segunda-feira, 30 de julho de 2018

LIVROS DE CIÊNCIAS PARA FÉRIAS



Texto publicado no Ciência na Imprensa Regional:

Nas férias há mais tempo para ler. Por que não escolher alguns dos últimos livros de divulgação científica que saíram entre nós? Eis aqui algumas sugestões, ordenadas por ordem alfabética do apelido do autor:

- Alvarez, Walter, A Viagem mais Improvável. Uma grande história do nosso planeta e de nós mesmos, Arte e Ciência, 2018. Este é um dos primeiros volumes de uma nova editora ligada ao Museu de História Natural da Universidade do Porto. Com prefácio do director deste museu, Nuno Ferrand, e de um conceituado historiador de ciência, Henrique Leitão, esta obra apresenta a “grande história”, a história do processo evolutivo que começa no cosmos, centra-se na Terra e na vida e desemboca na Humanidade. O autor, geólogo americano, é coautor, com o seu pai, da teoria segundo a qual foi a queda de um grande meteorito que extinguiu os dinossauros há  66 milhões de anos.

-André, João-Paulo, Poções e Paixões. Química e Ópera, Gradiva, 2018. Este livro de um professor de Química da Universidade do Minho e entusiasta da ópera, é uma obra-prima que junta as “duas culturas”, por conseguir relacionar de uma maneira cativante essas duas áreas, aparentemente distanciadas, que são a química como a ópera. Com sabedoria e elegância, o autor, mostra-nos como há muita química na ópera. Na apresentação que o livro teve em Braga, a famosa soprano Elisabeth Matos cantou duas áreas. E o livro foi depois apresentado no Porto em Coimbra, com actuações de estudantes dos Conservatórios de Música locais.

-Gonçalves-Maia, Raquel, Francis Crick. DNA, o puzzle 3D, Edições Colibri, 2018. A autora, professora de Química, ensaísta e romanista, conta neste pequeno volume a história da vida de um dos descobridores da estrutura do DNA, a molécula que encerra o código da vida. É o vol. 5 de uma colecção centrada na vida e obra de grandes químicos (Dois átomos de das moléculas). Entre os outros volumes da colecção estão biografias de Linus Pauling (vol. 2), duplo prémio Nobel, e John Desmond Bernal, químico e activista político (vol. 3).

- Magdalena, Carlos, O Messias das Plantas. Aventuras em busca das espécies mais raras do mundo”, Bizâncio, 2018. O autor trabalha nos Reais Jardins Botânicos de Kew, na periferia de Londres, um dos maiores e melhores jardins botânicos do mundo. Tem dedicado a sua vida a procurar e a salvar plantas em vias de extinção. Um volume, com ilustrações, fascinante para quem se interessa pelo diversificado e prodigioso mundo vegetal.

-Reeves, Hubert, O Banco do Tempo que passa. Meditações Cósmicas. Gradiva, 2018. Da autoria do conhecidíssimo astrofísico e divulgador de ciência canadiano, autor de Um pouco mais de azul e de vários outros bons livros, este livro é uma súmula do seu pensamento científico e filosófico, onde cabem tanto a admiração pelo cosmos como a consciência da necessidade de defesa da vida na Terra. A Gradiva publicou também recentemente duas bandas desenhadas de Reeves, Hubert Reeves explica a biodiversidade e O Universo, as duas desenhadas por Daniel Casanave.

- Verney, Luís António. O Verdadeiro Método de Estudar, Círculo de Leitores, 2018. Este volume é uma das obras maiores da cultura portuguesa, por ser a primeiro tratado pedagógico escrito de raiz em língua portuguesa. Trata tanto o estudo da física e da química como da poética e da retórica… Quando saiu, a meio do século XVIII, suscitou grande polémica, entre os “antigos” e os “modernos”.  É o vol. 27 da colecção Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, que coordeno com José Eduardo Franco, da qual já saíram 10 volumes. O coordenador deste volume, autor da introdução e notas, foi Adelino Cardoso.

Se o leitor prefere ficção científica, tem à sua disposição o clássico Um estranho numa Terra estranha, de Robert Heinlein (2 vols. Saída de Emergência, 2918) ou o thrlller que tem vendido muito nos Estados Unidos O gene da Atlântida, de A. G. Riddle (Lua de Papel, 2018).

Boas leituras. Boas férias!




Preservar a Memória (i)Material da Escola: Encontro em Braga


https://preservar-a-memoria-imaterial-da-escola.webnode.pt/

LISTA BIBLIOGRÁFICA DE HUBERT REEVES NO RÓMULO


  
Hubert Reeves (1932-)
Astrofísico e Divulgador de Ciência.


Títulos do Autor disponíveis no RÓMULO CCVUC:

 Um pouco mais de azul : a evolução cósmica. Tradução de Armando da Silva Branco. Lisboa : Gradiva, [1983]. (Ciência Aberta ; 2).

Malicorne : reflexões de um observador da natureza. Tradução de Jorge Branco. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1990. (Ciência Aberta ; 43). ISBN 9726621879.

REEVES, Hubert ; VERY, Jacques ; DAUPHIN-LEMIÈRRE, Eliane - Soleil. Genève : La Nacelle, D.L. 1992. (L'universe à deux voix). ISBN 2883930007.

Dernières nouvelles du cosmos : vers la premiere seconde. Paris : Éditions du seuil, 1994. ISBN 2020205718.

Poeiras de estrelas. Tradução de Joaquim Cândido Machado da Silva. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1995. (Ciência Aberta ; 73). ISBN 972662410X.

Últimas notícias do cosmos : de regresso ao primeiro segundo. Tradução de Cecília Antão da Silva. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1995. (Ciência Aberta ; 70). ISBN 9726623871.

REEVES, Hubert... [et al.] - A mais bela história do mundo : os segredos das nossas origens. Tradução de Jorge Branco. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 1996. (Ciência Aberta ; 82).

O primeiro segundo. Tradução de Cecília Antão da Silva. Lisboa : Gradiva, 1996. (Ciência Aberta ; 78). ISBN 9726624703.

Íntimas convicções. Tradução Maria de Leiria. Lisboa : Instituto Piaget, D.L. 1999. (Epistemologia e Sociedade ; 102). ISBN 9727710964.

L'espace prend la forme de mon regard. Paris : Éditions du Seuil, 1999. ISBN 2020378000.

Aves, maravilhosas aves : os diálogos do ceú e da vida. Tradução Francisco Agarez. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2000. (Ciência Aberta ; 104). ISBN 9726626757.

Chroniques du ciel et de la vie. Paris : Éditions du Seuil, 2005. ISBN 2020800306.

REEVES, Hubert ; LENOIR, Frédéric - A agonia da terra. Tradução de Jorge Branco. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2006. (Ciencia Aberta ; 155). ISBN 9896161461.

Crónicas dos átomos e das galáxias. Tradução de Maria do Rosário Saraiva. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2008. (Ciência Aberta ; 168). ISBN 9789896162290.

Já não terei tempo : memórias. Tradução de Maria do Rosário Saraiva. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2010. (Ciência Aberta ; 185). ISBN 9789896163815.

O universo explicado aos meus netos. Tradução de Maria de Fátima Carmo. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2012. (Gradiva Júnior). ISBN 9789896164690.

Là où croît le péril... croît aussi ce qui sauve. Paris : Éditions du Seuil, 2013. (Science Ouverte). ISBN 9782021118902.

