terça-feira, 28 de novembro de 2023

O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Now is the winter of our discontent
Made glorious summer by this sun of York.

Shakespeare, Richard III

Este é o inverno desolado
do nosso fundo desapontamento
e não há sol vindo de nenhum lado,
que nos dê uma sombra de alento.

O mundo está feio e disforme
e os que propõem ser salvadores
desvelam apenas o seu enorme
apetite de infames predadores.

Semeiam palavras enviesadas,
cheias de mentira e de veneno
e bem amaciadas por pomadas.

Tanto faz sarraceno ou nazareno,
é tudo o mesmo pântano obsceno,
com práticas atrozes de checheno.

Eugénio Lisboa

7 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico retrato do mundo actual.
Inquieta-me que, perante tão assertivo diagnóstico, não haja quem de capacidade a encetar caminho de correcção.

Carlos Ricardo Soares disse...

Que diria o oráculo, no antro de Trofónio, que provocava a tristeza para toda a vida?

Anónimo disse...

Desapareceu o demónio Kissinger responsável pela morte de milhões pessoas... o mundo hoje não está melhor nem pior... as pessoas é que têm memória curta ou são ideologicamente selectivas.

Eugénio Lisboa disse...

O comentário do Anónimo precedente ilustra, na perfeição, como se não deve comentar um soneto, o qual não é um panfleto político e, como tal, não deve ser encarado nem lido. O soneto exibe uma visão abrangente, de um mal contemporâneo bem distribuído, isto é, sem destinatário específico, e evita, portanto, apontar este culpado em vez daquele, pelo que não deve ser pretexto para se abrirem polémicas aquecidas. É por estas e por outras que obras líricas que pretendem dar uma visão sombria do mundo, com os necessários instrumentos da retórica, se transformam, nesta área dos comentários, em puros pretextos para asserções políticas, que nada têm que ver com uma análise literária que se preze. Um soneto pretende ser uma obra de arte, mesmo humilde, e gostaria de, como tal, ser avaliado. Será pedir muito? Quem disso não for capaz, por não estar, para tanto, apetrechado, só lhe resta ficar calado.
Agradeço, aos outros dois interventores, as suas palavras.
Eugénio Lisbo
P. S. - Se quer saber, fora do sentido do meu poema, o que penso de Kissinger, aqui tem: era um inteligente facínora e um criminoso amante da realpolitik.

Anónimo disse...

Senhor Eugénio Lisboa, nos versos que escreveu diz que "não há sol vindo de nenhum lado"... ora foi esse senhor kissinger que, precisamente para apagar o "sol da terra" cometeu os crimes que se conhecem... o que é curioso é o V. ter também esse pendor de apagar o sol que vem do leste.

Eugénio Lisboa disse...

Repito: observações como a sua nada têm que ver com análise se um poema. São ideologia pura e dura, ainda por cima bastante obtusa. Quanto a algum sol vindo do Leste, só por brincadeira ou humor negro. Tenhamos a caridade de não aprofundar. Mas não vou envolver-me neste tipo de discussão, a pretexto (mal avisado) do meu soneto. O Sr. Anónimo é daqueles que não consegue ler um texto literário, sem se envolver, da maneira mais despropositada, em polémica política. Faz-me lembrar um sujeito que conheci, nos meus tempos de estudante de engenharia, o qual, na noite de núpcias, quando se deitou com a noiva, começou por lhe perguntar de ela já tinha lido o CAPITAL de Karl Marx. Consta-me que o casamento durou muito pouco, et pour cause!

Anónimo disse...

Certamente que o noivo tinha a intenção de libertar a sua noiva dos preconceitos mundanos que a escravizam e que a excluem do convívio humano.

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