Meu artigo de opinião publicado na passada quinta-feira no Público:
Os números não enganam. O
orçamento de estado para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de 2022 fica
bem aquém do que se esperaria de um governo que anda com a ciência na boca.
Relativamente ao orçamento do ano passado
a subida é apenas de 4,5%, de 2990 para 3125 milhões de euros. As
escolas de ensino superior e a Fundação para a Ciência e Tecnologia - FCT, a agência de financiamento
do nosso sistema científico, estão há muito tempo subfinanciadas. Para um
investigador, ainda que excelente, ter um projecto de investigação aprovado pela
FCT é quase tão difícil como ganhar a lotaria.
Tudo isto se passa num país, o
nosso, em que a taxa de investimento em ciência e tecnologia está muito abaixo
da média europeia (basta ir à Pordata para ver que em Portugal foi de 1,4%, em
2019 enquanto a média europeia foi de 2,2%). Num país que baixou recentemente
em indicadores de inovação internacionais. E num país em que o primeiro-ministro
anda a prometer um foguetório de “bazuca”, que, para a ciência e a tecnologia,
não passa de pólvora seca.
Não há dinheiro para todas as
necessidades, dirá o chefe do governo. Sim, mas há sectores que estão mais e
outros menos bem defendidos à mesa do orçamento. No sector em causa, pior do
que não haver dinheiro, é não haver uma ideia clara e definida sobre o nosso
desenvolvimento e o papel da ciência nele. Não há uma fórmula decente de
financiamento das instituições do ensino superior, não há oportunidades que
atraiam os jovens mais qualificados (alguns dos quais querem fazer
investigação), não há suficiente ligação ao tecido produtivo.
O italiano Giorgio Parisi, prémio
Nobel da Física deste ano, dirige desde 2016 o movimento “Salvemos a Ciência
Italiana” que visa elevar o financiamento da ciência no seu país. Aqui estamos
muito longe de poder ter prémios Nobel em áreas da ciência. Mas poder-se-ia
criar um movimento semelhante.
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