segunda-feira, 31 de julho de 2017

Identidade de género e paradoxos evolutivos


                                  
Vivemos tempos conturbados. Se por um lado vivemos numa época onde a informação e educação são cada vez mais acessíveis, por outro vivemos num tempo onde podemos escolher confirmar as nossas ideias do mundo, fechando-nos sobre as nossas ideologias e preconceitos. O grande problema dos preconceitos é que tendem a focar-se em minorias, geralmente ostracizando-as e retirando-lhes direitos. Nestas semanas assistimos às declarações de António Gentil Martins acerca da “anomalia” da homossexualidade. De uma fonte de preconceito semelhante, chegam-nos as notícias dos EUA – o afastamento dos transsexuais das operações militares estadunidenses.

Parte das discussões envolvem argumentos biológicos. Em algumas discussões, transsexualidade, homossexualidade são consideradas  desvios da norma, doenças, anomalias, abominações. Mas o que sabemos da biologia da identidade de género e das preferências sexuais?

Identidade de género: Género biológico? Género cultural?

Em Janeiro de 2017 a National Geographic dedicou a edição mensal da revista à “revolução do género” – Gender Revolution. Na capa surge o caso de Avery, uma menor transsexual. Com base em evidências científicas, o editorial lança a declaração de guerra à imposição de género à nascença:

“The most enduring label, and arguably the most influential, is the first one most of us got: “It’s a boy!” or “It’s a girl!” [O mais definitivo rótulo, e talvez o mais influencial, é o primeiro que é dado à maioria de nós: “É um rapaz!”, “É uma rapariga”.]
                       
Na revista discutem-se as bases culturais e biológicas atrás da noção actual de género. As bases científicas sugerem que devemos continuar a desenvolver o conceito de género além da dualidade Masculino/Feminino. Os géneros, sendo melhor retratados como um contínuo, devem incluir minorias transexuais, cissexuais, não conformistas, não-binários, sem género. Ressalvo os principais pontos retirados deste artigo, mas com o devido aviso - é de elevada relevância ler completo.

O “género”, como  o pensamos, é uma amalga de conceitos biológicos que incluem a anatomia interna e externa, hormonas e cromossomas sexuais, alicerçados a conceitos culturais. Focando-nos na biologia, é natural que indivíduos que sejam diagnosticados com base apenas nos órgãos sexuais à nascença possam não se sentir confortáveis, com o passar dos anos, com a construção e expectativas sociais associada ao seu género. A determinação “XX” / “XY” não é perfeita e a dualidade Masculino/Feminino é insuficiente em certas situações. A título de exemplo, existem casos onde o gene SRY - normalmente presente no cromossoma Y e responsável pela diferenciação sexual masculina - se torna disfuncional através de uma mutação, resultando com que uma pessoa “XY” seja diagnosticada como rapariga à nascença. Noutros casos, o gene aparece num cromossoma X e surge um rapaz com os cromossomas “XX”. Outras alterações incluem os Síndromes de Insensibilidade a andrógenos e o Síndrome de insensibilidade completa a andrógenos onde a resposta a sinais hormonais é insuficiente e surge uma rapariga “XY”. Neste sentido, a determinação biológica do sexo é complexa e não deve ser submetida a expectativas ou preconceitos de funcionamento pseudobiológico.


Identidade e preferência sexual: Homossexualidade, terceiro género – um paradoxo evolutivo?

Existem diversas comunidades espalhadas pelo mundo onde a existência do terceiro sexo é considerado um evento normal. No Sul da Ásia existem os <hijra>, na Nigéria os <yan daudu>, no México os <muxe>, em Samoa os <fa‘afafine>, na Tailândia os <kathoey>, em Tonga os <fakaleiti>, no Hawai os <mahu> e na República Dominicana existem os <guevedoce>.

Em relação à dimensão científica, ocorre a discussão do “paradoxo evolutivo” do terceiro sexo e da homossexualidade. Este paradoxo baseia-se no seguinte raciocínio: se o objectivo biológico de uma espécie é reproduzir-se, os genes associados ao terceiro sexo [geralmente infértil] e à homossexualidade, não teriam sido purgados através da selecção natural? Existem algumas hipóteses que exploram esta questão:

1.         A hipótese do gene de antagonismo sexual (sexually antagonistic gene hypothesis) postula que certos genes podem ter efeitos negativos quando presentes num sexo, porém esse efeito negativo é contrabalançado por benesses consideráveis no sexo oposto. Por exemplo um gene que “impeça” a reprodução de um homem mas que aumente a fertilidade quando expresso nas suas irmãs manter-se-à no fundo genético (gene pool)  da espécie.
2.         A segunda hipótese é a hipótese da selecção dos parentes (kin selection hypothesis) que postula que o investimento em termos de tempo, dinheiro e protecção dos indivíduos que não se reproduzem é investido nos sobrinhos e sobrinhas, aumentando assim as chances de sobrevivência e reprodução destes.
3.         Uma terceira hipótese discutida é a da “sobre dominância” (overdominance hypothesis) onde os heterozigóticos terão vantagens sobre homozigóticos, perpectuando a existência de um gene no fundo genético de uma espécie.

Preconceito e sociedade

Da próxima vez que discutir este tema e ouça as palavras “aberrações” ou anomalias” biológicas, não se conforme com a pretensão de facto científico alternativo. Existe um contínuo sexual de género e fenómenos como a homossexualidade ou o terceiro sexo foram descritos em muitas espécies que não a nossa. Se há algo que se evade da lógica do natural é a construção social feita pelo ser humano. Rotular alguém de anormal nunca auxiliou ninguém. Pelo contrário, apenas se geram injustiças, violências pessoais e estruturais e se bloqueia o funcionamento saudável da sociedade. Anormal é escolher ser-se intolerante na era da informação.

José Cerca de Oliveira - Doutorando em Genómica Evolutiva e Zoologia
Paulo Nogueira Ramos - Licenciado em Relações Internacionais, estudante de Psicologia


"Valerian" - o trailer do filme de ficção científica de Luc Bresson

VINTE E QUATRO ANOS DE DYLAN THOMAS

Um poema de aniversário de Dylan Thomas em tradução de Herculano Esteves:

VINTE E QUATRO ANOS

Vinte e quatro anos recordam as lágrimas dos meus olhos.
(Enterrai, por medo, os mortos antes que eles convulsivos se enterrem.)
No arco da passagem natural dobrei-me como um alfaiate
a cortar os panos para a viagem
sob a luz do sol carnívoro.
Vestido para morrer, marchei pomposo e sensual,
com as veias roxas cheias de moeda de troca,
rumo, último, à cidade princípio;
Avanço tanto quanto o sempre é.

Twenty Four Years

Twenty-four years remind the tears of my eyes.
 (Bury the dead for fear that they walk to the grave in labour.)
In the groin of the natural doorway I crouched like a tailor
 Sewing a shroud for a journey
By the light of the meat-eating sun.
Dressed to die, the sensual strut begun,
With my red veins full of money,
In the final direction of the elementary town
 I advance as long as forever is.

sábado, 29 de julho de 2017

Coimbra em 150 s

ESPAÇO E TEMPO DE ESTUDO


Novo post do psiquiatra Nuno Pereira:

    O local e o horário constituem os pilares fundamentais do estudo pós-letivo. De facto, são condições básicas para o êxito não só dispor duma sala sem distrações e apenas com os materiais necessários, como também ter um horário que divida de modo equilibrado o tempo de trabalho (aulas mais estudo), de lazer e de sono.

