a caminho de Júpiter se revolta contra o respectivo comandante numa espécie de duelo ser pensante/inteligência artificial “podendo significar o fim da raça humana”, segundo Stephen Hawking um dos físicos mais brilhantes , ou mesmo o mais brilhante, da nossa contemporaneidade falecido em Março deste ano.
De igual modo, Erich Fromm (psicanalista e sociólogo alemão, 1900-1980) manifesta-se receoso de um futuro que ele já não conhecerá: “O problema não é que os computadores possam pensar como nós, mas que nós possamos pensar como os computadores”.
Será que estou a tentar encontrar desculpas esfarrapadas para a minha teimosa iliteracia informática? O futuro o dirá porque, como escreveu Mark Twain, com a ironia que o colocou no pedestal dos grandes humoristas da humanidade, “a profecia é algo muito difícil, especialmente em relação ao futuro!”
“A grande coisa neste mundo não é saber onde estamos,
mas para que direcção estamos a ir.”
Oliver Wendell Holmes (1809-1984)
Estando eu a tentar arrumar a minha biblioteca de consulta constante, deparei-me num escaninho escondido de uma das suas prateleiras, como que a reprovar-me pelo esquecimento a que o votara, o meu “Livro de Curso” (1975), parte importante da minha saudosa juventude académica que deve ser recordada porque, como escreveu Pessoa, ”a memória é a consciência inserida no tempo”.
Em remorso tardio, reconcilio-me, assim, com a minha desarrumação para com os livros, alguns amarelecidos pelo tempo e com páginas roídas pelas traças por, a par de papéis em que fui ao longo dos anos tomando notas pessoais, serem eles minha fonte de consulta constante para a minha escrita mais ou menos elaborada, espalhando-os em desalinho pelo chão à mão de semear dada a minha declarada iliteracia informática e uma memória que se vai esvaindo com a velhice porque, recolhido de um texto de Eugénio Lisboa, segundo Ugo Belfi, “as memórias são como as pedras: o tempo e a distância corroem-nas como ácido”.
Ou seja, a minha iliteracia informática não me permite grandes voos em horizontes internéticos, apenas levantar os pés do chão com cuidados redobrados para não tropeçar num mare magnum de informação buscando eu muletas para esta penosa situação no desencanto de Ortega y Gasset: “Muitos meios e saber de pouco servem. Vivemos num tempo que se sente fabulosamente capaz de realizar, porém não sabe o que realizar. Domina todas as coisas, mas não é dono de si mesmo. Sente-se perdido na sua própria abundância. Com mais meios, mais saber, mais técnica do que nunca, afinal de contas o mundo actual vai, como o mais infeliz que tenha havido, permanentemente à deriva”.
Porque “roubar a muitos é pesquisa, roubar a um só autor é plágio” (Wilson Minzer) reside aqui alguns dos perigos da informação aportada pelo mundo informático, utilizada, mesmo em provas de doutoramento pesquisadas na Net.
Tentando retaguarda para a minha ignorância sobre este mundo novo, em corrida vertiginosa rumo ao futuro, procuro razão de mau pagador em Steve Balmmer, presidente da Microsoft: “Eu testo, mas não uso no dia-a-dia. Mais importante, meus filhos não usam. Eles são bons garotos”. E se, segundo o filósofo Erc Hoffer (1902-1983), “a única forma de prevermos o futuro é ter poder para formar o futuro”, talvez que esta minha “alergia” ao homem versus máquina se consubstancie no pólen letal libertado pelo filme “2001, Odisseia no Espaço” (1968) em que um computador, Hal 9000, de uma nave a caminho de Júpiter se revolta contra o respectivo comandante numa espécie de duelo ser pensante/inteligência artificial “podendo significar o fim da raça humana”, segundo Stephen Hawking um dos físicos mais brilhantes , ou mesmo o mais brilhante, da nossa contemporaneidade falecido em Março deste ano.
De igual modo, Erich Fromm (psicanalista e sociólogo alemão, 1900-1980) manifesta-se receoso de um futuro que ele já não conhecerá: “O problema não é que os computadores possam pensar como nós, mas que nós possamos pensar como os computadores”.
Será que estou a tentar encontrar desculpas esfarrapadas para a minha teimosa iliteracia informática? O futuro o dirá porque, como escreveu Mark Twain, com a ironia que o colocou no pedestal dos grandes humoristas da humanidade, “a profecia é algo muito difícil, especialmente em relação ao futuro!”
9 comentários:
Nas prateleiras da minha estante estão quase todos mortos. Os livros. Independentemente da direção de cada um, ali jazem, juntos, sem direção.
Apenas interessa saber onde estamos. No futuro é onde estamos. Vamos, invariavelmente, para onde estamos. E estamos constantemente a ir...
A consciência viva é esquecimento. Um esquecimento renovador e contínuo, um campo de possibilidades, um suporte de ser, uma base inscrita no espaço e no tempo a partir da qual tudo renasce (ou, por erro, se repete, como uma energia encravada e morre).
A profecia só é possível no erro do círculo, nos calendários circulares, na rotação e translação dos planetas. Ao contrário do que os matemáticos pensam, o círculo não é a figura geométrica mais perfeita. O círculo é prisão e repetição, permite fórmulas fratais de impossibilidade e faz a matéria gravitar, que é um movimento inerte. O futuro é isso. Assume o caminho do prisioneiro, da coisa em si, em reta fechada, sem espaço de expansão, gaguejando o que sempre foi e será. Cristo simbólico, excêntrico e externo, não conseguiu passar a mensagem da cruz, duas retas perpendiculares de infinito aberto... Consciência.
