domingo, 7 de janeiro de 2018

A CIÊNCIA NÃO É SÓ DOS CIENTISTAS

Texto primeiramente publicado na imprensa regional.



A ciência não é só dos cientistas. A ciência é de todos os cidadãos. Mas, para que todos possamos ter acesso à ciência desenvolvida pelos cientistas, é necessário a mediação de divulgadores e comunicadores de ciência.
Martin Rees, astrofísico de renome mundial, é um dos incontornáveis divulgadores de ciência do nosso tempo. Astrónomo Real da Grã-Bretanha e ex-presidente da Royal Society de Londres (a mais antiga sociedade científica do mundo), Rees escreveu vários livros de divulgação científica entre os quais o popular “O Nosso Habitat Cósmico”, publicado em Portugal pela Gradiva.
Em Outubro passado, a Gradiva publicou na sua prestigiada colecção “Ciência Aberta” mais uma obra de Martin Rees: “Para o Infinito – Horizontes da Ciência”. Parece-me pertinente transcrever aqui o início da introdução deste livro: “A ciência está a interferir mais do que nunca nas nossas vidas. Muitos assuntos políticos fulcrais – energia, saúde, ambiente, etc. – têm uma dimensão científica. Na verdade, as escolhas que os nossos governos fizerem nas próximas décadas podem determinar o futuro da Terra. O século XXI é o primeiro na História da Terra em que uma espécie, a nossa, tem o poder de determinar o destino de toda a biosfera. A ciência não é apenas para os cientistas: as decisões sobre o modo como ela é aplicada devem resultar de um debate público alargado. Mas, para que isso aconteça, todos nós devemos ter uma «ideia» dos conceitos-chave da ciência. Além da sua importância prática, estes conceitos devem ser parte da nossa cultura comum. Os grandes conceitos da ciência  – ou, pelo menos, umas «luzes» destes – podem ser transmitidos através de termos não técnicos e imagens simples.”
Com uma linguagem muito acessível, ajudada por uma boa tradução do original inglês para o português feita por Maria de Fátima Carmo, Martin Rees apresenta-nos neste livro vários aspectos da relação entre a ciência, os cientistas, os políticos, o público em geral, entre outros assuntos como seja o do próprio futuro da ciência. O livro é composto por quatro capítulos que resultaram da transcrição de igual número de palestras, incluídas nas populares Palestras Reith da BBC inglesa, que o autor concebeu e que foram proferidas em 2010. O seu conteúdo continua actual e muito pertinente. Os quatro capítulos são: O Cidadão Científico; Sobreviver ao Século; O Que Nunca Saberemos; Um Mundo em Fuga. Cada um ocupa cerca de trinta páginas, que preenchem bons momentos de leitura sobre assuntos que nos dizem respeito a todos. Reflexões lúcidas sobre problemas que estão na agenda do nosso mundo actual, como sejam o aquecimento global, ou o impacto da internet na nossa sociedade. Os quatro capítulos podem ler-se independentemente um dos outros, pelo que a curiosidade do leitor guiará a sua leitura.
Como escreve Martin Rees, a ciência, para além de nos permitir ter noções que sustentam opiniões próprias sobre os maiores desafios da humanidade, é uma fonte de prazer e de maravilhamento para toda a gente. Assim também é com a leitura deste livro que aconselho a todos.


António Piedade

1 comentário:

Anónimo disse...

Na esteira do parágrafo introdutório de António Piedade, e relembrando que o papel do professor na escola continua a ser essencial, apelo às mais altas personalidades, que superintendem este blogue, no sentido de que movam influências, junto do poder político centralizado no Terreiro do Paço, que levem à criação de uma disciplina que tenha por objeto a divulgação científica junto dos jovens. As disciplinas científicas tradicionais, como Física e Química, ou Biologia, continuariam a ter lugar nos currículos, mas perdendo o seu caráter obrigatório, e reorientando-se para um público-alvo de marrões, passe o jargão académico,sendo o acesso aos conceitos básicos da ciência, agora despojados da matemática que tanta gente tem afugentado de uma promissora carreira científica, garantido pela nova disciplina de noções básicas de ciência, a ser lecionada por bons comunicadores, aliviados de lastro científico, a bem do facilitismo e do obscurantismo!

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