    Sabe-se que as infraestruturas escolares influenciam o processo de aprendizagem, mas frequentemente negligencia-se o ambiente físico em casa favorecedor da concentração no estudo. Por sua vez, o horário semanal permite focar o objeto do estudo, pelo que o registo do nome das disciplinas programadas para estudar em cada dia aumenta a probabilidade da execução. Assim, associar um meio tranquilo e arrumado à focalização da atenção num conteúdo específico induz um estado mental propício a uma aprendizagem ótima.

    Com particular incidência nos primeiros anos de escolaridade, os pais ou encarregados de educação são responsáveis por garantir o espaço e controlar o tempo para estudar após as aulas, mas não lhes cabe desempenhar o papel de professores nem estes se podem substituir àqueles. É certo que arranjar um local para os filhos e velar pelo cumprimento do seu horário estão muitas vezes - mas nem sempre - dependentes da capacidade económica e do planeamento familiar, o que à partida cria uma desigualdade entre os alunos. Porém, a fórmula acabada para o desastre é esperar que vençam sem organização e rotina. Compete outrossim aos diretores de turma, como mediadores entre professores, alunos e encarregados de educação, envidar esforços para o envolvimento destes últimos, insistindo na importância dum espaço organizado e ajudando a elaborar um horário que inclua, para além do tempo letivo (as explicações contam como aulas), o tempo de estudo autónomo, de lazer e de sono.

    As circunstâncias de espaço e tempo, estruturantes duma vida académica bem sucedida, devem ser, pois, uma preocupação prioritária dos alunos e, em especial no ensino básico, também dos pais ou encarregados de educação e diretores de turma. A cada um as suas responsabilidades.
              

                                                                     Nuno Pereira (psiquiatra)

sexta-feira, 28 de julho de 2017

HUMOR: "ASSALTO" A TANCOS


“O AVÔ E OS NETOS FALAM DE GEOLOGIA”, Âncora Editora, 2017

Post recebido do autor, Galopim de Carvalho:

Introdução

Embora o título sugira uma obra destinada a juvenis, “O AVÔ E OS NETOS FALAM DE GEOLOGIA”, escrito em estilo de diálogo, foi concebido a pensar nos Professores que ensinam Geologia nas nossas Escolas, nos seus alunos e, ainda, na generalidade dos leitores interessados em descobrir a maravilhosa história do nosso Planeta. Esta realização nasceu da experiência que mantive e continuo a manter, proferindo lições por todo o país e em todos os níveis, do Básico ao Secundário e, até, nos Jardins-Escolas. Sem perda de rigor científico, criei e aprendi a usar o discurso pedagógico mais adequado a cada um destes níveis. E é esse discurso que coloco aqui à disposição dos leitores.

Uma reflexão sobre o ensino de Geologia nas nossas escolas

Nos domínios do conhecimento em que me permito dar o meu testemunho e a minha opinião, posso afirmar que quem, a nível político, tem decidido sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares referentes à disciplina de Geologia, mostrou desconhecer a real importância deste domínio científico e tecnológico como motor de desenvolvimento e bem-estar, mas também como componente da formação cultural dos portugueses.
É preciso e urgente olhar para esta realidade. É preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si meia dúzia de professores desta disciplina capazes de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino desta área curricular, a começar nos programas, passando pelos livros e outros manuais adoptados (que envolvem interesses instalados), pela formulação dos questionários nos testes e nos exames, sem esquecer as necessárias e convenientes formação de base e actualização científica permanente dos respectivos professores.

Sempre disse e insisto em dizer que o professor deve saber muito, mas muito mais do que o estipulado no programa da disciplina e que deve ter, por missão, ensinar e, não o esqueçamos, formar cidadãos. Não pode, de maneira nenhuma, ser um mero transmissor das noções, tantas vezes estereotipadas e acríticas, dos manuais de ensino.

E esse muito mais está na abrangência dos seus conhecimentos, não necessariamente especializados ou de ponta (indispensáveis no ensino superior), mas ao nível de uma sólida cultura científica e humanística. E isso vem de trás, da formação cívica que adquiriu, do modo como passou pela escola, pela universidade e do proveito que tirou desse privilégio, numa sociedade plena de desigualdades como tem sido e ainda é a nossa. Mas esses conhecimentos, todos sabemos, estão ao seu alcance nas bibliotecas das escolas e, agora mais do que nunca, na inesgotável, imediata e acessível via online. Para tal, os professores necessitam de tempo e, desgraçadamente, forçados a múltiplas tarefas paralelas do ensino, tempo é coisa que os professores não têm. Afigura-se-me pois, que, para além de uma necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino desta área curricular (e, certamente, de outras), há que libertar os professores de, praticamente, todas as tarefas que não sejam as de ensinar.

O tempo que estamos a viver alarga o fosso entre os que estudam e, assim, aspiram e conquistam o direito à cidadania, e os outros, os que não vêem qualquer interesse no estudo. Em complemento da sua nobre missão de ensinar, o professor deve fazer sentir esta realidade aos seus alunos, em especial aos mais desprotegidos e atingidos pela exclusão social que grassa em tantas escolas marcadas pela suburbanidade crescente que caracteriza as sociedades desenvolvimentistas. Transmitir esta mensagem aos jovens é um dever moral dos professores, essencial na luta contra o insucesso escolar e pelo direito a uma condição humana de maior dignidade. Não é fácil, mas não é impossível esta tarefa. É bom lembrar que cidadania e conhecimento são indissociáveis e, assim, este tem forçosamente de ser democrático.

O profissional de ensino tem de ter arte (por vocação própria ou porque para tal foi formado) de levar os educandos a aprenderem e a gostar de saber e, assim, gostarem das matérias que têm, por dever, transmitir-lhes; levá-los a terem prazer no convívio com ele e, por esta via, sentirem a escola como algo importante nas suas vidas. Mas há outras chaves para o referido sucesso a considerar, sobretudo, face aos alunos mais crescidos, que também a experiência me ensinou. Uma, é conseguir inculcar neles a noção do dever cívico de estudar, levando-os a tomarem consciência do privilégio que têm na condição de estudantes e das suas obrigações face à sociedade que os sustenta. A outra chave não menos importante é estimular-lhes a autoestima. Fundamental no binómio ensino/aprendizagem, compete, em grande parte, ao docente, conduzir o aluno nesses três sentidos. Quaisquer que sejam as matérias em causa ou os níveis de escolaridade e etário do discente, estas chaves fazem dele alguém que tem gosto em aprender, que frequenta a escola com prazer, que encara o estudo como um dever de cidadania e tem brio na sua condição de estudante. Para tal, o professor tem de conseguir estabelecer com o aluno uma aproximação de confiança e afectividade mútuas que lhe permita actuar, com êxito, nestas vertentes. Foi assim a minha relação com os muitos milhares de alunos com quem troquei saberes e afectos.

Quem ensina tem de saber ganhar a confiança dos alunos e, também, o seu afecto. Feliz do estudante que goste da convivência com o seu professor, pois essa relação é decisiva na sua atitude face à escola e ao gosto de aprender. Duplamente feliz se esse professor estiver à altura do seu papel que, para além de educacional é, sobretudo, social.