O Divino encravou nos madeiros segmentados.
Agora, só nos resta ir para onde estamos, avariados, no meio das teclas...
Professor Rui Baptista, na verdade a utilidade do computador revela-se verdadeiramente ao individuo na medida em que ele consegue pensar como o computador "pensa". Repare, por exemplo, se tiver numa folha uma tabela com 50 números aleatórios de dois digitos e lhe for perguntado para descobrir qual é o maior número, como é que a pessoa o faz? Certamente que procura, desde logo, os números que comecam por 9 e exclui todos os outros, e depois procura neste aquele que tiver o segundo digito maior... ora é fácil, mas o computador faz de forma diferente, (porque não é inteligente, como nós) considera todos os números, sem excluir nenhum à partida, mas faz isso sem nenhuma dificuldade e grande velocidade, quer sejam 50 numeros ou 100000000, e com a garantia de total acerto ... mas o que é verdadeiramente importante para o indivíduo é ele que aprenda a pensar como os computadores "pensam" para que estes lhes sejam muito utéis, e nisso não hà mal nenhum, só beneficios.
Ah!, Outra coisa, é dar 500.000 € (9.000/min) a um individuo para dizer algumas palavras banais e de circunstancia... ora desses e outros males que enferma a sociedade moderna, penso que não se devem aos computadores, pelo menos eu não sei como.
Cordialmente,
O medo de ser descoberto é terrível.
Caro Engenheiro Ildefonso Dias: Agradeço o seu comentário que me obriga a esclarecer a minha posição sobre as vantagens e desvantagens do mundo computacional.
Se reparou (atrevo-me a pensar que sim, embora eu admita poder não ter sido suficientemente claro no meu post!) a minha crítica baseou-se essencialmente nos caminhos que possam ser trilhados na servidão às novas tecnologias que leve a que a memória tão necessária à aprendizagens escolares possa ser “corroída pelo ácido como as pedras”. Isto mesmo já escrevi publicamente, em tempos, de certo modo, caricaturando (mas não totalmente) a situação de ao ser perguntado a um jovem aluno, ou menos adulto, quem foi o 1º Rei de Portugal se obter a resposta: “Um momento vou ver ao Google!”
Por outro lado, também escrevi, em texto público, que se não fossem os computadores as viagens espaciais não teriam sido possíveis. Embora bem acompanhado pelos exemplos de gente a coberto de qualquer suspeita de ignorância informática, que apresentei em defesa do meu ponto de vista, tive sempre o cuidado de frisar a minha iliteracia informática para a qual encontro razão na expressão inglesa: “My mind is made up, d’ont confuse me with the facts”. Ou na expressão bem portuguesa de que “burro velho não aprende línguas!”
“Last but not least”, as horas que os nossos escolares passam a jogar nos computadores trazem a reboque horas perdidas pela ausência de leitura das melhores obras dos nossos escritores por mentes já formatadas negativamente com programas televisivos em que as telenovelas e o futebol disputam entre si pela primazia.
Ou seja, tudo deve ser feito sem subordinação a Velhos do Restelo ou defensores de tudo quanto é novo porque, segundo Roland Barthes, “existe um erótica do novo, o antigo é sempre suspeito!”
Julgo termos encontrado uma ponte de entendimento entre as nossas posições. O meu amigo, o dirá!
Cordiais cumprimentos,
Obrigado pelo seu comentário merecedor do meu apreço.
Professor Rui Baptista, estamos de acordo.
Contudo posso-lhe dizer que Steve Balmmer, presidente da Microsoft, talvez não deixe os seus meninos usar, por exemplo o Office da microsoft, dir-lhes-á simplesmente, facam vocês mesmos aquilo de que precisam, facam à medida das vossas necessidades.
É irónico, mas é certo, que aquilo que Steve Balmmer vende tambem não servirá sequer para os seus, evidentemente.
Steve Balmer, preocupa-se com dinheiro, não com a educacão das criancas, esse papel é mais o de Richard Stallman, que numa visita que fez a Portugal foi mal tratado, como pode ver no link do post abaixo, que vergonha de país, mais uma a somar a muitas.
http://dererummundi.blogspot.com/2012/02/livre-como-em-liberdade.html
A distopia e a utopia trazem-me à memória um grande amigo, já falecido, que aquando das nossas tertúlias de café nas manhãs de Domingo me dizia: "Eu prefiro ser um pessimista que se engana a um optimista que se engana!"
Assim, um mundo cor-de-rosa aportado com as novas tecnologias, que nós hoje não sabemos qual será o seu avanço galopante, ou um mundo escuro como breu, o que espera à nossa Civilização já tão desumanizada? Quem deverá ter mais medo: o optimista ou o pessimista? O futuro o dirá!
Caro Engenheiro Ildefonso Dias: Obrigado pelo seu comentário. Infelizmente o ajoelhar ao trono do Rei Midas "abandalha" (perdoe-se-me o plebeísmo) as melhores intenções. Obrigado por esta sua achega para iluminar, ainda que à luz de uma simples vela, a minha escuridão no mundo da informática! Cumprimentos muito cordiais.
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