sábado, 15 de janeiro de 2022

EDUCAÇÃO: A LIBERDADE DE ESCOLHA OU INOVAR COM A SUCATA


Novo texto de Eugénio Lisboa: 

O Partido INICIATIVA LIBERAL tem vindo a propor, com linguagem bem penteada e louvável civilidade de maneiras, ideias mais do que um bocadinho perigosas e, por acaso, já bastante obsoletas. Uma dessas ideias é a estafada “liberdade de escolha” para os alunos que pretendam frequentar uma escola. A ideia já foi suficiente demolida, com argumentos decentes, pelos partidos que a não perfilham, em debates recentes. Pôr o Estado, em vez de investir na escola pública, como é sua obrigação, a financiar a escola privada, é, no mínimo, escandaloso. Por isso, venho aqui apenas contar uma história de proveito e exemplo.


Quando o Partido Conservador Britânico ganhou, em 1979,  as eleições legislativas, e Margaret Thatcher ascendeu ao lugar de Primeiro Ministro, com o seu projecto ultra-liberal, deu ao seu mentor político, Sir Keith Joseph, a pasta da Educação. Este, ideólogo extremista, apressou-se a propor a “liberdade de escolha”, com “vouchers” do Estado a pagarem o ensino privado – a ideia agora repescada pela IL. A reacção provocada no Partido Conservador, para não falar na do Partido Trabalhista, foi de tal ordem, que Margaret Thatcher não teve força para levar por diante o projecto acarinhado pelo seu ideólogo e que era também o seu. O projecto foi atirado para a sucata, da qual nunca ressuscitou, nos onze agitados anos do reinado de Thatcher.

 

Aparece agora, triunfalmente repescado pela IL, com ares de inovação prenhe de futuro, e apaparicado por comentadores aguerridos, em postura de estarem “para além da Thatcher”

 

É muito nosso hábito lusitano irmos buscar, tarde e a más horas, ao monte da sucata que outros produziram, as ideias saloias e perniciosas que eles acharam tóxicas, há bem quarenta anos atrás. 

 

A “liberdade de escolha” não passa de um truque mal disfarçado, para pôr o Estado a sustentar o ensino privado. Ora se este é assim tão bom e tão eficaz e competitivo, que aprenda a viver por si, sem recurso à inevitável teta que tanto acusa de ser incompetente e nefasta: isso mesmo, a teta do Estado.

 

A IL quer, em tempo incerto, de agonia, de susto e de crise profunda, acudir aos portugueses com uma selvagem anarquia de mercado que, mesmo assim, vampirize o pouco que o Estado tenha para dar. Esta destemida proposta deve ser devolvida ao local de onde nunca deveria ter saído: a cova da sucata do Partido Conservador Britânico.

Eugénio Lisboa

2 comentários:

Anónimo disse...

É muito bom ler algo assim. Saber q temos intelectuais capazes, q como este, refutam ideias com argumentos tão poderosos. São estes os nossos melhores...
Rui Silva

Rui Ferreira disse...

Tanto disto que para aqui há!
Muito bom o texto.

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