Sobre o livro
Naquele Verão, era quase sempre com o Sol a descer para lá do Oceano, que o avô falava das muitas coisas que haviam preenchido o seu mundo como geólogo e professor de geologia. Sob o alpendre coberto de hera, no pequeno terraço anexo à casa, uma grande mesa com tampo de ardósia, onde se podia escrever com giz, e algumas cadeiras eram o centro preferido para estas conversas com os três netos. Liberta a mesa de tudo o que servira o jantar, o Domingos e os gémeos Francisca e Mateus, rodeando o avô, tinham nos olhos o brilho da curiosidade. Mais velho, o Domingos, terminara o 7º ano de escolaridade. O Mateus e a Francisca tinham concluído o 6º. O tempo de férias era agora todo deles, com praia pela manhã, jogos e leituras, dentro de casa, nas horas mais quentes da tarde e aquele apetecido convívio ao fim do dia, que os conduzia a maravilhosas viagens e aventuras.
Embalados nas palavras do avô, “caminhavam” sobre rochedos em altas montanhas, “corriam” no solo fofo das estepes e pradarias, “pisavam” o chão áspero e duro dos vales secos e gélidos da Antárctida, “respiravam” a humidade quente e perfumada da floresta amazónica, “mergulhavam” nas profundezas do oceano e “nadavam” nas águas tropicais, límpidas e mornas, por entre corais e peixinhos de todas as cores. Ouvindo as histórias que o avô contava, “subiam” ao topo de vulcões jorrando lavas incandescentes ou projectando nuvens imensas de cinza, “escorregavam” nas dunas escaldantes no deserto do Sahara ou “percorriam” grutas repletas de cristais e imaginavam-se entre dinossáurios e muitos outros animais desaparecidos.

Encorajado pelo interesse e pela atenção dos netos, o avô não parava de falar. Paisagens que percorrera, profundas minas a que descera, museus que visitara, grandes figuras que conhecera e episódios que vivera ou presenciara eram condimentados com ensinamentos nos domínios em que trabalhara e que, ao mesmo tempo, estivessem entre as matérias constantes dos programas escolares destes três elementos do seu pequeno e interessado auditório.

E era tudo tão agradável e entusiasmante. Ouvir o avô era como ver um filme ao lado de alguém que explicava e tornava fácil o que parecia difícil de entender. A cada passo, as novas palavras necessárias ao discurso iam sendo descodificadas, “traduzidas por miúdos”, como dizia o avô, ganhando significado.

Galopim de Carvalho


quinta-feira, 27 de julho de 2017

O OITO E O INFINITO


Meu texto saído no número do 8.º aniversário do "Artes entre as Letras"


“Se as portas da percepção fossem limpas, tudo apareceria ao homem como realmente é: infinito.”
William Blake

 O “Artes entre as Letras” faz oito anos – muitos parabéns à Nassalete Miranda e a toda a sua extraordinária equipa. Embora o sete tenha uma carga mítica maior, o número oito é muito interessante em matemática, na computação, em física, na química, na biologia e para além das ciências, na literatura, na música e na arte em geral.

Oito é dois ao cubo ou dois levantado à potência três (2x2x2=8), pelo que, depois do caso trivial do um (1x1x1=1), é o primeiro número inteiro que é um cubo. Por falar em cubo, oito é o número de vértices de um cubo, um dos  sólidos geométricos de Platão. É o primeiro número que não é um primo ou um semiprimo (produto de dois primos distintos). E é a base do sistema numérico octal usado nos computadores (um byte são oito bits, ou um octeto). Em física nuclear, o oito é um número dito “mágico” pois, por um efeito quântico, fornece estabilidade especial ao núcleo atómico (o núcleo do oxigénio tem precisamente oito protões). Em física de partículas, foi a associação de um grupo de oito partículas (“a via octogonal”) que conduziu  o físico norte-americano Murray Gell-Mann no início dos anos 60 à descoberta dos “quarks”, as partículas fundamentais que formam os protões e os neutrões. No sistema solar existem oito planetas, desde que em 2006 Plutão foi despromovido de planeta a planeta-anão. Em química, oito é o número máximo de electrões que podem ocupar uma camada de valência: O oxigénio tem oito electrões, cuja carga contraria a dos oito protões.  Na biologia, as aranhas e os cefalópodes (como o polvo) têm oito patas ou braços. Na religião os budistas consideram a “via octogonal” como um importante princípio, ligado a oito estados de consciência  (o norte-americano Timothy Lears, muito conhecido nos anos 60,  também propôs oito níveis de consciência). No judaísmo a circuncisão é feita ao oitava dia de vida. No Cristianismo oito é o número das Bem-Aventuranças. No Islamismo oito é o número de portas  do céu.  O oito é um número de sorte dos chineses, pelo que os Jogos Olímpicos de Pequim começaram a 08/08/08, exactamente às 9:08:08 horas do tempo local. Na música fala-se intervalos de uma oitava. No xadrez joga-se num tabuleiro com 8x8 casas, com oito peões de cada lado. Na literatura, as oitavas são uma forma poética. E o oito aparece de forma simbólica em livros dos escritores ingleses William Shakespeare e Lewis Carroll.

O infinito é, obviamente, muito maior do que oito. Significa o que não tem limite, o que é maior do que qualquer número, como acontece  com a sucessão dos números inteiros positivos, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, ... A relação do infinito com o oito faz-se pelo facto de o símbolo do infinito ser um oito deitado. De facto, o símbolo de infinito, que já entrou na cultura popular (uma jóia em forma de oito deitado significa amor infinito), é muito posterior ao símbolo do oito que remonta à Antiga Índia, Foi no século XVII que o matemático inglês John Wallis introduziu o símbolo que hoje usamos para o infinito, tal como introduziu o inverso desse símbolo para significar uma quantidade infinitesimal, isto é, uma quantidade arbitrariamente pequena. O infinito tem muito mais que se lhe diga do que o oito. Embora o infinito seja um conceito que remonte aos antigos gregos, os matemáticos tiveram alguma dificuldade em incorporá-lo nos seus corpos de doutrina.  Só recentemente foram desenvolvidas forma de cálculo, chamado “não standard”, que evita alguns problemas dos infinitos do cálculo infinitesimal de Newton e Leibniz. Mesmo assim, se não se tem o devido cuidado, é fácil entrar em paradoxos quando se fala do infinito (estes paradoxos remontam ao tempo da Antiguidade Grega, veja-se a história de Aquiles e da tartaruga, contada por Zenão).O infinito tem muito que se lhe diga.

Além do infinito matemático existe um infinito físico, por exemplo o infinito no espaço ou o infinito no tempo. Provavelmente, o nosso Universo é infinito, mas não temos a certeza.  Há quem especule até que há infinitos universos, constituindo o chamado Multiverso. Provavelmente nunca o saberemos, De qualquer modo, só temos acesso directo a uma parte do nosso Universo, aquela que está dentro da esfera limitada pelo horizonte observável. Por causa do Big Bang, o acontecimento “explosivo” com que o Universo se iniciou há cerca de 14 mil milhões de anos ( o Universo é infinito no tempo para a frente, mas não o é para trás, é semi-eterno em vez de ser eterno), a matéria está a sair para fora da grande esfera do observável, fazendo com que o número de objectos astronómicos contáveis nessa esfera seja cada vez menor. É como se as nossas portas da percepção estivessem fechadas.