Onde cresce o perigo surge também a salvação. Tradução de Pedro Saraiva. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2014. (Ciência Aberta ; 205). ISBN 9789896165611.

REEVES, Hubert ; LANCELOT, Yves - O mar explicado aos nossos netos. Tradução de Pedro Vieira. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2016. (Gradiva Júnior). ISBN 9789896167066.

O universo : criatividade cósmica e artística. Tradução de Tiago Marques. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2018. (Pequena Bedeteca do Saber). ISBN 9789896168131.

REEVES, Hubert ; BOUTINOT, Nelly - Hubert Reeves explica a biodiversidade. Tradução de Tiago Marques. 1ª ed. Lisboa : Gradiva, 2018. ISBN 9789896168193.


*Nota: A presente lista foi elaborada de acordo com a NP 405 e está organizada por ordem cronológica (do mais antigo para o mais recente).



RÓMULO CCVUC
Julho 2018
Mª João Oliveira






Uma colecção sobre ética

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Para estudar melhor... não estude!

Ao procurar um livro na internet, encontrei, por acaso, este título, que me pareceu prometedor: "7 formas de ajudar o seu cérebro a estudar melhor". Dei atenção ao sub-título, afinal estudar tem alguma coisa a ver com o cérebro: "Seja para estudar para os exames nacionais, seja para um teste, estas dicas podem ajudá-lo a revitalizar o seu cérebro e a maximizar os resultados do seu estudo".

Quis conhecer as "dicas" e passei ao texto: exercício físico regular e com uma certa duração; fazer qualquer coisa de criativo; ingerir vitaminas e nutrientes; socializar pelo menos uns minutos todos os dias; dormir bem e fazer uma sesta; quebrar a rotina mesmo que em pequenas coisas; fazer ou aprender alguma coisa nova, ter um nova experiência.

Não é preciso ser grande especialista para se perceber que falta uma "dica", que é precisamente a "dica" essencial: estudar (pelo menos) um pouco.

Perguntará o leitor, desiludido com a minha observação: mas quem é que confia nestas "dicas" encontradas na internet!?

Os textos mais inocentes, como este, são sempre fruto de um pensamento, e este pensamento, em concreto, está muito presente nos discursos sobre a educação escolar. Remeto a justificação para as entrevistas divulgadas em posts anteriores (aqui, aqui e aqui).

quarta-feira, 25 de julho de 2018

"A nova pedagogia [essencialmente pós-anos 2000]"

Nos antípodas da perspectiva pedagógica da sueca Inger Enkvist (ver aqui e aqui) está a da norte-americana Hillary Hart, professora da Universidade do Texas e directora de um centro de investigação (Faculty Innovation Center - FIC -, antes Centro para o Ensino e a Aprendizagem).

Hart esteve, a meio deste mês, em Portugal, na Universidade do Porto, onde fez formação (presume-se que a professores). Numa entrevista a Filipa Silva (ver em JPN -  Jornalismo Porto Net: aqui) explica uma máxima antiga, que situa no ano pós 2000: "o professor passou de transmissor de conhecimento a facilitador da aprendizagem". Dessa entrevista, destacamos passagens nas quais explica esta máxima e a resistência que encontra na sua implementação.

                                                                                                Maria Helena Damião e Isaltina Martins

Imagem recolhida aqui.
"O papel dos professores mudou e é tempo de encaixar a mudança (...) a mensagem da pedagogia moderna é clara: se o paradigma do ensino estava centrado na figura do professor, hoje o epicentro é o aluno e isso significa alterações na forma como é transmitido o conhecimento nas escolas."
“O que ressalta da nova pedagogia [essencialmente pós-anos 2000] é que o papel dos professores mudou. O vosso papel principal passou de transmissores de conhecimento, do especialista que debita o seu profundo conhecimento na mente dos estudantes, para um facilitador da aprendizagem”. 
“Quando digo isto no FIC, muitos deles não gostam mesmo nada. Não gostam da expressão. ‘O que é que queres dizer com facilitador? Eu sou um professor, tenho conhecimento do conteúdo que tem de ser passado aos alunos para que eles aprendam os princípios básicos da Química ou da nossa História’. E isso é verdade. Mas a questão é como é que isso se faz e como é que colocamos os estudantes mais ativamente envolvidos na sua própria educação e aprendizagem.” 
"Gerar motivação, diz, é fundamental. Promover a autonomia, a capacidade de reflexão e o envolvimento do aluno, também. Apostar no ensino experimental e transdisciplinar tem resultados demonstrados na fixação de conhecimento e o desenvolvimento de competências transversais. E, pelo caminho, podem e devem ser usadas as ferramentas digitais mais simples (e muitas delas gratuitas) para ir ao encontro do aluno." 
Pergunta: [o] que os professores podem fazer nas aulas para aproveitar os media digitais no ensino?  
Resposta: Então, eu iria às aulas híbridas. Era o que eu promoveria. Falo de aulas parcialmente dadas online e noutra parte dadas presencialmente. O que se coloca online é o conteúdo. Coisas para ler, vídeos para absorver informação e trabalhos para fazer. Depois, os alunos vão às aulas e fazem atividades à volta disso. Os estudantes não se sentam e ouvem muito da conversa do professor. Eles fazem atividades. Por isso, se tiverem lido um livro – imagine-se, o Orgulho e Preconceito para a aula de Inglês – e tiverem um trabalho associado sobre um capítulo específico, por exemplo. Depois vão às aulas, discutem-no com os pares e escrevem o seu mini paper ou algo do género. Assim, o tempo da aula é baseado em colaboração, discussão, aprendizagem com os pares, revisão pelos pares, de vez em quando alguns exercícios de avaliação, coisas que é melhor fazer presencialmente. 
Pergunta: Falou na sua apresentação de algumas palavras-chave que associa à pedagogia moderna. Pode falar-nos disso? 
Resposta: Está tudo relacionado com esta mudança de paradigma: agora “centrado no estudante” e não “centrado no professor”. Está focado no aluno e em empoderar o aluno para o futuro, empoderá-lo não só para aprender o conteúdo do seu curso mas para ir além. Foi nisto que começamos a pensar, que as universidades começaram a pensar. Por exemplo, tivemos um grande estímulo há seis anos para aumentar os nossos cursos de quatro anos, para conseguir ter os alunos formados em quatro anos, porque é mais rentável… enfim. Conseguir pô-los lá fora [em menos tempo]. E, claro, temos de ter em consideração o que lhes vai acontecer quando saírem da Universidade (...). E empoderamos os alunos dando-lhes autonomia, para tentar e falhar, para refletirem (...) 
Há tanto tempo que os matemáticos tentam criar outros matemáticos, ou professores de Inglês que tentam criar estudantes super letrados que sabem o cânone, ou mais do que o cânone, uma especialidade. Ou seja, em larga medida, eles estão a tentar replicar-se a si próprios pelo menos os de pensamento mais antiquado. E nós estamos a tentar mudar essa direção. Fazer a universidade perceber que ela tem uma obrigação de ajudar os seus alunos a serem bem sucedidos. Não estamos a tentar fazer da universidade uma universidade para um emprego, mas que atenda a essas competências mais gerais como o pensamento crítico. Só desenvolvemos isso dando-lhes alguma autonomia, deixando-os falhar, deixando-os ir além da sala de aula. E para isso temos de os motivar também. 
Pergunta: Porque é que acha que encontra nos professores a resistência de que falou há pouco? 
Resposta: Porque é difícil. Se está habituada a dar a mesma aula durante um período longo… Um dos problemas é a avaliação do ensino. Na Universidade do Texas não o avaliamos muito bem. Estamos dependentes de um inquérito aos alunos no final e devíamos estar a fazer muito mais avaliação pelos pares, observação pelos pares, de uma forma não ameaçadora. Como aos nossos estudantes. Nós também lhes pedimos para se comportarem como pares e reverem os trabalhos dos outros. Devíamos pedir o mesmo a nós (...).

