domingo, 2 de agosto de 2015

OS CAMINHOS TORTUOSOS DA POLÍTICA CIENTÍFICA NACIONAL

Outra informação recebida do SNESUP:

"Foi estabelecido, sem qualquer justificação, que as candidaturas aos programas integrados de ICDT, quer na sua versão H2020 nacional, quer nas versões regionais (NUTS), são apresentadas no âmbito de um convite (precedido de uma fase de pré-qualificação), divulgado através do Portal Portugal 2020.   Analisando os editais dos referidos “concursos” no ponto referente aos “Critérios de elegibilidade dos beneficiários, dos projetos e das despesas a cofinanciar”, pode-se constatar que dezenas de unidades de I&D e milhares de investigadores doutorados são impedidos de apresentar os seus projetos, pois:

“… devem apresentar, (…), um resultado final igual ou superior a muito bom, na avaliação de 2013 às unidades de I&D, efetuada pela FCT, (...).”  

Restringe-se assim os concursos às unidades de I&D que foram classificados com Muito Bom e superior através de um concurso que apesar de se ter iniciado em 2013 continua por concluir, utilizando-se assim resultados “provisórios” publicitados a 12 de março para deixar sem financiamento as unidades que apresentaram recurso hierárquico ou mesmo ações em tribunal.

 Através do H2020 Nacional, preparam-se assim os iluminados gestores da Ciência nacional para deflagrar a machadada final no sistema científico construído com muito esforço ao longo dos últimos 25 anos e que nos anos mais recentes trilhou caminhos tortuosos e malfadados.   Não reconhecer aos membros dos centros com classificação inferior a muito bom, ou mesmo a qualquer outro investigador não integrado numa unidade I&D a capacidade para apresentar e liderar projetos, é considerar que milhares de doutorados a trabalhar nas instituições de ensino superior portuguesas tenham apenas, e só, potencial para serem subalternos no panorama do Horizonte 2020 nacional. É inaceitável e deveria deixar todos os académicos e cientistas incomodados."

1 comentário:

António Gomes Martins disse...

Defendo há muito que a política neoliberal para a Ciência, especificada nos diretórios do Banco Mundial, OCDE, Comissão Europeia, fielmente replicada pelos governos de serviço, consiste em concentrar os recursos púlicos (dos contribuintes) em muito poucos centros produtores de ciência, deixando as periferias (não necessariamente geográficas, mas também, visto que existe correlação) entregues à única hipótese restante: colocar as suas capacidades nas fases terminais do processo de inovação/investigação, quase sempre dependendo dos interesses de curto prazo das empresas. Haverá assim uma investigação científica de 1ª e uma de 2ª, apenas aplicada, virada a produto (percebe-se assim por que se exigem tão elevados "TRL" nas candidaturas a financiamento). É a teoria da escassez da manteiga: defende-se que não há recursos financeiros para suportar uma investigação de qualidade sem fazer seleção prévia: os recursos não são como a manteiga que se espalha pelo pão todo, ou então o pão (o tecido de I&D) é demasiado grande para a a manteiga disponível... Culinária neoliberal ou, se quisermos, aos investigadores, os diretórios transnacionais até os comem ao pequeno almoço, mesmo sem manteiga.

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