terça-feira, 5 de outubro de 2021

DA "VOZ DOS PROFESSORES" AO SEU PROGRESSIVO DESAPARECIMENTO

Publicado hoje num outro blogue (ver aqui), o texto "Onde estão os professores…?", assinado por um professor (Carlos Santos), faz sobressair uma perplexidade: na multiplicidade de relatórios de entidades supranacionais que determinam os desígnios da educação e de sítios on line que têm criado para os concretizar, afirma-se, "com base em evidências concretas" que a voz do professor nunca foi tão ouvida como agora. E que eles, mais do que pronunciarem-se a favor das mudanças em curso nos sistemas educativos, participam na sua formulação e implementação.

Ora, uma dessas mudanças situa-se na sua função, que vemos ser afastada do ensino. O mais preocupante é que, abrindo alguns desses sítios, constatamos que há professores a corroborar isso mesmo. No é o caso do autor do texto a que me refiro.

É imperioso que se permita o regresso dos professores às escolas; o regresso dos professores à sala de aula e do que, a rigor, representa a sua verdadeira função, que é a de ensinar! 
Com tantas reformas educativas preocupadas com a organização das escolas, dos currículos, tanta teoria de gabinete a dar muitíssima importância ao supérfluo, a pais e alunos, tanta diligência em afastar os professores dos órgãos de decisão e em sobrecarregá-los de inutilidades, que acabaram por os empurrar para o fim da fila das prioridades na estrutura de ensino. Foram, simplesmente, excluídos – banidos das escolas. 
Todas essas teorias excessivamente centradas nos interesses particulares dos encarregados de educação e dos alunos e na doutrina cega do professor como mera figura decorativa em redor do estudante, acabaram por deixar a escola e a aprendizagem nas mãos das crianças, dos pais, dos gestores, dos burocratas e dos políticos.
A escola passou a ser um tema sobre o qual todos opinam, todos sabem, todos mandam… menos os professores. Foram, na verdade, perseguidos, humilhados e desautorizados; foram tudo, menos auscultados e respeitados. Tanta desconsideração pela figura do Professor esvaziou-o de protagonismo, autoridade e importância (...).
E por mais que ninguém queira admitir, hoje as escolas estão sem professores. Não só pelo défice em número, mas sobretudo pela falta de representatividade, importância e participação. Acrescido à sobrecarga de burocracia, transformou-os em meros contabilistas da inutilidade (...), pouco resta do Professor na escola (...).
Atiraram-lhes à cara essa lama perfumada de hipocrisia e desdém de que “não há ensino sem alunos” (...). Mas… e sem professores, o que há? O que não há torna-se evidente: não há alunos; não há instrução, educação, respeito nem civismo; não há evolução nem inovação, não há sociedade; não há civilização; não há país; não há futuro (...).

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