"A nova pedagogia promove a antiescola"

Na continuação de post anterior e como forma de o completar, reproduzimos abaixo uma entrevista dada por Inger Enkvist há um ano a Ana Torres Menárguez, também do jornal EL PAÍS (aqui). O título é retirado do texto.
Maria Helena Damião e Isaltina Martins 

"Não é fácil encontrar uma opinião como a de Inger Enkvist. Enquanto a maioria dos gurus da educação advoga mudar a disposição da sala de aula em filas para dar mais liberdade aos alunos, ela defende a necessidade de recuperar a disciplina e a autoridade dos professores: As crianças têm de desenvolver hábitos sistemáticos de trabalho e para isso precisam que um adulto os guie. Aprender requer esforço e, se isso é deixado ao critério dos alunos, não acontece”.

Pergunta. As novas correntes de inovação educativa reclamam um papel mais activo por parte dos alunos. Acabar com as aulas magistrais e usar metodologias que impliquem acção por parte do estudante. Por que é que se opõe a esse modelo? 
Resposta. A nova pedagogia promove a antiescola. As escolas foram criadas com o objectivo de os alunos aprenderem o que a sociedade havia decidido que era útil. Qual é o propósito da escola se o estudante decide o que quer fazer? Estas correntes querem enfatizar ao máximo a liberdade do aluno, quando este do que necessita é de um ensino sistemático e muito estruturado, sobretudo se tivermos em conta os seus problemas de distracção. Se não se aprende na primária a ser organizado e a aceitar a autoridade do professor, é difícil que se faça mais tarde. O aluno nem sempre está motivado para aprender. Faz falta esforço. 
Pergunta. No seu livro questiona a crença de que todos os alunos querem aprender e, portanto, é uma boa opção deixar que tomem a iniciativa e aprendam sozinhos. Quais são os seus argumentos contra isso?  
Resposta. Isso nunca foi assim. É uma ideia romântica que vem de Rousseau; considerar que o ser humano é inocente, bem intencionado e bom. Uma criança pode concentrar-se numa tarefa por iniciativa própria, mas normalmente será num jogo. Aprender a ler e a escrever ou matemática básica requer trabalho e ninguém se sente chamado a dedicar um esforço tão grande para assimilar uma matéria tão complicada. É necessário apoio, estímulos e algum tipo de recompensa, como o sorriso do professor (…).  
Pergunta. O que se deveria recuperar do antigo modelo de educação? 
Resposta. Ter bem presente que o professor organiza o trabalho da aula. Se os alunos planificam o seu próprio trabalho torna-se difícil obterem bons resultados e isso desmotiva o professor, que não quer responsabilizar-se por algo que não funciona. Estas metodologias estão a afastar das aulas os professores mais competentes. Já não se considera proveitoso que o adulto transmita os seus conhecimentos aos alunos, fomenta-se que os jovens se interessem pelas matérias seguindo o seu próprio ritmo. Num ambiente assim não é possível ensinar porque não existe a confiança necessária na figura do professor. Viver no imediato sem exigências é em tudo o contrário da boa educação.  
Pergunta.  Considera a auto-aprendizagem como contraproducente. Mas (…) o mercado laboral muda rapidamente e as pessoas podem ser obrigadas a reciclar-se e a mudar de profissão. Não acha que é boa ideia ensiná-las desde pequenas a tomar a iniciativa na aprendizagem?  
Resposta. Essa é a grande falácia da nova pedagogia. As crianças têm de aprender conteúdos e não o que se designa por aprender a aprender. Não é por pedir aos alunos que tomem decisões que eles vão saber fazê-lo (…). Quem é mais adaptável e mais flexível ao perder um trabalho? O que tem já uma base de conhecimentos, o que conta com mais recursos interiores e isso é o que a educação proporciona. Quanto mais autodisciplina, mais possibilidades temos pela nossa frente e menos desesperados nos sentiremos perante uma situação limite. 
Pergunta. Há um grande debate quanto à utilidade dos exames. Alguns especialistas defendem que na vida adulta não se fazem este tipo de provas e que o importante é desenvolver habilidades que facultem a adaptação a diferentes contextos.  
Resposta. Essa é a visão de alguém que não sabe como funciona o mundo das crianças. Na vida adulta, todos temos prazos (…) e isto aprende-se na escola. Com os exames a criança aprende a responsabilizar-se e entende que não se apresentar a uma prova tem consequências, não o repetirão para ele. Se não cumprimos com as nossas obrigações na vida adulta, ver-nos-emos descartados dos ambientes profissionais. Os exames ajudam a desenvolver hábitos sistemáticos de trabalho (…). 
Pergunta. A escola mata a criatividade, segundo o pedagogo britânico Ken Robinson (...) 
Resposta. Pensemos num músico de jazz. Parece que improvisa (…) [mas] sabe 500 melodias de memória e usa excertos dessas peças de forma elegante. Repetiu-as tantas vezes que parece que o faz sem esforço. A teoria é precisa para que surja a criatividade.  
Pergunta. Quanto aos conteúdos que se aprendem na escola, considera que devem ser modernizados?  
Resposta. Uma professora espanhola contou-me que um dos seus alunos lhe perguntou, numa aula, para que servia estudar Unamuno, que aplicação prática podia ter. Necessitamos de conhecer o nosso país, de saber de onde viemos. Com Unamuno aprende-se um modelo de reacção, que não precisa de ser adoptado, mas conhecê-lo ajuda a elaborar a nossa própria forma de ver o mundo.

"A nova pedagogia é um erro"

A expressão que dá título a este apontamento é de Inger Enkvist, ex-professora do ensino secundário, catedrática emérita de espanhol e ex-assessora do Ministério da Educação Sueco. Dedicou grande parte da vida académica ao estudo comparativo dos sistemas educativos, tendo publicado diversas obras nas quais dá conta da sua posição crítica no que respeita às opções que têm sido tomadas nesses sistemas. 

Numa entrevista recente que Cristina Galindo, jornalista do EL PAÍS, lhe fez apresenta alguma razões que justificam tal posição (ver aqui). Traduzimos o essencial da entrevista, que apresentamos de seguida.
Isaltina Martins e Maria Helena Damião


Imagem recolhida aqui.
Enquanto a maioria dos especialistas em educação questiona a utilidade de memorizar informação na era do Google, advogando a importância de se mudar a disposição da sala de aula, de se acabar com as disciplinas e de dar mais liberdade aos alunos, Inger Enkvist chama a atenção para a necessidade de se voltar a uma escola tradicional onde esteja presente a disciplina, o esforço e a autoridade do professor.

Questiona os postulados da nova pedagogia, mas também se distancia daqueles que vêem na escola uma fábrica de alunos, uma escola centrada na competição para obterem um bom lugar em classificações mundiais.

