segunda-feira, 3 de abril de 2017

NÓS FORMAMO-LOS E O ESTRANGEIRO DÁ-LHES O EMPREGO QUE PORTUGAL LHES NEGA.


Com a geração de geólogos e professores, como Carlos Teixeira, Torre de Assunção, Cotelo Neiva, Georges Zbyszevski, Gaspar de Carvalho e Carlos Romariz, renasceu, em Portugal, a meados do século passado, uma geologia adormecida, que fora grande no virar do XIX ao XX, com Carlos Ribeiro, Paul Choffat e Nery Delgado entre os mais destacados. A esta geração, que fez escola, seguiu-se a minha, com António Ribeiro, em Lisboa, Ferreira Soares, em Coimbra, Fernando Noronha, no Porto, e outros.

Daqui para a frente foi um desabrochar de um sem número de “netos” e “bisnetos”, na vanguarda do que de melhor se faz nos domínios das Ciências da Terra, que já nem conhecem os “avós”. João Duarte, agora galardoado com o "Arne Richter Award for Outstanding Early Career Scientists” pela União Europeia de Geociências, é apenas um destes descendentes que, com orgulho e satisfação, vemos crescer.

 O "Arne Richter Award for Outstanding Early Career Scientists" reconhece actividade científica de exceção, a nível mundial, realizada por cientistas na fase inicial da carreira, em qualquer área das Geociências

 João Duarte, licenciado em Geologia e Recursos Naturais pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 2005, é investigador do Instituto Dom Luiz e do Departamento de Geologia da mesma Faculdade, recebeu este prémio pelo seu trabalho na área da Geologia Marinha e Tectónica, bem como pela sua atividade na área da divulgação científica.

 Leia o comentário de João Duarte a este post que coloquei no Facebook:

 “É este o prestigiado percurso de uma ciência, hoje de ponta em Portugal, onde (com as excepções, que são devidas salientar) a incultura geológica é uma realidade a todos os níveis socioculturais, dos governantes aos governados. Isto acontece porque, ao contrário de outros domínios científicos, a comunidade a que pertenço, não tem sabido projectar para fora das academias o muito que sabe sobre este planeta maravilhoso e único que nos deu vida, “um ponto azul claro” (como lhe chamou o grande divulgador Carl Sagan) perdido na imensidão do espaço.

 Leia-se agora o comentário de João Moedas a este texto que publiquei na minha página do Facebook:

“Caro Professor, colegas e amigos. Muito obrigado pelas palavras! Muito me honram. É verdade o que o Professor diz: hoje somos muitos! E isso é uma conquista fabulosa.. Mas é também verdade que eu, assim como muitos, continuamos a ter posições precárias com contratos a prazo sem qualquer perspectiva de futuro. Estive emigrado uns anos e as perspectivas que hoje tenho é que se quiser continuar a fazer o que gosto (explorar e ensinar a ciência que amo) e ao mesmo tempo quiser ter condições para constituir a família que tanto desejo provavelmente terei de emigrar outra vez. Desculpem-me o desabafo, até por que sou um optimista e não gosto de fatalismos. Mas penso que é importante contextualizar um pouco. No que diz respeito à dignidade dos jovens cientistas em Portugal as coisas não estão nada bem.. nada bem mesmo! E o pior é que não vejo perspectivas de virem a melhorar significativamente num futuro próximo. Notem que não estou apenas a falar por mim. Estou também a falar por um enorme número de colegas de elevadíssima qualidade que ou estão em situações muito complicadas ou que foram mesmo obrigados a abandonar a ciência. E confesso aqui neste forum (porque não é segredo nenhum) que eu próprio tenho considerado abandonar a academia. Talvez um dia o faça e me dedique à comunicação e divulgação de ciência que tanto me apaixona)”.

Galopim de Carvalho

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