quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

"A Educação é das áreas sobre a qual todos opinam"

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas Públicas, escreveu recentemente um artigo para o jornal Público com o título Mais respeito pela Educação! Nele aponta um problema central e crucial da educação escolar: a sempre pronta opinião de quem nada sabe do assunto.
"A Educação é das áreas sobre a qual todos opinam — muitos considerando que pelo facto de terem passado pelos bancos das escolas ganharam essa legitimidade, outros simplesmente porque sim e uma minoria porque a democracia os investiu como representantes do povo... 
Não raras vezes, em debates sobre Educação (no âmbito do não superior) promovidos pelas mais diversas entidades, estes primam pela ausência de professores e alunos, permitindo que erros crassos grassem ao sabor das convicções. 
Regra geral, quase sempre estão presentes autarcas (reconheço em alguns brilhantismo neste domínio, tanto no discurso como na ação), professores universitários (das mais diversas proveniências académicas) — procuro a razão de alguns destes docentes, ilustres cronistas da nossa praça, raramente escreverem sobre os problemas que enfermam o ensino superior, preferindo compadecer-se em relação ao ensino para o qual olham de cima — e outras personalidades, mais ou menos enigmáticas. (...).
Questiono a usurpação ilegítima da “defesa da escola pública” como chavão na caça aos votos, quando não se concretiza ou explica o que se pretende implementar no terreno. A Educação merece a consideração de todos nós e muito mais! É necessário que fundamentem com rigor as suas abordagens ideológicas para a Educação, não se ficando por frases bonitas, que soam bem, mas impregnadas de vacuidade (...).
Que sabem mais dizer sobre Educação alguns dos nossos políticos que não seja serem defensores da escola pública? O que pensam eles sobre a instabilidade legislativa neste setor? Que medidas se predispõem promover para a valorização da profissão docente? Como se posicionam face a um Pacto na Educação tendo em conta questões estruturais? Qual a sua opinião sobre as mudanças constantes na avaliação dos alunos? Como se definem relativamente à não estabilização curricular? Perspetivam colocar os principais problemas da Educação na agenda política? Estas são algumas das questões a que, prescindindo de divagações ou subterfúgios, deveriam dar resposta, sem se fecharem em banalidades ou em registos politicamente corretos, esgotados já de sentido. 
Urge debater séria e frontalmente a Educação. Não há mais paciência para a demagogia política, para a opacidade declarada em termos gerais, manifestamente abstratos, sobejamente apropriada pelos representantes dos partidos políticos quando se referem à Educação do país, devendo assumir como sua obrigação a explanação, com verdade, do que pensam e estão resolvidos a fazer em prol da área mais importante de qualquer sociedade democrática moderna (...)."

1 comentário:

Anónimo disse...

As grandes questões são:
A escola atual, herdeira do modelo salazarista, ainda faz sentido?
Para que serve a escola?
Para dar o pontapé de saída, eu direi que a escola de Salazar não faz sentido, sobretudo porque Salazar já morreu.
Por outro lado, mesmo com as enormes transformações culturais, alavancadas por um progresso científico e tecnológico fulgurante, a que o mundo assistiu nos últimos cinquenta anos, tenho para mim que ensinar a ler escrever e contar continuarão a ser tarefas essenciais dos professores e da escola.
Mas construir farsas gigantescas, como a de pretender que se ensina o Modelo Quântico para o Átomo, ou as leis da Termodinâmica, a alunos de cursos profissionais que, com uma boçalidade extrema, se deslocam à escola atrás da cenoura e do diploma que lhes garante um futuro a carregar caixotes de um lado para o outro, só pode conduzir ao desastre da construção de uma sociedade de ignorantes!
A escola, enquanto sumidoiro de dinheiro e de professores e educadores de infância, formados em universidades e politécnicos ao ritmo das máquinas de fazer salsichas, é insustentável!

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