Como recorda a sua escola? 
Era pública e tradicional. Não tenho más recordações. Talvez houvesse algumas aulas aborrecidas, mas às vezes a vida é assim. Os alunos chegavam a horas e não havia conflitos com os professores. A Suécia deu-me uma educação gratuita e de qualidade.
Ainda é pertinente a disciplina desse tempo?  
A relação entre pais e filhos baseia-se mais do que nunca nas emoções. Temos uma vida mais fácil e queremos que os nossos filhos também a tenham. Mas a escola não pode deixar de estar consciente de que a sua tarefa principal continua a ser a formação intelectual dos jovens. A escola não pode ser um infantário, nem o professor pode ser um psicólogo ou um assistente social. 
Qual deve ser a finalidade do ensino básico? 
Deve ser muitas coisas, mas a sua tarefa principal é dar uma base intelectual. Dar conhecimentos aos jovens, prepará-los para o trabalho, transmitir-lhes uma cultura e proporcionar-lhes uma ideia de ordem social, porque a escola é a primeira instituição na qual as crianças se integram e, por isso, é importante que percebam que há algumas regras, que o professor é a autoridade e que há que respeitá-lo, assim como aos colegas. 
Porém a tecnologia torna mais difícil controlar as crianças hiperestimuladas 
(...) O novo desafio é controlar o acesso ao telemóvel e ao computador para que se concentrem. A escolas que proíbem o telemóvel fazem bem. Em casa, os pais deviam vigiar o tempo de uso da tecnologia. Proibir é muito difícil porque se criam conflitos, mas um pai deve saber dizer que não. Deve resistir. 
Há pedagogos que afirmam que a escola tradicional é aborrecida e torna as crianças submissas e que se deve "aprender a aprender".  
A escola é um sítio para aprender a pensar com base em informação. Insistir no "aprender a aprender" sem se colocar antes a aprendizagem é uma falsidade porque não podemos pensar sem pensar em algo. Sem informação, não há possibilidade de pensar.  
A escola não deveria ser um lugar onde se está bem? 
A satisfação com a escola deve estar vinculada ao conteúdo: entrar numa aula e aprender-se algo que não se sabia. Mas para se entender algo novo é preciso fazer um esforço. É fundamental que o professor ensine a ler e também como se comportar. É impossível aprender bem sem que haja ordem na aula. Essa é a base principal: comportamento, leitura e apreço pelo conhecimento.  
Qual a sua opinião em relação à tendência de usar almofadas nas salas de aula para que os alunos se deitem? 
Isso é enganar os jovens. Para aprender a escrever, uma criança tem de se sentar bem, olhar para a frente, ter uma folha e papel, concentrar-se… Aprender pode ser um prazer, mas, insisto, requer esforço e trabalho. Há que dizer isso às crianças. Se não, estamos a enganá-los. Tocar violino, por exemplo, não é fácil. Requer muita prática. Os estudos do psicólogo sueco Anders Ericsson mostraram que necessitamos de fazer um esforço prolongado para melhorarmos em qualquer coisa. Para ser bom em algo temos de dedicar-lhe 10.000 horas. E há que fazê-lo de forma consciente e trabalhar com um professor. A sua investigação corrobora a ideia tradicional de uma escola baseada no esforço do aluno sob a direcção de um professor.  
Alguns dizem que não é preciso memorizar porque está tudo no Google. 
Essa é outra ideia falsa. O Google é um instrumento genial. É de uma grande ajuda para os adultos, porque sabemos o que procuramos. Mas para quem não sabe nada, o Google não serve de nada. Há intelectuais que andam por aí dizendo que estudar Geografia não lhes foi nada útil. Creio que se terão esquecido de como e quanto aprenderam na escola. Afirmar tais coisas é uma falta de honestidade para com os jovens. É subestimar a importância da vida intelectual do aluno.  
Em que consiste a nova pedagogia que critica? 
A nova pedagogia é um pensamento que se vê por todo o Ocidente. A Suécia implementou-a nos anos sessenta. Consiste, por exemplo, na reduzida gradação das notas, daí que muitos pensem: para quê estudar se isso não se vai reflectir na média? Dá-se importância à iniciativa do aluno, trabalha-se em equipa e, enquanto desaparecem os exames, aparecem os projectos e as novas tecnologias. Em geral, parece que se vai à escola para fazer actividades, não para trabalhar e estudar. Dá-se mais ênfase ao social do que ao intelectual. Em Espanha essa tendência chegou mais tarde (...). Creio que é um erro. Por um lado, os alunos com mais capacidades não desenvolvam todo o seu potencial e, por outro lado, os que têm menor curiosidade por aprender não avançam. Além disso, muitos gostos são adquiridos, como o da história, o da leitura ou da música clássica. Ao princípio podem parecer aborrecidos, mas, se alguém insiste para que tenhamos um primeiro contacto, é possível que se acabe gostando. Agora muitos jovens escolhem sem ter conhecimento e, claro, escolhem o que é fácil (...). 
Como despertar o prazer[da leitura] se uma criança não está interessada? (...) 
Talvez a princípio tenham que se forçar um pouco, encorajá-los para que se convertam em leitores de ócio.  
Como se faz isso na escola? 
Comprar bons livros para a biblioteca e recomendar um cada sexta-feira. Um aluno pode contar o que leu nessa semana. Fazer pequenas competições para ver quem leu mais. Medir o aumento do seu vocabulário. E explicar que a leitura permitir-lhes-á, quando forem adultos, desenvolverem-se melhor. Se os alunos começarem a ler, quase todos vão perceber que é um prazer. Mas precisam de horas. Calcula-se que na maioria dos países, na primária se dedicam 400 horas à aprendizagem da leitura. Para se ser um bom leitor fazem falta 4.000 horas. É impossível ter tanto tempo na aula. É preciso fazer isso em casa (...).
Mas as humanidades estão a perder peso. 
Diz-se que o amanhã estará dominado pela tecnologia e pelas ciências naturais, e que a história não é importante. Além disso, as provas PISA (exames organizados pela OCDE que avaliam as competências dos alunos de 15 anos em ciência, matemática e leitura) não têm em conta as disciplinas humanísticas porque é difícil comparar esses conhecimentos entre países, assim a competição leva-os a dar mais ênfase às matérias que entram no PISA, descuidando as demais (...). 
A visão do PISA é a de uma escola que deveria funcionar como uma empresa? 
A OCDE é uma organização económica e analisa a educação a partir dessa perspectiva. O que o PISA não revela é se há bom ambiente na aula, se se inculcam bons princípios de trabalho, se se ensinam bem as humanidades, as ciências sociais, as matérias estéticas como a arte e a música, que são essenciais. O PISA é uma prova muito específica que analisa algumas coisas. As escolas e os países deveriam defender que oferecem muito mais do que isso. 
Nos seus livros destaca a Finlândia como um dos grandes modelos. 
A educação na Finlândia tem sido tradicional, mas há dois anos o governo implementou um programa mais parecido com o da Suécia, porque o meu país tem um rendimento escolar inferior mas tem um comportamento económico superior e criou empresas tecnológicas (...). O governo finlandês parece pensar que com um pouco de desordem as suas escolas serão mais criativas. Não acredito nisso. 
A Finlândia era tradicional? Não há exames na educação obrigatória nem os havia antes da reforma que menciona. 
Há que repensar a fobia dos exames. O exame ajuda a centrar-se num objectivo. Em que dia tens de saber estes conhecimentos. Um bom professor ensina coisas aos alunos, faz revisões com eles e dá-lhes provas para resolverem. E constroem outras aprendizagens sobre o que já aprenderam, de modo que os conhecimentos voltam a surgir mais adiante. Não fazem exames sobre algo sem importância (...).  
Na Finlândia não se comparam tanto as escolas, algo que é habitual em Espanha. É assim? 
A Finlândia segue a tradição de confiar nos seus professores. Quando há um controlo estatal do rendimento fazem-se comparações entre as escolas e o ambiente muda. Gera stresse entre os professores e também rancor em relação a quem controla. 
Como deve ser um bom professor? 
Responsável e bem formado. Deve acreditar no poder do conhecimento. Mas não é bom professor só por saber a matéria, nem só porque saber cativar os alunos. Há que combinar ambos os elementos: atrair os alunos para a matéria para a ensinar adequadamente. Há que recrutar professores excelentes que inspirem confiança nos alunos, nos pais e nas autoridades. E, a não ser que haja uma situação grave, devemos deixá-los trabalhar. 
Como foi a sua experiência em sala de aula? 
O aluno tem que respeitar as indicações do professor, fazer as tarefas e, por exemplo, não mentir. Antes, mentir era considerado muito grave. Agora parece que não. Tenho visto jovens que inventam motivos para justificar não fazerem um trabalho ou que escrevem de forma pouco legível para gerar dúvidas ou discutem a todo o momento com os professores. Sei quão desagradável é quando percebemos que um aluno nos tenta enganar (...) [neste caso] é a relação pedagógica que se rompe. 
O que fazer com os alunos que incomodam e que não querem trabalhar?  
Isso é tabu. Considera-se pouco democrático. Diz-se que se deve dar uma oportunidade a todos mas o que se passa quando uma criança conflituosa não quer trabalhar, quando se fala com ele e com os pais mas daí nada resulta? Há que pô-la num grupo à parte para ver se percebe o que se passa e se muda.  
E as crianças que se esforçam, mas não chegam ao nível? 
Pode-se dar-lhes aulas de apoio e oferecer-lhes itinerários diferenciados (...) 
E repetir o ano? 
Fazer uma criança repetir às vezes é adequado mas outras não (...) Agrada-me o sistema de Singapura, onde o lema é que cada criança possa chegar ao seu nível óptimo. Há diferentes formas de o conseguir: uma via, digamos, normal e outra via rápida. A segunda inclui mais conteúdos em menos tempo. Alguns dizem que é menos democrático, mas penso, ao contrário, que é mais democrático porque convém à família e ao Estado. E há menos abandono escolar, um problema muito mais grave.  
Não se aprende também por imitação? Quer dizer, os mais adiantados não podem puxar por aqueles que estão mais atrás? 
Isso funciona quando o grupo tem, em média, um bom nível e um bom professor. E se os que têm de se integrar são poucos e querem fazê-lo. Se não, o que acontece é que os que não querem trabalhar arrastam os demais (...).
Outro depoimento da entrevistada pode ser lido aqui.