E há ainda, claro, o infinito da filosofia e da teologia que vai para além do infinito da física.  Sobre esse infinito eu só sei que nada sei. 

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Foi, enfim, publicado o despacho que legitima o "O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória"

Assinado no dia 9 de Julho passado pelo senhor Secretário de Estado João Costa, foi hoje, dia 26 de Julho, publicado no Diário da República o tão aguardado despacho que legitima o "perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória". É o Despacho n.º 6478/2017 do Gabinete do Secretário de Estado da Educação. 

Tal perfil será de agora em diante "o referencial para as decisões a adotar por decisores e atores educativos ao nível dos estabelecimentos de educação e ensino e dos organismos responsáveis pelas políticas educativas", portanto, constitui-se como matriz comum para todas as escolas e ofertas educativas no âmbito da escolaridade obrigatória, designadamente ao nível curricular, no planeamento, na realização e na avaliação interna e externa do ensino e da aprendizagem."

A prosa é a que se previa: estafada e demagógica. Vale a pena passar o olhos pelo texto:
A educação e a formação são alicerces fundamentais para o futuro das pessoas e do país. A aposta do XXI Governo Constitucional numa educação para todos, de qualidade, exige uma intervenção que tenha em consideração os desafios colocados à educação no quadro da sociedade atual. 
As questões relacionadas com identidade e segurança, sustentabilidade, interculturalidade, inovação e criatividade estão, de facto, no cerne do debate atual. 
À escola, enquanto ambiente propício à aprendizagem e ao desenvolvimento de competências, onde os alunos adquirem as múltiplas literacias que precisam de mobilizar, exige-se uma reconfiguração, a fim de responder às exigências destes tempos de imprevisibilidade e de mudanças aceleradas. 
A este propósito, a Constituição da República Portuguesa estabelece, no n.º 2 do artigo 73.º, que «o Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida coletiva». 
A Lei de Bases do Sistema Educativo, em consonância com a Lei Fundamental, estipula, no n.º 4 do artigo 2.º, que «o sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social, contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho». Por sua vez, no n.º 5, assume que «a educação promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva». 
Esta resposta às necessidades resultantes da realidade social e este desígnio de proporcionar aos alunos um desenvolvimento integral, previstos na Lei de Bases, convocam o sistema educativo para a definição de um perfil consentâneo com os desafios colocados pela sociedade contemporânea, para o qual devem convergir todas as aprendizagens, garantindo-se a intencionalidade educativa associada às diferentes opções de gestão do currículo. 
Com efeito, urge garantir, a todos os jovens que concluem a escolaridade obrigatória, independentemente do percurso formativo adotado, o conjunto de competências, entendidas como uma interligação entre conhecimentos, capacidades, atitudes e valores, que os torna aptos a investir permanentemente, ao longo da vida, na sua educação e a agir de forma livre, porque informada e consciente, perante os desafios sociais, económicos e tecnológicos do mundo atual. 
Constitui, pois, imperativo do Ministério da Educação estabelecer um referencial educativo único que, abrangendo as diferentes vias e percursos que os alunos podem escolher, assegure a coerência do sistema de educação e dê sentido à escolaridade obrigatória. Este referencial abrange e inclui todas as oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem de crianças em contexto familiar, a par com a educação de infância nas respostas formais de creche e jardim-de-infância. 
O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, estruturado em princípios, visão, valores e áreas de competências, constitui, pois, um documento de referência para a organização de todo o sistema educativo e para o trabalho das escolas, contribuindo para a convergência e a articulação das decisões inerentes às várias dimensões do desenvolvimento curricular. 
O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória foi submetido a debate e discussão pública, com ampla participação de escolas — a quem foi sugerido a promoção de um debate e análise interna ao nível dos diferentes órgãos —, de docentes, alunos, associações de estudantes, associações de pais e encarregados de educação, associações profissionais de professores e sociedades científicas, sindicatos de professores, investigadores e instituições de ensino superior, instituições da administração pública, o Conselho das Escolas, o Conselho Nacional de Educação, bem como de outros interessados, tendo originado um conjunto vasto de contributos relevantes. 
Mais informações aqui.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

AINDA O ANTIGO CURSO TÉCNICO INDUSTRIAL



“No mundo nada é verdade ou mentira: tudo depende do cristal com que se mira” (Ramón de Campoamor)
Antes de responder ao comentário de José Fontes, ao meu post  de ontem,  “Medina  Carreira: homenagem que lhe é devida”, farei, como que a modos preambular, duas citações separadas no tempo:
1.“Quando se olha com antipatia para o cisne branco até o cisne branco nos parece preto; quando se olha com simpatia para o rato preto até o rato preto nos parece branco” (Padre António Vieira).
2.“Os psicólogos sociais chamam erro de atribuição à tendência humana para desacreditarem um argumento apenas por causa das características que atribuem ao seu autor” (Rui Tavares, “Público”, 08/03/2007).
Ou seja, é indissociável o prisma com se discutem os assuntos com a isenção que merecem, daí eu dar um desconto generoso ao  remoque em que são metidos no mesmo saco do “abaixo assinado  (que para já tem apenas a assinatura pública de José Fontes)  todos “os Ruis Baptistas deste mundo. Chamem-se eles Ruis Henriques ou outros nomes” que nada têm a ver com este assunto.
Avesso a um diz-tu-direi- eu, julgo interpretarmos em leituras diferentes, a intervenção do deputado Proença Duarte na Assembleia Nacional (não confundir com Assembleia da República).  Assembleia da República que para prover à falta de operários especializados  teve a peregrina ideia de sancionar os actuais cursos “superiores” com a duração de dois anos (TESP) - medida  a exemplo da génese  dos actuais cursos do ensino politécnico, com a duração inicial de dois anos,  que ora choram barba e ranho para, depois de licenciaturas e mestrados, outorgarem  doutoramentos, -  em afronta aos antigos cursos “inferiores” das escolas industriais com a duração de 5 anos e uma forte componente teoria-prática traduzida em oficinas altamente apetrechadas.
Dando de barato, a sinceridade com que descreve a sua péssima docência na carreira docente do ensino técnico que não lhe deu a minha “visão idílica ” (sic.) deste ensino, a sua extinção, como diria Pessoa,  não passou de “um cadáver adiado que procria” abortos em barrigas de aluguer de um ensino superior como porta de cavalo, a exemplo das “Novas Oportunidades”, de acesso a licenciaturas ensino superior. Ou mesmo exigente ensino superior universitário que “exporta” para o estrangeiro diplomados que exemplifica. No seu comentário, com uma elite de engenheiros, cientistas, economistas, etc.
Eu, por meu lado, reporto-me, a uma minha recordada com saudade experiência deste tipo de ensino iniciado em finais dos anos 50 em confronto com a sua má vivência pessoal de um ensino situado em inícios dos anos 70,  depois de transvertido de reformas e contra-reformas. Contas feitas, entretanto, muitos assentos dos cadeirões da 25 de Outubro serviram de berço ao fenómeno da “diplomocracia”, para utilizar uma critica de António José Saraiva, que deu azo a que neste país fosse  anátema ser ministro sem um diploma universitário. E como todos os caminhos vão dar a Roma, uns por trilhos com sangue, suor e lágrimas, outros em arraiais de festança e regabofe, assiste-se a licenciaturas, em regresso de citação a António José  Saraiva,  "não para ter mais conhecimento ou para se ser mais esclarecidos, mas para não ser menos que os outros. Não é a igualdade da cultura que se busca, mas a igualdade de estatuto, através da posse do diploma”. E à pala de uma maneira viciosa  em que“há duas maneiras de mentir, uma é não dizer a verdade, outra é fazer estatística” (Francisco Leite Pinto), dá-se a conhecer ao mundo uma  "Alice no país das maravilhas" em que, sem generalizações  sempre perigosas de se fazer, se transmutam  analfabetos de ontem,  em burros de hoje, parafraseando novamente Miguel Sousa Tavares.  caloroso defensor,   para uns tantos, de um simples golpe de Estado de militares descontentes com a Guerra do Ultramar, para ele e outros tantos,  a alvorada de um esperançoso Portugal, através da  Revolução de 25 de Abril de 74.
Isso mesmo, sobre perspectivas diferentes de um mesmo assunto, nos ensina Ortega y Gasset: “O que é a verdade? Do ponto de vista da verdeira cultura, não é o mais importante de decidir. Cultura é, frente ao dogma, discussão permanente”!

