Temos aqui um curioso acidente geográfico do nosso litoral, que, em virtude da sua forma, grosso modo, semicircular (com cerca de 950 metros de diâmetro), lhe mereceu a designação popular de “concha”.
Forma enigmática para quem não sabe, mas que se explica facilmente se soubermos o que se entende por difracção das ondas.
Comecemos por lembrar o que acontece quando, para dar de comer aos peixes de um lago de jardim, lançamos um pedaço de pão para a água, ali em repouso.
Ao bater na superfície da água, toda a energia da queda do pedaço de pão é transmitida ao líquido, energia que nele se propaga, deixando ver, à superfície do lago, a propagação de ondas circulares concêntricas que se alastram a toda a superfície.
Lembremos, ainda, que a difracção das ondas é um fenómeno físico que reza: quando uma onda, proveniente de um dado meio, atravessa um orifício, gera, no meio que se segue a esse orifício, o espalhamento ou alargamento de ondas circulares. Uma ideia deste espalhamento pode ser dada pela ondulação na água do lago, atrás descrita.
Resultante do assoreamento da citada antiga “Lagoa de Alfeizerão”, a bela e curiosa forma actual desta baía resulta da difracção da ondulação (vaga) oceânica na dita barra, gerando uma outra que só não é perfeitamente circular porque esta abertura não é suficientemente estreita para funcionar como o dito “orifício” de difracção.
Assim, no interior da baía, a ondulação (que aumenta de amplitude à medida que a profundidade diminui, até rebentar na linha da praia) e o areal são, por assim dizer, concêntricos, relativamente a um ponto imaginado a meio da dita barra. É por isso que, no interior da “concha”, a rebentação da vaga é sempre simultânea em todo o perímetro da praia, com se pode ver na imagem.
Nota: o sedimento no interior da concha é uma areia muito fina, facilmente revolvida pela ondulação mais energética e, daí, a turbidez temporária da água.
A. Galopim de Carvalho
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