quarta-feira, 12 de junho de 2019

QUARTA CONFERÊNCIA: “Tomar a iniciativa, ser empreendedor”: reconfigurar representações, conteúdos e funções do currículo escolar"


À semelhança de muitos outros países, Portugal está a implementar, desde 2016/2017 uma nova reforma do ensino básico e secundário (“Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular”), a qual suscita diversas questões a que investigadores e educadores não podem deixar de dar atenção.

Para proporcionar uma reflexão sobre algumas dessas questões, organizou-se um ciclo de cinco conferências com o título “O currículo escolar na contemporaneidade: Identificação e discussão de algumas das suas bases”, que a realizar neste mês de Maio e no próximo mês de Junho, numa colaboração entre o Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e a Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Granada.

QUARTA CONFERÊNCIA 

Título: “Tomar a iniciativa, ser empreendedor”: reconfigurar representações, conteúdos e funções do currículo escolar"

Conferencistas: Carlos Fernandes Maia (Professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e Casimiro Amado (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX / Universidade de Évora)

Local: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - Anfiteatro do Edifício 1

Data: 14 de Junho de 2019, das 10h00 às 12h30

Resumo: No "Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Básica", publicado em 2017, é explicitado que uma das competências a desenvolver ao longo da escolaridade, no respeitante à “cidadania e participação” é o “ser interventivo, tomando a iniciativa e sendo empreendedor”. Antes, em 2012, em portaria, determinava-se que um dos domínios da autonomia de es-cola deveria traduzir-se no empreendedorismo. Trata-se de dois documentos tutelares, entre vários outros, produzidos por governos que, sendo de tendência política distinta, partilham o objectivo de preparar as novas gerações para serem empreendedoras com vista ao “sucesso académico e profissional. Por se encontrarem destacadas no currículo as noções de “empreendedor” e de “empreendedorismo” obrigam a várias interrogações: o que significam, efectivamente? Em que práticas se traduzem? Quem as concebe essas práticas e a desenvolve?

Programa
1. Mito e altruísmo – Carlos Fernandes Maia
- Alguma lição da história. Pressupostos subjacentes à criação da filosofia grega, da religião cristã (e pré-cristã e derivadas e muçulmana e hindu), à ciência moderna e ao progresso tecnológico
- O papel da ignorância, do conhecer e do saber e relação com o poder. Consciência da possibilidade de conhecer o diferente e de confrontar o conhecer e o saber com o poder
- Representações antropológicas e axiológicas no empreendedorismo. Valores subjacentes no período que medeia entre o mito da amortalidade - o tempo que a técnica suplantará a morte natural - e o da absoluta dependência da 'sorte' ou do 'destino'
- Empreendedorismo docente: a validade de um paradoxo? Validade de uma ação 'docente' em condições adversas
Conclusão. O empreendedorismo só pode ser feito com base no conhecimento e, mais ainda, num conhecimento crítico e globalizante, que é o saber. E daí que sejam precisos conteúdos, incentivos para ensinar e disposição para aprender
2. O empreendedorismo na escola - Religião e Moral do tempo presente? – Casimiro Amado
- "Genealogia" do lugar do "empreendedorismo" nos curricula, à luz da leitura que Foucault fez da biopolítica, do projecto neoliberal e da Teoria do Capital Humano. A noções de "empreendedorismo de si mesmo", "self-entrepreneurship", "Eu. S.A:", e "Startup existencial".
- Discussão da legitimidade (afirmando-a) de uma orientação axiológica na educação e nos documentos que regem a escola e o currículo. Legitimidade que existe apenas se a opção for de "educação para os valores" e não de doutrinação dos educandos quer seja de uma forma assumida ou de forma mais oculta.
- Como, por falta de perspectiva crítica sobre a Meritocracia, os ideais neoliberais e a Teoria do Capital Humano, o discurso sobre o "empreendedorismo" dominante nas escolas portuguesas e nos documentos que as regem tem feito encarar o empreendedorismo como a Religião e a Moral do tempo presente.
 - É isso que queremos? A educação escolar promotora da cultura do empreendedorismo sob o signo da competição, da angústia, da legitimação da precariedade como "estilo de vida"?

Referências bibliográficas
- Bruckner, P. (2001). La euforia perpetua: sobre el deber de ser feliz. Barcelona: Tusquets.
- Foucault, M. (2008). Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes.
- Harari, Y. N. (2016). Sapiens: história breve da humanidade. Amadora: 20/20 Editora.
- Laval, Ch.. (2017). Precariedade como “estilo de vida” na era neoliberal. Parágrafo, [S.l.], vol. 5, n.º. 1, pp. 100-108, jun. 2017 [acesso].

- Maia, C. F. (2011). “Elementos de ética e deontologia profissional: um estudo alargado à educação”. Chaves: SNPL.
- Reboul, O. (1980). A doutrinação. São Paulo: Companhia Editora Nacional.
- Savater, F. (2006). O valor de educar. Lisboa: D. Quixote.

ENTRADA LIVRE, COM CERTIFICADO DE PRESENÇA

Apresentação aqui, Programa aqui, Inscrições aqui.

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