Na foto: fachada  da antiga Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques.

domingo, 23 de julho de 2017

ASTROFÍSICA PARA GENTE COM PRESSA


Início do novo livro de Neil deGrasse Tyson :

"A história mais fantástica alguma vez contada

"O mundo tem persistido durante muitos anos,
depois de ter sido posto, pela primeira vez, no
movimento certo. E tudo decorre daí."
Lucrécio, ca 50 a. C.

No início, há cerca de catorze mil milhões de anos, todo o espaço e toda a matéria e toda a energia
do Universo conhecido estavam contidos num volume inferior a um bilionésimo do ponto final que termina esta frase.

O ambiente era tão quente que as forças básicas da natureza que descrevem colectivamente o Universo estavam unificadas. Embora ainda desconheçamos como surgiu, este cosmos mais pequeno do que a cabeça de um alfinete só podia expandir‑se. Rapidamente. Foi aquilo que hoje chamamos de Big Bang.

A teoria da relatividade geral de Einstein, apresentada em 1916, dá‑nos a perspectiva actual da gravidade, segundo a qual a presença de matéria e energia curva o tecido do espaço e do tempo envolvente. Nos anos 20, seria descoberta a mecânica quântica que forneceria a nossa explicação actual sobre tudo o que é pequeno: moléculas, átomos e partículas subatómicas. No entanto, estas duas visões da natureza são formalmente incompatíveis uma com a outra, colocando os físicos a competir na corrida a uma única teoria coerente da gravidade quântica que una a teoria das pequenas coisas com a teoria das grandes. Embora ainda não tenhamos chegado à meta, sabemos exactamente onde estão as barreiras mais altas. Uma destas barreiras situou‑se na «era de Planck» do início do Universo. Trata‑se do intervalo de tempo de t = 0 até t = 10^‑43 segundo (um décimo de milionésimo de bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de segundo) após o início, e antes de o Universo crescer até 10^‑35 metros (dez vezes um bilionésimo de bilionésimo de bilionésimo de metro) de diâmetro. O físico alemão Max Planck, cujo nome foi dado a estas quantidades inimaginavelmente pequenas, apresentou a ideia de energia quantizada em 1900, sendo habitualmente considerado o pai da mecânica quântica.

O confronto entre gravidade e mecânica quântica não coloca qualquer problema de ordem prática ao Universo contemporâneo. Os astrofísicos aplicam os princípios e ferramentas da relatividade geral e da mecânica quântica a categorias de problemas muito diversas. Mas no início, durante a era de Planck, o grande era pequeno, e suspeitamos que tenha havido uma espécie de casamento apressado entre os dois. Infelizmente, os votos trocados durante a cerimónia continuam a escapar‑nos, não existindo leis da física (conhecidas) que descrevam de modo fiável o comportamento do Universo durante esse tempo.

Contudo, supomos que até ao final da época de Planck a gravidade se tenha esquivado das outras forças da natureza, ainda unificadas, assumindo uma identidade independente tão bem descrita pelas nossas teorias modernas. À medida que o Universo crescia durante 10^‑35 segundos, continuou a expandir‑se, diluindo todas as concentrações de energia e o que restava das forças unificadas dividiu‑se em forças «electrofracas» e forças «nucleares fortes». Mais tarde ainda, as forças electrofracas dividiram‑se em forças electromagnéticas e forças «nucleares fracas», revelando as quatro forças distintas que conhecemos e amamos: com a força fraca a controlar o decaimento radioactivo, a força forte a unir o núcleo atómico, a força electromagnética a unir moléculas e a gravidade a unir a matéria sólida.

Entretanto, passou um bilionésimo de segundo desde o início.

Enquanto isso, a interacção entre matéria, sob a forma de partículas subatómicas, e energia, na forma de fotões (receptáculos sem massa de energia luminosa que são tanto ondas como partículas) foi incessante. O Universo estava suficientemente quente para que estes fotões convertessem
espontaneamente a sua energia em pares de partículas de matéria e antimatéria, que se aniquilaram
imediatamente a seguir, devolvendo a sua energia aos fotões. Sim, a antimatéria existe. E fomos nós que a descobrimos e não os escritores de ficção científica. Estas metamorfoses estão claramente patentes na mais famosa equação de Einstein: E = mc^2, uma receita bidireccional para saber quanta energia equivale à matéria e quanta matéria equivale à energia. O c^2 é a velocidade da luz
ao quadrado — um número enorme que, quando multiplicado pela massa, dá a quantidade de energia que obtemos realmente neste processo.

Pouco antes, durante e depois de as forças fortes e electrofracas terem seguido caminhos diferentes, o
Universo era uma sopa fervilhante de quarks e leptões, juntamente com os seus irmãos‑gémeos
de antimatéria, e os bosões, as partículas que permitem as interacções. Desconhece‑se se estas famílias de partículas são divisíveis em algo menor ou mais básico, embora cada uma surja em variedades diferentes. O fotão normal é um membro da família dos bosões. Os leptões mais conhecidos dos leigos são os electrões e talvez os neutrinos; e os quarks mais familiares são... bem, não há quarks familiares. Cada uma das suas subespécies recebeu um nome abstracto sem qualquer finalidade filológica, filosófica ou pedagógica, excepto a de a distinguir das outras: up (cima) e down (baixo), strange (estranho) e charmed (encantado), e top (topo) e bottom (fundo).

Os bosões, já agora, foram assim nomeados em honra do cientista indiano Satyendra Nath Bose. A palavra «leptão» vem do grego leptos, que significa «leve» ou «pequeno». Quark, porém, tem uma origem literária muito mais imaginativa. O físico Murray Gell‑Mann que, em 1964, propôs a existência de quarks como os constituintes interiores dos neutrões e protões, e que na altura pensava que a família de quarks tinha apenas três membros, retirou o nome de uma frase caracteristicamente
enigmática do livro Finnegans Wake, de James Joyce: «Três quarks para o Mr Mark!» Uma coisa
boa que os quarks têm: os seus nomes são simples — algo que os químicos, os biólogos e especialmente os geólogos parecem incapazes de conseguir quando dão nomes às suas coisas.

