Por Eugénio Lisboa
Tenho falado longamente de leituras que, na adolescência, deixaram marca em mim. Não foram só grandes autores, como Voltaire, Stendhal, Balzac, André Gide, Dostoiewsky, Tolstoi, Turguenev, Charlotte Bronte, Garrett, Camões, Régio e outros, de grande gabarito, que profundamente me afectaram.
Tive já ocasião de referir livros como FAMÍLIA SEM NOME, de Jules Verne, ou OS DRAMAS DA INTERNACIONAL, de Pierre Zacone, que deixaram marca profunda. São livros que, depois de lidos, durante algum tempo, não nos deixam pensar em mais nada senão neles. É um erro pensar que só as grandes obras têm este poder. O dia em que, adolescente, li FÉRIAS, da Condessa de Ségur, ficou, para sempre, como um dia mágico. Só os snobs e os mentirosos não confessam estas coisas.
Estes livros são aqueles que eu costumo classificar como clássicos menores. Mas são, efectivamente, livros clássicos. São pequenas estrelas que, para sempre, ficam a brilhar, no nosso firmamento.
Entre estes clássicos menores, coloco sempre o romance histórico de Arnaldo Gama, O SARGENTO-MOR DE VILAR. Li, dele, nessa altura, quase tudo o que escreveu: UM MOTIM HÁ CEM ANOS, O BAILIO DE LEÇA, A ÚLTIMA DAMA DE S. NICOLAU, O FILHO DO BALDAIA, A CALDEIRA DE PERO BOTELHO, O SEGREDO DO ABADE e até esse longo folhetim, na peugada dos de Eugène Sue, O GÉNIO DO MAL, com a tenebrosa Matilde, cuja maldade tanto me fascinou. Porém, de todos os seus livros, o que mais me impressionou foi, aliás, o primeiro que dele li, O SARGEBTO-MOR DE VILAR. Os amores do fidalgo Luis Vasques com Camila, a filha do Sargento-Mor de Vilar, tendo como pano de fundo a invasão francesa de Portugal, a comando de Soult, e a descrição da resistência portuguesa ao invasor, “apanharam-me” completamente e na altura própria. Nunca mais voltei ao livro, com receio de se não renovar a magia.
Nem todas estas marcas profundas se renovam, como seguramente se renova a magia de LE ROUGE ET LE NOIR, de RESSURREIÇÃO (Tolstoi), de ASSIA (Turguenev), de OS IRMÃOS KARAMAZOV (Dostoiewsky) ou de UMA GOTA DE SANGUE (José Régio). Estas são marcas que resistem à erosão do tempo. As outras, brilham no horizonte da nossa memória, mas tememos revisitá-las…
Eugénio Lisboa
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