MEU MAIS RECENTE ARTIGO NA CIÊNCIA NA IMPRENSA REGIONAL:
Em ciência, para cada questão respondida, abrem-se logo outras que pedem
resposta. Entramos no ano de 2022 com várias questões por responder. E temos
esperança de que, se não forem respondidas neste ano, sê-lo-ão nos seguintes. O
sábio português Garcia da Orta afirmou, no século XVI, que «o que não sabemos
hoje, amanhã saberemos».
Algumas descobertas são inesperadas. Mas outras são o resultado de
cuidadosos planeamentos e prolongados esforços. Ofereço aqui uma lista de
desafios da ciência nos quais, pelo que está planeado, haverá avanços a curto
prazo. Privilegiei as descobertas da Física ou relacionadas e dentro destas,
por serem mais mediáticas, as que têm a ver com o espaço. Mas a biomedicina é
um vasto campo onde vai continuar a haver progressos tremendos.
A NASA vai encher-nos de notícias. O telescópio espacial James Webb,
da NASA e da ESA, o maior de sempre, começará a enviar as suas imagens do
Universo em Junho próximo. O telescópio, que já abriu completamente, está em rota
para a sua posição em órbita solar. Será descoberta a luz das primeiras estrelas
e serão descobertos novos exoplanetas, com boa probabilidade alguns deles parecidos
com a Terra. Em 24 de Setembro, culminará a missão da NASA Double Asteroide Redirecion
Test: uma sonda foi planeada para embater num pequeno asteróide, para nos ensinar
sobre a possibilidade de desviar um asteróide da sua trajectória, se acaso viermos
a descobrir um a aproximar-se perigosamente da Terra. A NASA vai ainda, em
breve, testar um novo foguetão, o Space Launch System, que colocará num
voo a nave Oríon, não tripulada, preparando o regresso de astronautas na
Lua a partir de 2025. Embora seja mais tecnologia que ciência, os operadores privados
americanos continuarão a desenvolver as suas actividades no espaço, como a SpaceX
de Elon Musk, que testará o seu novo foguetão Starship.
Em Setembro partirá para Marte a missão europeia ExoMars 2022, da
ESA, em colaboração com a Rússia, que colocará um rover a Marte, baptizado
de Rosalind Franklin, em honra da pioneira da bioquímica, que vai fazer
companhia ao americano Preseverance (com o helicóptero Ingenuity)
e ao chinês Zhurong. O objectivo é detectar vida passada em Marte.
Na astrofísica, grande novidade será a entrada em funcionamento, no Chile,
do Observatório Vera Rubin, que vai «varrer» o espaço como nunca antes foi
feito. Por outro lado, depois de uma pausa para melhorias, a colaboração LIGO -
Virgo entre os Estados Unidos e a Europa, para detectar ondas gravitacionais
retomou recentemente a actividade: o seu fim é registar novas colisões de buracos
negros ou estrelas de neutrões. Para além do James Webb, haverá mais
novidades sobre exoplanetas. Acaba de ser anunciado um com a forma de uma bola
de râguebi. Há cada vez mais evidências de luas de exoplanetas. E há indícios
de planetas fora da nossa galáxia, que aguardam confirmação.
No CERN, na Suíça, o Large Hadron Collider, depois de três anos de paragem
técnica e de um atraso causado pela pandemia, voltará, a partir de Maio, a
operar, a maior energia. Para além de mais medidas da partícula de Higgs, os
físicos de partículas procuram novas partículas. Uma grande descoberta seria a detecção
de algo que pudesse explicar a matéria negra, um misterioso constituinte do
Universo. Existem várias experiências específicas para procura de matéria negra
e, em Maio, haverá no Dubai uma conferência internacional sobre o tema.
Mas há muito mais ciência para além do espaço e das partículas. Dou apenas alguns
exemplos:
- Não sabemos bem o futuro da COVID-19, mas sabemos que as vacinas foram um
enorme êxito. Alguns especialistas esperam que a pandemia se transforme em endemia,
com um número baixo de vítimas. Deve haver melhorias nas vacinas e nos antivirais.
É muito provável que as novas vacinas, baseadas na genómica, encontrem outras
áreas de aplicação.
- Neste ano sairá o 6.º relatório do IPCC, o Painel Internacional para as Mudanças
Climáticas, que são o maior desafio da Humanidade nas próximas décadas. As
conclusões da COP26 em Glasgow poderiam ter sido mais assertivas, mas segue-se
a COP27, que terá lugar no Egipto em Novembro de 2022. Os avanços em energias
alternativas continuam.
- A descoberta do ano de 2021, segundo a revista Science, foi um
trabalho sobre os modos de enrolamento de proteínas realizada por um poderoso
sistema de inteligência artificial (IA), que abre a porta ao fabrico de novos fármacos.
A IA estará cada vez mais não só na ciência como nas nossas vidas e cada vez
mais vai será necessária a consideração de aspectos éticos.
- Na área da computação quântica, tem sido reclamada a «supremacia
quântica», o ponto em que os computadores quânticos ultrapassam os convencionais.
Várias empresas, como a IBM e a Google, estão a competir nesse domínio. Mas há também
avanços chineses, um país que já ultrapassou os Estados Unidos em número de
artigos científicos. Haverá em Julho próximo uma conferência internacional
sobre computação quântica em Lisboa.
Desejo um 2022 cheio de descobertas!
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