Os quarks são criaturas peculiares. Ao contrário dos protões, cada um com uma carga eléctrica de +1, e dos electrões, com uma carga de –1, os quarks têm cargas fraccionais de um terço. E nunca apanhamos um quark sozinho; cada um está sempre a agarrar outros quarks nas proximidades. De facto, a força que mantém dois (ou mais) quarks juntos torna‑se efectivamente mais forte quanto mais os tentarmos separar — como se estivessem ligados por um certo elástico subnuclear. Se separarmos
com suficiente intensidade os quarks, o elástico rebenta e a energia armazenada segue a equação E = mc^2 para criar um novo quark em cada extremidade, deixando‑nos exactamente como começámos.

Durante a era dos quarks e dos leptões o Universo era suficientemente denso para que a separação média  entre quarks isolados rivalizasse com a separação entre quarks unidos. Nessas condições, o compromisso entre quarks adjacentes não podia ser estabelecido inequivocamente e estes circulavam livremente, apesar de estarem colectivamente ligados. A descoberta deste estado de matéria, uma espécie de caldeirão de quarks, foi relatada pela primeira vez em 2002, por uma equipa de físicos dos laboratórios nacionais de Brookhaven, Long Island, Nova Iorque.

Existem fortes provas teóricas que sugerem que um episódio no Universo primordial, talvez durante uma das separações das forças, terá dotado o Universo de uma notável assimetria, segundo a qual as partículas de matéria quase não ultrapassavam as de antimatéria: mil e um milhões para mil milhões. Dificilmente notaríamos a pequena diferença de população no meio desse contínuo de criação, aniquilação e recriação de quarks e antiquarks, de electrões e antielectrões (mais conhecidos por positrões), e de neutrinos e antineutrinos. O fulano  estranho tinha «montes» de oportunidades para encontrar alguém com quem se aniquilar, tal como todos os outros. Mas não por muito tempo. À medida que o cosmos continuou a expandir‑se e a arrefecer, ficando maior do que o nosso Sistema Solar, a temperatura desceu rapidamente abaixo de um milhão de milhões de kelvins.

Entretanto, passou um milionésimo de segundo desde o início.

(...)"

Neil de Grasse Tyson

ALENTEJANOS


Novo texto de Galopim de Carvalho:

Os vestígios mais antigos da presença dos nossos antepassados em terras do Sul do País remontam ao Paleolítico e estão representados, em especial, por utensílios em pedra lascada encontrados, em abundância, nos terraços fluviais de alguns dos seus rios, e por não menos importantes gravuras rupestres, como as trazidas às primeiras páginas dos jornais, na sequência dos trabalhos na barragem de Alqueva. Primeiro como recolectores, apanhando bolotas nos então muito mais cerrados montados, pescando e caçando, estes nossos longínquos avós acabaram por se tornar pastores e agricultores. Tal fixação levou à construção dos primeiros povoados nas colinas sobranceiras aos principais cursos de água. A densidade de construções megalíticas (antas, menhires e cromeleques), característica ímpar desta região, testemunha a importância da sociedade agropastoril que aqui teve berço há mais de 5000 anos.

Durante mais ou menos tempo, ligures, celtas, fenícios, gregos, cartagineses e romanos, ocuparam terras do Algarve e do Alentejo ou por aqui passaram, uns nas suas rotas comerciais e outros em busca do ouro, da prata, do cobre e do estanho, com particular relevo para os romanos. Estes, chegados no século III a.C., deixaram-nos importantes marcas civilizacionais da sua ocupação e do domínio político que exerceram durante, pelo menos, meio milénio. Antes de serem Alentejo e Algarve, estas terras constituíram parte da “Hispania Ulterior” (a mais afastada, em oposição a “Hispania Citerior”) na sequência da divisão administrativa criada na Península pelo invasor. Estas mesmas terras foram, mais tarde, a metade sul da “Lusiânia”, a mais ocidental das três províncias ibéricas do Império Romano (“Lusitania”, “Betica” e “Tarraconensis”).

Outra importante presença, que ainda hoje se faz sentir, foi a islâmica, iniciada no século VIII com a conquista de Mértola, por Muçá ben Nusayr, pondo fim à dominação visigótica, a última das invasões levadas a efeito por povos do norte da Europa (vândalos, suevos e visigodos), habitualmente referidos como bárbaros (a palavra provém do grego antigo, βάρβαρος (“barbarós”, que  qualificava todos os que não eram gregos). A ocupação muçulmana teve aqui uma longa permanência, cerca de cinco séculos, que só terminou com a reconquista cristã do Reino de Portugal, no século XIII.
Com a islamização, estas terras fizeram parte do “Garb”, que quer dizer Ocidente, designação naturalmente usada pelos que vinham de oriente, neste caso, os invasores árabes. Mais precisamente, o seu nome foi “al Garb al-Andalus”, que significa o ocidente da Hispânia, que incluía, não só, o Algarve como também o Alentejo e a Andaluzia, a oriente do Guadiana

Um parêntesis  para lembrar que Odiana ou Uadiana foi o nome deste importante curso de água, que foi fronteira entre os reinos de Portugal e de Leão e Castela. Odiana sobreviveu à reconquista, no século XIII, e assim se manteve, por mais três centenas de anos, na linguagem dos portugueses. Por seu lado os castelhanos transformaram o “uadi” (rio), radicado na região ao longo de cinco séculos de ocupação islâmica, em “guadi”, elemento que ainda hoje compõe o nome de muitos rios do sul de Espanha, como Guadalimar, Guadalupe, Guadojoz e o mais conhecido de todos, o grande Guadalquivir. Guadiana é, assim, um nome importado que se impôs em virtude da sua posição raiana e que, a partir do século XVI, substituiu o antigo Odiana, influência que não se verificou com os nomes Odeleite, Odiáxere e outros com a mesma raiz, correspondentes a rios mais afastados da influência castelhana.

A civilização muçulmana deixou aqui muito dos seus saberes, não só os tidos por eruditos, como os do melhor aproveitamento da terra. À unidade de coabitação entre a Andaluzia, o Alentejo e o Algarve, durante mais de um milénio, criada pelos invasores romanos e continuada pelos conquistadores islâmicos, seguiu-se a separação, delineada ao sabor da reconquista cristã e das disputas fronteiriças entre o reino de Portugal e o de Leão e Castela, ao longo do Guadiana. Não é, pois, por acaso, que há bastantes traços comuns entre “nuestros hermanos andaluces” e os alentejanos, por um lado, e entre estes e os algarvios, por outro. «Mediterrâneo por natureza e atlântico por posição», como nos ensinou o Prof. Orlando Ribeiro, os parâmetros fisiográficos desta região marcaram as populações que aqui viveram, do mesmo modo que continuam a marcar o alentejano e o algarvio dos dias de hoje.