FÍSICA E ÓPERA

terça-feira, 24 de julho de 2018

Introdução ao "Verdadeiro Método de Estudar"


Acaba de sair no Círculo de Leitores uma nova edição de uma das obras mais fundamentais da Cultura Portuguesa, o "Verdadeiro Método de Estudar" de Luís António Verney". É coordenador da edição, assinando a introdução e as notas Adelino Cardoso. Este é o volume 27 das "Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa" coordenadas por José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais. Com a devida vénia, publicamos aqui o início da Introdução: 

 Perfil de um pedagogo iluminista

 Luís António Verney (1713-1792) foi uma das figuras mais proeminentes do iluminismo português. Foi um estrangeirado, que, tal como António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1783), concluiu a sua formação no estrangeiro, onde viveu a maior parte da vida, recebendo a influência das novas ideias que iluminavam os espíritos. O seu caso tem, no entanto, algo muito peculiar: uma luta obstinada contra o obscurantismo que cerceava a vida coletiva em Portugal. Com efeito, Verney não fez carreira académica ou eclesiástica, investindo os seus esforços no projeto de reforma do ensino e, mais amplamente, da sociedade portuguesa. O seu olhar acerbamente crítico leva-o a um diagnóstico severo do mal português, um mal endógeno que se caracteriza sobretudo pela insuportável “negligência dos-portugueses em promover tudo o que é cultura de engenho,e utilidade da-república” (p. 59). No entanto, como assinala J. Pina Martins, Verney não foi apenas um “iconoclasta implacável” , porque dedicou o melhor do seu esforço à tarefa de reconstrução do saber e de implementação de uma pedagogia ativa, orientada para o desenvolvimento das potencialidades dos jovens, do seu engenho. A função da escola é aperfeiçoar a natureza, motivando o aluno através do reforço positivo e não de castigos humilhantes. Verney enfatiza este ponto: "Seria bom  que nessa sua universidade se desse um rigoroso castigo, ainda de morte, aos que injustamente acometem os novatos e fazem outras insolências. A brandura com que se tem procedido neste particular foi talvez causa do que ao depois se fez e ainda se faz. Neste particular seria eu inexorável, porque a paz pública, que o príncipe promete aos que concorrem para tais exercícios, pede-o assim, e em outros reinos executam-no com todo o rigor" (p. 124(). Trata-se de uma questão de cidadania, que marca um estilo de relação social.

 Filho de Dionísio Verney e de Maria da Conceição Arnaut, nasceu em Lisboa, onde aprendeu as primeiras letras com o capelão de sua casa, o Pe. Manuel de Aguiar Paixão. Estudou no colégio jesuíta de Santo Antão, entre 1720-1727, no qual se ensinava latim, cultura greco-latina e retórica. De 1727 a 1729, frequentou o curso de filosofia na Congregação do Oratório. Inesperadamente, em abril de 1729, integrou uma expedição militar, cuja missão deveria prolongar-se por seis anos na Índia portuguesa, mas em novembro desse ano, encontra-se matriculado na Universidade de Évora, administrada pelos Jesuítas, e na qual, uma vez concluídos os estudos em filosofia e teologia, obtém em 1736 o grau de mestre em artes. Logo de seguida, viaja para Roma, onde se doutorou em teologia e direito pela Universidade da Sapienza.

A ida para Roma tem certamente a ver com a procura de um meio intelectual capaz de responder às suas exigências, evitando a negligência lusa nas artes do engenho e da crítica, que promovem a plena realização do ser humano. De facto, Roma é o centro da, mas, acima de tudo, é um símbolo de uma civilização memorável, cuja marca perdura através das línguas e culturas latinas, em especial a italiana, e é uma fonte de inspiração para o projeto reformador de Verney. Aí conheceu figuras relevantes do iluminismo italiano, como Ludovico Antonio Muratori (1672-1750), com quem se correspondeu, e Antonio Genovesi (1713-1769), e desenvolveu fecunda atividade intelectual.

Concluída a formação académica, Verney empenha-se na redação da sua obra emblemática, o Verdadeiro método de estudar, publicada anonimamente em 1746 e, desde logo, envolta em grande controvérsia.  Esta obra é, nas palavras do autor,  a peça nuclear de um vasto programa de “restabelecimento das artes e das letras em Portugal”, que exige a elaboração de novos compêndios e de obras de síntese nos vários domínios do saber, tendo em atenção o recente avanço dos conhecimentos. Tal é o sentido da produção verneiana, particularmente intensa nos anos subsequentes à publicação do Verdadeiro método de estudar, nomeadamente: De ortographia latina (1747); Oração sobre a aliança da filosofia moderna com a teologia (1747); Carta ao Maquês de Valença (1748); Apparatus ad Philosophiam et Theologiam (1751); De re logica (1751); De re metaphysica (1753); De re physica (1758); Grammatica latina tratada por um methodo novo, claro, e facil (1758). Deixou inéditos manuais sobre história, retórica, poética, gramática grega e hebraica, bem como um curso de teologia.

