As mentalidades ou certos aspectos delas podem mudar muito rapidamente, basta que a orientação (ou pressão) seja a certa, bem engendrada e melhor executada, sempre, claro está, dissimulada.
No campo da educação escolar, há duas décadas, talvez um pouco mais, vimos alicerçar-se um modo de pensar que Marçal Grilo, ex-ministro da educação, designou por eduquês. Não vale a pena voltarmos à sua caracterização pois os leitores deste blogue, sobretudo os que o acompanham tê-la-ão presente.
Acontece que, nos anos mais recentes, esse modo de pensar tem-se desvanecido, foi sendo esquecido, deixou de estar na moda; ao mesmo tempo um outro modo de pensar foi-se infiltrando nos discursos e nas práticas pedagógicas, passando a ser a moda.
Este novo modo de pensar, tal como o anterior, impõe-se como o único válido, como aquele que salvará as novas gerações, o mundo... No caso, sem ele não haverá, não poderá haver, salvação; só ele pode garantir o futuro, o século XXI.
Como já estamos atrasados para o futuro - afinal, já entrámos nesse século -, é preciso mudar rápida e radicalmente a escola, os espaços e os recursos de aprendizagem, os modos de aprendizagem, o rol de literacias e as competências que lhes estão associadas... tudo, mas tudo o que vem de trás, do passado, mesmo que o passado seja presente, por ser catalogado como tradicional, como obsoleto, não serve, tem de ser recusado, mudado, inovado...
Acresce dizer que tal como o velho eduquês, este "modo de pensar" permite estabelecer uma linha bem definida entre "crentes" e "hereges", ou seja, entre aqueles que o aceitam tal e qual e aqueles o submetem, como convém num ambiente intelectual digno desse nome, a crítica.
Também como o anterior modo de pensar, este ganhou reconhecimento académico (surgiram especialistas, livros e artigos, revistas temáticas, teses, congressos e outros eventos, tudo com a marca de científico) e legitimidade curricular (organismos internacionais avançam orientações e recomendações; os poderes, políticos e escolares, acolhem-nas e determinam).
E, assim, o novo modo de pensar, a que falta uma designação, instala-se para ficar. Pelo menos por umas décadas...
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