Após a reconquista, concluída por D. Afonso III, e na sequência da reorganização territorial, foi criada a comarca de “Antre Tejo e Odiana” (Entre Tejo e Guadiana), designação antiga que resistiu ao tempo através da poética de Bernardim Ribeiro, na Écloga de Jano e Franco, e que corresponde, grosso modo, ao actual Alentejo. Anteriormente, o termo Alentejo, como nome de região, não existia. Com o significado de “para além do Tejo”, esta designação foi criada pelos conquistadores vindos do norte, do jovem reino de Portugal. O “Ultra Tagum”, no latim dos eruditos de então, deu algo foneticamente muito próximo de “Alem Tejo”, no dialecto romance galaico-prtuguês, que era o que se falava aí, ao tempo dos nossos primeiros reis. Tendo este grande rio ibérico por fronteira natural, as terras que lhe ficavam a sul estavam, pois, para além dele (“para além do Tejo”).

No que respeita esta que é a mais extensa região do País, a sua diversidade geográfica e geológica determina que, dentro de uma certa unidade, como é muitas vezes apresentada, haja diferenças sensíveis de local para local. Há um Alentejo interior, a oriente, semiárido, dominado pela azinheira, e um outro, a ocidente, menos seco, influenciado pelos ventos húmidos do Atlântico, onde o montado de cortiça impera. Por outro lado, a escarpa de falha da Vidigueira, um acidente tectónico que limita a sul a serra de Portel, marca igualmente, como um degrau, a separação entre duas superfícies bem assinaladas pelos geógrafos, a de Évora, a norte, mais elevada e acidentada, e a de Beja, a sul, mais rebaixada e de mais vastas planuras. São ainda Alentejo os alagadiços campos de arroz da bacia do Sado, os densos pinhais da franja litoral e o extenso areal e os alcantilados da linha de costa.

O substrato geológico e os condicionalismos climáticos que caracterizam o Alentejo foram favoráveis à vegetação que aqui se desenvolveu, parte dela indígena e outra parte introduzida, bem como à ocupação animal, também ela autóctone e importada. O montado e o porco preto dele dependente, a vinha, o olival e a seara de pão, a ”tetralogia mediterrânea”, no dizer de Alfredo Saramago, constituem elementos maiores tradicionalmente referidos nesta paisagem que, como todos sabemos, ficou marcada por um regime de «Terra pouca para muitos, terra muita para poucos», como cantou Manuel Alegre, em 1996.

São alentejanos os madeireiros serranos de Portalegre e os seareiros das planícies que se estendem para Sul. São alentejanos os cultivadores de sequeiro, os regadores do vale do Caia e os que vivem dos campos aluviais dos seus grandes rios. . Mas não são menos alentejanos, quase sempre esquecidos, os pescadores na longa faixa litoral, que se estende da restinga de Tróia às falésias atlânticas do Algarve, por toda a Costa Vicentina. Fala-se do falar alentejano, da cozinha alentejana, dos cantares do Alentejo e contam-se divertidas anedotas, visando os seus habitantes.

Há uma trintena de anos transportei comigo, vinda do Alentejo interior, uma comadre de visita a uma filha residente em Almada. Viemos por Setúbal e, durante a subida da serra da Arrábida, esta minha amiga que, pela primeira vez, saía do seu cantinho, dava mostras de um certo mal-estar. «Não sei o que tenho, sinto-me apertada. Falta-me a lonjura do nosso Alentejo. Isto aqui é só cabeços. E que cabeços!», dizia para mim. E foi assim até ao alto da capelinha de Nossa Senhora das Necessidades. A partir daí, na descida para Azeitão, foi-se-lhe diluindo a aflição e, quando passámos à planura, ouvi-a exclamar: «Aqui, sim, já a gente respira!». Em sua opinião, voltáramos ao Alentejo. E tinha razão!

Administrativamente integrada na Estremadura, a península de Setúbal só a ela se liga pela Ponte 25 de Abril e pelo grande fluxo de cidadãos, que, de uma e de outra banda do chamado Gargalo do Tejo, o atravessam diariamente nos dois sentidos, a caminho do trabalho e no regresso a casa. Como geólogo e curioso nas duas vertentes da geografia, a  física e a humana, contactei de muito perto com os terrenos e também com as gentes desta região, tendo tido oportunidade de constatar aqui a continuidade territorial e cultural do Alentejo. São as fábricas de cortiça e de transformação de carne de porco, são os mercados, onde não faltam o pão e o queijo alentejanos, os poejos, os cardinhos e as beldroegas, são os restaurantes, as tabernas e as vendas à moda antiga, as colectividades culturais e recreativas.

Alentejanos somos todos os da margem esquerda do Tejo e se o nome nada tem de especial, quando dito por alguém da margem norte, constitui um paradoxo sempre que são os próprios alentejanos que assim se autodenominam, uma vez que, sendo e estando do lado sul do Tejo (para eles o lado de cá, e, portanto, aquém do Tejo) se estão a afirmar além dele, como bem lembrou o Prof. José Mattoso. Alentejano é, pois, o nome pelo qual esta comunidade se autoidentifica sem se dar conta que, em rigor, o termo só faz sentido quando dito por estremenhos, beirões, minhotos ou transmontanos. Nunca por eles próprios e, muito menos, por algarvios. Nestas condições dever-nos-íamos considerar “aquentejanos”, sugestão, aliás, já avançada no século XIII, mas que não fez vencimento. Com efeito, dois documentos assinados em Beja, em 1284, auto-situam-se no “Aaquem Tejo”.

Galopim de Carvalho

sábado, 22 de julho de 2017

A vida imortal de Henrietta Lacks

Um filme de base científica.


MEDINA CARREIRA: HOMENAGEM QUE LHE É DEVIDA



Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras": 

“É fundamental que o estudante adquira uma percepção nítida dos valores” (Albert Einstein). 

Henrique Medina Carreira (1931-2017) foi advogado, Subsecretário de Estado do Orçamento e Ministro das Finanças. 

Todavia, não é do seu currículo profissional, político ou televisivo que me ocuparei essencialmente (outros o fizeram e continuarão a fazer, em poética camoniana, com “engenho e arte”), mas da sua formação académica inicial obtida no antigo ensino técnico dos Pupilos do Exército.

Sobre a incontornável personagem televisiva de Medina Carreira, deu boa conta Anabela Mota Ribeiro quando escreve: “Aprecia as pessoas com fulgor. Não aprecia os patetas, os trafulhas, os corruptos. A estes, não respeita” (“Jornal de Negócios”, Outubro 2009). 

Ao contrário de certas viúvas que em vida dos maridos dizem deles cobras e lagartos mas que em seus funerais, exaltam, em lágrimas copiosas, as suas excelsas virtudes, e em uso costumeiro nacional homenageia-se em vida tanto imbecil deixando cair no esquecimento gente de altíssimo valor.

Em abjuração desta espécie de epidemia, reporto-me a um artigo de opinião que escrevi acerca da forma elogiosa com que Medina Carreira se refere à sua formação académica inicial a cargo do ensino técnico industrial: “Medina Careira e o antigo ensino técnico” (“Público”, 15/05/2014).

Este tipo de ensino diplomou outras personalidades de destaque na sociedade portuguesa, cujos nomes me ocorrem ao dedilhar das teclas do computador como, por exemplo, António Saraiva, presidente da CIP, e Maldonado Gonelha, antigo ministro do Trabalho.