 Para ser eficaz, o projeto reformador de Verney implicava a capacidade de influenciar os decisores públicos, ao mais alto nível, incluindo, nomeadamente, a corte. Esta, porém foi uma relação  muito conturbada: a influência que  o Barbadinho - pseudónimo de Verney - teve junto de D. João V nos anos que antecederam a publicação do Verdadeiro método de estudar esfumou-se na sequência da polémica que envolveu essa obra. No início do reinado de D. José, entre 1751-1753, beneficiou de apoio financeiro para a publicação de obras como: De re logica e De re metaphysica. As relações com o monarca esfriaram, recebendo novo alento após a expulsão dos Jesuítas (1759) e subsequente reforma dos estudos menores, que se traduziu na implementação de várias medidas preconizadas por Verney, como seja a proibição da Arte do jesuíta Manuel Álvares, uma gramática latina amplamente utilizada nas escolas. Dentro desse ambiente de bom entendimento com o círculo de D. José, onde pontificava o Marquês de Pombal, Verney foi nomeado, em abril de 1768, secretário de legação em Roma. No entanto, em Junho de 1771, foi demitido desse cargo por Francisco de Almeida Mendonça, primo do Marquês de Pombal e ministro plenipotenciário.  O afastamento em relação à corte de D. José tornou-se irreversível a partir desse momento. Só foi reabilitado após a morte de D. José (1777) e da subida ao trono de D. Maria I. Em junho de 1780, a Academia das Ciências de Lisboa nomeou-o sócio correspondente em Roma, mas ele só ocupou efetivamente o cargo um ano depois. Em setembro de 1790, foi nomeado deputado honorário da Mesa da Consciência.

 No plano material, a principal fonte de rendimentos de Verney terá sido a remuneração de 300 mil réis pelo cargo de arcediago da Sé de Évora, para o qual foi nomeado em 1741.

Verney assume-se como um cidadão da república das letras, que participa na vida cultural europeia, tendo sempre em mente a necessidade de superar o atraso intelectual do Reino de Portugal, contrapondo-lhe o que de mais avançado se fazia na Europa. A forma epistolar adotada no Verdadeiro método de estudar corresponde ao gosto da época, em que a carta é um meio privilegiado de intercâmbio intelectual e um género literário em voga, e simultaneamente ajusta-se da melhor maneira à estratégia de confrontar a situação dos estudos e das letras em Portugal e nos países mais cultos da Europa, de que a Itália é exemplo. Dirigindo-se a um “certo religioso da Universidade de Coimbra, seu amigo”, como é dito na dedicatória “Aos reverendíssimos padres mestres da venerável religião da Companhia de Jesus, no reino e domínio de Portugal” (p. 41), o Barbadinho expõe a sua posição sobre o conjunto dos estudos ministrados em Portugal, respondendo às supostas cartas do seu virtual interlocutor. Nos termos do putativo editor das peças que compõem o livro, trata-se de “cartas eruditas de um autor moderno” (p. 41).

A palavra "moderno", no próprio texto do Verdadeiro método de estudar, reveste-se de alguma ambiguidade, assumindo diversos sentidos: um sentido cronológico, para designar o tempo recente; um sentido doutrinal, para designar ideias e teorias inovadoras; um sentido operatório, para designar a atitude de inconformismo e rotura com o passado, no intento de contribuir para a inovação e progresso intelectual. Verney é moderno sobretudo pelas ideias que defende e pela sua atitude em relação ao saber vigente nas escolas portuguesas, sem outra justificação que a força do costume fortemente entranhado.

 Verney tem uma compreensão do presente que lhe é dado viver como um momento progressivo no processo de desenvolvimento do saber, que, muito longe de ser um processo uniforme, segue ritmos diferentes nos vários domínio do saber, procedendo ora por acumulação de novos conhecimentos, ora por rotura com o legado da tradição. Assim, a polaridade entre tradição e modernidade é uma constante da focagem verneiana do tempo do saber. No entanto, essa polaridade pode alargar-se a todo o passado ou restringir-se à escolástica, implicando o regresso à Antiguidade clássica, num quadro novo e mais inteligível.

 Seguindo a visão mais típica do seu tempo, Verney entende que a ciência emblemática da modernidade, a física newtoniana, rompe com a física escolástica, mas também com a matriz aristotélica que a inspira. Daí a estratégia de confronto, rejeitando a possibilidade de conciliar o antigo e o moderno: “Quem recebe as experiências e, em virtude delas, quer discorrer; deve renunciar o perípato: quem abraça o perípato deve renunciar às experiências: são coisas totalmente opostas; que uma destrui a outra.» (p. 391). Em coerência, o autor aplica o mesmo esquema temporal, jogando na polaridade irredutível entre antigo e moderno, à medicina, que é um prolongamento da física. O ponto de viragem é, neste caso, a descoberta da circulação do sangue por W. Harvey, divulgada nas Exercitationes de motu cordis (1628) , deste autor, pelo que tudo o que os médicos escreveram antes de 1628 não vale nada (cf. p. 479).

 No que se refere às artes da linguagem e às ciências humanas (direito e ética racional), Verney joga na oposição entre modernidade e tradição escolástica, entendida como uma perversão ou degradação dos clássicos, aos quais se deve regressar. A retórica é, sob este aspeto, um caso exemplar. Na retrospetiva que Verney faz desta arte, Aristóteles foi o seu “mestre” e importantes retóricos gregos e romanos (Cícero, Quintiliano e Longino) levaram-na à perfeição. Depois disso, a retórica decaiu, atingindo o seu ponto máximo de degradação no “século da ignorância”, isto é, no final do século XVI e primeira metade do século XVII (cf. pp.242, 257). O processo de restauração (ressalvando a sua pátria de eleição, a Itália, onde se manteve sempre florescente) ainda estaria em curso no século XVIII. Num domínio distinto, o da ética racional, os filósofos antigos inauguraram a reflexão, tendo declinado, quando os escolásticos operaram a separação entre ética filosófica e teológica, com o intuito deliberado de desvalorizar a primeira (cf. pp. 421,426). Nesse domínio, o "século da ignorância" prolonga-se do século X até aos "tempos do Concílio de Trento" (p. 426).

 O cerne do confronto antigos-modernos está no método. Esta palavra adquire uma significação muito ampla no Verdadeiro método de estudar, designando: a organização interna das matérias; a ordem pedagógica da sua exposição e elucidação; os dispositivos técnicos, materiais e relacionais que favorecem o processo de ensino-aprendizagem. Por conseguinte, a questão do método não é meramente formal, envolvendo também os conteúdos e o estilo da relação pedagógica. . (...)"

Adelino Cardoso

"A água na arquitectura e na engenharia" hoje pelas 21 h na esplanada do Café de Santa Cruz, na baixa de Coimbra


Integrado no programa "Ciência Viva no Verão" a ciência sai hoje mais uma vez à rua, à agradável esplanada do histórico Café Santa Cruz, na Baixa de Coimbra (na foto). Venha tomar um café connosco e tertuliar sobre a "água na arquitectura e na engenharia" com dois professores da Universidade de Coimbra, o arquitecto João Paulo Cardielos, especialista em arquitectura de paisagem, e Maria da Conceição Morais de Oliveira  Cunha, especialista em hidráulica e recursos hídricos.  Curiosamente, trabalhando os dois em Coimbra, são os dois naturais de Viana do Castelo. (biografias em baixo). A conversa será à volta  de temas como: a água na paisagem urbana e como levar e trazer a água das cidades. Sendo Coimbra uma cidade com rio, como se relaciona a urbe com o rio e como aproveitamos o nosso rio?