 Pela minha vivência docente, em início de carreira na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques, arrogo-me ao direito de testemunhar um ensino técnico exigente e devidamente dignificado pese embora ser considerado, por pretensiosas elites, parente pobre do antigo ensino liceal. Este statu quo obriga-me a repudiar vozes oficiais que tentam convencer a opinião pública da bondade do boom operado no actual sistema educativo, sem ter em conta a respectiva qualidade, traduzido em aumentos exponenciais de cidadãos, de posse de diplomas de ensino superior, mas que pouco sabem de teoria e muito escasseiam em  know-how. Aliás, isto mesmo foi criticado, depois de 25 de Abril, de forma lapidar, por Francisco de Sousa Tavares, um antissalazarista confesso: ”Dantes Portugal era um país de analfabetos, hoje é um país de burros diplomados”!

Souberam os diplomados pelo extinto ensino industrial vivenciar a “percepção nítida de valores” , defendida pelo autor da Teoria da Relatividad , transportando-a para a sua vida futura, através, de uma comovente homenagem de um antigo aluno aos seus professores da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque da antiga capital de Moçambique. Dela tomei conhecimento ocasional na Net, infelizmente sem conseguir nomear o nome do respectivo subscritor pela minha esmaecida memória que não atenua, de forma alguma, o remorso do meu esquecimento. Transcrevo-a:

“Naturalmente que, como em tudo, no respeitável corpo docente, que ao longo dos anos leccionou na nossa escola, nem todos conseguiram ser populares, mas todos contribuíram, de uma forma ou de outra, para a nossa formação, quer como estudantes, quer como pessoas. Alguns deixaram a sua marca. Ainda hoje, e eu faço notar isso a meus filhos, eu sei o nome dos meus professores, e faço questão de realçar a sua competência. Pena que nem todos eles possam já tomar conhecimento de que também fazem parte da nossa saudade académica”.

 É este extinto ensino técnico, viveiro de antigos alunos, hoje, excelentes profissionais reconhecidos pela qualidade do ensino ministrado por grande maioria dos seus docentes de Lourenço Marques que devia merecer a contrição dos políticos que, em nome de uma sociedade sem classes, a transformaram numa sociedade desclassificada académica e profissionalmente em deplorável medida tomada por próceres de um um país que, segundo António José Saraiva, figura chave da cultura portuguesa, “vive há séculos na superstição da palavra ‘doutor’”!

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Novidades da Gradiva de Julho

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Novos livros já  disponíveis :
Da autoria do mais famoso dos astrofísicos actuais, este livro contém o essencial sobre o Universo. Qual é a natureza do espaço e do tempo? Como é que nos encaixamos no Universo? E como é que o Universo se encaixa em nós? Nestas questões não há melhor guia do que Tyson. A verdade é que, nos dias que correm, poucos têm tempo para contemplar o Cosmos, mas neste livro Tyson trá-lo até ao leitor de uma forma breve e clara, com uma inteligência cintilante, em curtos capítulos que se podem ler a qualquer hora e em qualquer lugar, ao longo do seu dia agitado. Enquanto espera pelo café, pelo autocarro, pelo comboio ou pelo avião, Astrofísica para Gente com Pressa revelar-lhe-á tudo o que precisa para compreender os próximos títulos da imprensa sobre o Cosmos: do Big Bang aos buracos negros, dos quarks à teoria quântica, e da procura de exoplanetas à busca de vida no Universo.
«Tyson apresenta a ciência de uma forma brilhante e extraordinariamente acessível... [As suas] ideias são valiosas para qualquer líder, professor, cientista ou educador.»
Forbes
Col. Ciência Aberta |176 pp. | ISBN: 978-989-616-781-3 | €11,00

Os livros de Joaquim Silva Pinto são um contributo precioso e frequentemente surpreendente para a história dos últimos anos de Salazar, do período marcelista, em que foi uma das personalidades mais activas da ala liberal, e do pós 25 de Abril, em que integrou o MASP, sendo um colaborador próximo de Mário Soares. A qualidade intelectual que é unanimemente reconhecida ao Autor, a rara possibilidade que teve de uma visão de conjunto que lhe permitiu privilegiadamente identificar os contrastes, a vivência pessoal singular, a coragem desassombrada e a narração incisiva e colorida tornam a leitura dos seus livros um raro e enriquecedor prazer intelectual.
Populismo à portuguesa, «evoluçãozinha» na continuidade, figuras públicas entre afectos e carências, diáspora portuguesa em Madrid de 75 a 78, episódios quase desconhecidos das circunstâncias da iniciativa de edificação da ponte sobre o Tejo e da reeleição de Américo Tomás, apontamento sobre preconceitos antes e depois da Revolução de Abril, atribulado processo de sucessão – destino das condecorações e uma polémica dedicatória a José Veiga Simão são alguns dos episódios contados ou tratados no livro.
Factos dramáticos ou divertidos, observações irónicas, inquietações. Sempre com o objectivo de fazer reflectir sobre o passado, mas também sobre o futuro pró­ximo, que o Autor, informadamente, pensa vir aí.

Col. Fora de Colecção| 160 pp. | ISBN: 978-989-616-779-0 | €14,00

História do Sexo - História da Sexualidade Ocidental em BD
Temos a impressão de que a sexualidade é omnipresente. Contudo, quem sabe o que é e de onde vem? Quem a compreende verdadeiramente? Este importante aspecto da vida dos seres humanos é muitas vezes descurado no ensino, mesmo a um nível superior. Foi por essa razão que o antropólogo e sexólogo Philippe Brenot nos quis contar esta história apaixonante. Igualmente para nos mostrar que a sexualidade não é apenas um fenómeno natural, mas também uma realidade cultural que se foi forjando ao longo da História. Ao ler esta história da sexualidade em banda desenhada vai aprender muitas coisas: por exemplo, que Cleópatra inventou o vibrador e que a invenção do microscópio, de autoria holandesa, levou à diabolização da masturbação…
Col. Fora de Colecção| 208 pp.| ISBN: 978-989-616-780-6 | €22,00

O que acontece quando estamos com dores de cabeça?Para que servem os dedos dos pés?Porque há puns mais fedorentos do que outros? Glenn Murphy responde a estas e a outras questões importantíssimas neste livro divertido e informativo. Repleto de ilustrações e de factos sobre toda a espécie de coisas incríveis – crostas, células e ossos partidos e doenças mortais – este livro não tem nenhuma parte chata!
Col. Gradiva Júnior | 160 pp. | ISBN: 978-989-616-778-3 | €10,00

Um arquitecto senta-se no banco da estação ferroviária de Santa Apolónia enquanto aguarda que chegue a hora de partir para o estrangeiro, após responder a um anúncio. Perdeu o emprego e no seu país não consegue encontrar alternativa, por isso aceitou um trabalho como carpinteiro numa propriedade agrícola localizada no hemisfério de baixo… A tarefa para que foi contratado não envolve o desenho de edifícios, mas sim uma estranha sucessão de esculturas em sete pilares de madeira, numa comunidade onde cada um dos membros também foi obrigado a abandonar a sua forma de vida anterior e recomeçar do nada.
A odisseia de um desempregado dos tempos modernos.Enquanto isso há um segundo dilúvio em curso. Milhares de anos após a sua primeira operação de salvamento, Noé desiste de construir uma segunda Arca e percorre o planeta num dirigível, recolhendo os sobreviventes a quem irá permitir uma nova vida num pequeno país à beira do Atlântico.
Col. Gradiva |176 pp. ISBN: 978-989-616-777-6 | €12,50

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...