 João Paulo Cardielos

Natural de Viana do Castelo (1963). Arquitecto pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (1986). Docente no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), desde Dezembro de 1992. Defendeu em 2009 a tese doutoral "A Construção de uma Arquitectura da Paisagem", apresentada à UC e aprovada por unanimidade pelos membros do júri, subordinada às relações da arquitectura com o território e com a condição urbanizada actual da paisagem habitada. 

 Professor Auxiliar no Dep. de Arquitectura da FCTUC onde desempenha, presentemente, o papel de Coordenador do Curso de Mestrado Integrado em Arquitectura. Docente Responsável pela Biblioteca do DArq-FCTUC. Investigador sénior do Centro de Estudos Sociais|- Laboratório Associado UC, onde integra a equipa do Núcleo de Estudos|Cidades, Culturas e Arquitectura. Lecciona no Darq-FCTUC, no presente ano lectivo e desde 3005-2006, a disciplina de Projecto V ao 5.º ano do Curso de Mestrado Integrado em Arquitectura. É ainda docente no cursos de doutoramento em arquitectura do DArq-FCTUC, e nos cursos de especialização, mestrado e doutoramento, oferecidos pela Iniciativa EfS |Energia para a Sustentabilidade, da UC. Prestou Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, no DArq-FCTUC, em 1998, e leccionou anteriormente no mesmo departamento, as seguintes disciplinas das Áreas Científicas de Urbanismo e Arquitectura: Sistemas Urbanos; Cidade e Território I e I; Planeamento Físico I e II; Urbanologia; tendo leccionado ainda, no ano letivo transato, as disciplinas de Território e Paisagem I e II. 

 A investigação sobre o tema da paisagem, bem como as relações entre a disciplina da Arquitectura e outras disciplinas implicadas nos processos de construção das paisagens, complexas, do habitar contemporâneo, continuam a dominar o seu  interesse. Essa também a principal motivação do grupo que orienta e que constitui uma equipa  com formações diversas, provenientes do Mestrado Integrado em Arquitectura do DArq-FCTUC, e ainda dos vários cursos da iniciativa EfS | Energia para a Sustentabilidade da UC, e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. 

Maria da Conceição Morais de Oliveira Cunha 

Narural de Viana do Castelo. Graus académicos · Engenheira Civil (FCTUC, 1978), Mestre em Hidráulica e Recursos Hídricos (IST-UTL, 1986); Doctorat en Sciences Naturelles Appliquée (Universidade Católica de Louvain, 1990); Equivalência ao grau de Doutor em Engenharia Civil (IST-UTL, 1991); Agregada em Engenharia Civil (UC, 2004). 

Professora Associada com Agregação da FCTUC, leccionando disciplinas de Gestão Integrada de Recursos Hídricos, Hidráulica Subterrânea, Introdução à Engenharia do Ambiente, Gestão Ambiental e Impactes Ambientais. Professora Convidada na École Polytechnique Fédérale de Lausanne, leccionando a disciplina Planification de l’Utilisation des Ressources en Eau do Master of Advanced Studies in Hydraulic Engineering. · Coordenadora do Mestrado em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente. · Coordenadora do Programa de Doutoramento em Engenharia do Ambiente. Subdirectora da FCTUC. 

Autora (com Luis Miguel Nunes) do livro Groundwater Characterization, Management and Monitoring, WIT press, 2010. · Autora de mais de 200 publicações (artigos em revistas internacionais e nacionais, em conferências e relatórios). Editora de vários livros e membro da comissão editorial de duas revistas e de várias séries de livros. Chairman e membro da comissão organizadora/comissão científica de várias conferências internacionais e nacionais. Coordenadora de vários projectos de investigação nacionais e participante em vários projectos internacionais na área da gestão integrada de recursos hídricos e da gestão proactiva do risco. Orientadora de várias teses de Mestrado e de Doutoramento. Avaliadora da União Europeia para Projectos submetidos no âmbito do 5ª, 6ª e 7ª programas quadro. Delegada Nacional às Acções COST C19 Proactive Crisis Management of Urban Infrastructure (2005-2008) e COST TU0902 Integrated Assessment Technologies to Support the Sustainable Development of Urban Areas (2009-2013).

Apresentação de "Poções e Paixões" no Rómulo

Apresentação do livro "Poções e paixões. Química e ópera", de João Paulo André. A partir do minuto 24 podemos ver e ouvir a cantata BWV 51 de "Louvai a Deus em toda a terra", de Johann Sebastian Bach por um ensemble do Conservatório de Coimbra.

A RECENTE NOMEAÇÃO DE SOFIA PORTELA PARA A PRESIDÊNCIA DA ADSE


Meu artigo de opinião publicado hoje no "Jornal as Beiras":
Apoiando-se numa legislação capaz de fazer mossa a governos de países respeitadores dos seus idosos e doentes, o Partido Socialista, embalado pelas sondagens que lhe eram  favoráveis, resolveu desencantar uma lei de do ano de 1985 que se encontrava a dormir o sono sobressaltado de uma injustiça de bradar aos céus por sonegar um  usufruto de longa data por parte de cônjuges de beneficiários da ADSE.
Desta forma foram expulsos da ADSE octogenários e, até, nonagenários, “com pesares que os ralam na aridez e secura da sua desconsolada velhice” (Garrett), ainda que pequenos pensionistas auferindo reformas de cerca de 250 euros mensais, do Centro Nacional de Pensões, quer tenham ou não descontado para o efeito durante 12 anos (como se, segundo Aristóteles, “a pior forma de desigualdade não fosse  tentar fazer duas coisas diferentes iguais”), alguns deles doentes crónicos com 85% de invalidez, passando a permitir alargar essa inscrição a indivíduos desde que não tenham mais de 65 anos de idade e passem a pagar um quantia mensal para o efeito.
Ou seja, atirou-se, numa espécie de antecâmara da morte, para o Serviço Nacional de Saúde, a rebentar pelas costuras, pese embora o brio e competência da maior parte dos seus médicos e enfermeiros, esses velhos que, muitas vezes, se deslocam em cadeira de rodas para cumprir uma via sacra que lhes possa dar acesso a uma consulta de Dermatologia no Serviço Nacional de Saúde que pode levar anos ou uma cirurgia que chega, por vezes, depois do doente ter morrido!
E isto tudo perante a passividade (retracto-me se informado estar a ser injusto!) dos “compagnons de route” do Partido Socialista de uma desconjuntada “geringonça”, de outros partidos com assento na Assembleia da República e do representante dos beneficiários da ADSE  que está longe dos anos de cofres cheios em que “uma Auditoria do Tribunal de Contas acusou o Governo de financiar o Orçamento doo Estado à custa da ADSE. Funcionários públicos estão a pagar mais 288 milhões do que seria necessário” (“Expresso”, 17/07/2015). Já agora, seria conveniente dar a conhecer publicamente a(s) causa(s) dos seus actuais cofres vazios!
Em face dos impedimentos que foram levantados à permanência dos antigos cônjuges dos beneficiários da ADSE solicito a quem de direito a não retroactividade desta medida voltando eles à situação anterior passando a aplicar-se esta medida apenas a novas inscrições.
Aliás, de uma forma geral, retroactividade criticada, de forma exemplar pelo actual ministro dos Negócios Estrangeiros do Partido Socialista Augusto Santos Silva: “A não retroactividade das leis é o que distingue a civilização da barbárie”. Ou seja, limito-me a desejar um país civilizado!
A recente nomeação de Sofia Portela para presidente da ADSE faz renascer em mim a esperança que não estaremos na presença de mais do mesmo! Ou estaremos?

"O BANCO DO TEMPO QUE PASSA" DE REEVES


Transcrevemos algumas das primeiras secções deste novo livro de Reeves,  saído como os outros na Gradiva, que condensa o seu pensamento:

"1. VISÕES DO MUNDO

Sentir-se em casa no Universo

 A este grande Universo que se nos apresenta quando observamos a olho nu um céu estrelado ou quando o vemos com a ajuda de um telescópio, é preciso aprender a reconhecê‑lo como o nosso habitat, a nossa casa comum, o nosso lar. Ele é a sede de todos os fenómenos que conduziram à nossa existência e àquilo que somos. Abriga toda a nossa história: passado, presente, futuro. É o seu receptáculo.

 Graças ao seu trabalho, desenvolvido ao longo de milhares de milhões de anos e durante milhares de milhões de anos‑luz, podemos observar o chão sob os nossos pés, ganhar consciência da nossa presença num planeta azul, próximo de uma estrela amarela, o Sol, numa sumptuosa galáxia branca, a Via Láctea, parte integrante do superaglomerado de Virgem, ele próprio localizado na imensa região chamada Laniakea, e dizer: «É a nossa casa!»

 O poder da perenidade

 Esta manhã, ao pequeno‑almoço, tirei um pêssego de um cesto. Com uma faca, cortei‑o. Senti sob os meus dedos a resistência do caroço. A sua presença dura e áspera no centro das camadas tenras da polpa recordou‑me o seu papel no futuro da sua linhagem. Enterrei‑o num vaso. Talvez dele nasçam descendentes. Florirão por seu turno e colorirão as primaveras com as suas enternecedoras flores róseas de pessegueiro. Outras pessoas deliciar‑se‑ão com os seus frutos.

 Levantei‑me. Lancei um olhar amoroso às begónias que ornam o armário da cozinha. Nos estames, o pólen já é visível. Senti‑me envolvido por estes órgãos que carregam as promessas do futuro, que ancoram o futuro no presente. São o garante dele. Sem eles, a vida extinguir‑se‑ia inexoravelmente. Como, aparentemente, os outros planetas do Sistema Solar, a nossa Terra seria estéril. Um aspecto notável da vida é a sua capacidade de durar, de se perpetuar em condições por vezes extremamente hostis. Aquilo a que podemos chamar a sua capacidade de perenidade.

Os grandes fetos que se encontram na minha sala são os descendentes de uma linhagem que se reproduziu com sucesso milhões de vezes. Ao longo dos cerca de três mil milhões de anos da sua existência, a vida na Terra sofreu uma série de crises e de perturbações geológicas, climatológicas, meteoríticas que teriam podido aniquilá‑la inúmeras vezes. Isto não aconteceu. Durante os últimos mil milhões de anos, contamos não menos de cinco grandes episódios de extinção maciça que eliminaram grande parte das espécies vivas. O terceiro, o do Período Permiano, há 250 milhões de anos, teria feito desaparecer mais de 95 por cento delas. No entanto, a vida desenvolve‑se cada vez mais e as flores da vegetação desabrocham fielmente em cada Primavera. Os agentes desta força envolvem‑me esta manhã ao pequeno‑almoço.

 Para me incluir neste grande movimento cósmico, reguei as begónias.

As estrelas são nossas avós

 Talvez nunca descubramos em que momento os humanos começaram a questionar‑se. A interrogar‑se sobre a imensa abóbada celeste da noite. A especular acerca das distâncias que nos separam das estrelas e acerca da influência que elas poderiam ter sobre nós.

 Obviamente, com os seus horóscopos, os astrólogos sempre tentaram ler nelas presságios quanto ao futuro. Agora sabemos que as estrelas nos falam do nosso passado. É a mensagem da astronomia contemporânea. Os átomos que elas fabricaram no seu coração quente são os mesmos tijolos que nos constituem. As estrelas são, de certa forma, as nossas muito longínquas avós.

 Somos poeira de estrelas: é esta a bela mensagem da astronomia contemporânea. Milhares de investigadores participaram na sua descoberta. Que recebam os nossos agradecimentos!"

Hubert Reeves


segunda-feira, 23 de julho de 2018

Novidades da Gradiva em Julho

Informação recebida da Gradiva:


O Banco do Tempo que Passa - Meditações Cósmicas

Hubert Reeves

18,50€: 16,65€

Ciência / Ensaio

O MELHOR DO MELHOR DE HUBERT REEVES!

«Hubert Reeves é bem conhecido dos leitores da ‘Ciência Aberta’. Depois do
n.º 2 da colecção, o extraordinário
<https://gradiva.us18.list-manage.com/track/click?u=07df6e7407df6c1b8db59523
1&id=ae8428fa6a&e=76b40763ca
> Um Pouco Mais de Azul, publicou mais uma
dezena de obras, que sempre tiveram leitores fiéis.

Ele é o ‘poeta do espaço’, que tanto nos encanta com os mistérios cósmicos
como nos inquieta com as ameaças à vida na Terra. Este é o livro dos livros
de Reeves: uma súmula dos seus conhecimentos e dos seus pensamentos sobre o
Universo e sobre nós próprios.»

Carlos Fiolhais

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Um Passado Imprevisível

Ernesto Rodrigues

14,50€: 13,05€

Ficção / Romance

Depois do livro Uma Bondade Perfeita, galardoado com o Prémio PEN Clube
Português – Novelística, em 2017, Ernesto Rodrigues surge com mais um
romance. 

Regressado a Budapeste e ao convívio com um velho professor universitário,
vê-se a personagem principal deste livro em busca do passado – imprevisível.
O que sabemos da vida que julgamos ter vivido, se nem sempre assistimos às
consequências dos nossos actos? Conhecemos quem está ao nosso lado? Não será
cada passo condicionado por outrem?

<https://gradiva.us18.list-manage.com/track/click?u=07df6e7407df6c1b8db59523
1&id=a723e928f4&e=76b40763ca



Misteriosa Chama da Rainha Loana (brevemente)

Umberto Eco

22,00€: 19,80€

Romance / Ficção

Uma edição há muito esperada. Um romance fascinante, nostálgico, divertido e
profundamente emocionante de Umberto Eco.

Yambo, um abastado alfarrabista de Milão na casa dos sessenta, perdeu parte
da memória após um acidente vascular cerebral – lembra-se do enredo de cada
livro que leu, de cada verso, mas não se lembra do próprio nome, não
reconhece as filhas nem a mulher e a infância e a família estão envoltas em
névoa.

Numa tentativa de recuperação de si próprio, Yambo decide voltar à casa de
campo da sua infância, onde descobre livros, álbuns de banda desenhada,
revistas e discos de uma época distante. Começa aí uma viagem em busca do
tempo perdido, povoada de imagens e personagens ora fictícias, ora reais,
mas todas importantes para a redescoberta de si.

<https://www.gradiva.pt/cat%C3%A1logo/detalhe-do-produto/?product=44959

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...