quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O Ainda Ministro Eduardo Cabrita


“A mácula do SEF exige responsabilidade com força, dureza e carga simbólica. Como na Inquisição é preciso purificarmo-nos” (Costa Andrade, Presidente do Tribunal de Contas).

Há um marcha carnavalesca brasileira com os seguintes versos iniciais: “Daqui não saio / Daqui ninguém me tira”! Julgo que esta burlesca situação do “daqui não saio, ninguém me tira” no carnaval da política portuguesa, não mereceria sequer uma linhas de atenção não se desse o caso de ter atingido proporções de tragédia grega. Ademais, como nos filmes de  “suspense” de Alfred Hitchcok é sempre  aliciante  ver até onde vai este braço de ferro, que dado o tempo que dura corre o risco de enferrujar, entre António Costa e Eduardo Cabrita”: a hombridade política exige  que não dure o tempo de pilhas  “duracel”.

Será que o primeiro-ministro vai continuar a deixar tudo correr como está actualmenrte, fiado no ditado que o tempo tudo cura, até o assassinato de um cidadão ucraniano de nome Lhor Homenyuk, por ter  tentado entrar ilegalmente por via aérea em Portugal?

Tivesse vindo ele por mar num barco de borracha teria tido a entrada facilitada, direito a alojamento e alimentação por conta do erário público, nunca a uma morte horrenda por  selvática agressão com um pesado bastão de madeira e a pontapés nas costas e na cabeça. Ou seja, nas entradas ilegais em Portugal há filhos e enjeitados! E julgo que fiado, por outro lado, no portuguesismo  que o dinheiro tudo compra, prepara-se o  Estado Português (ou melhor todos nós contribuintes)  para pagar uma indemnização, porque para isso obrigado judicialmente, de muitos milhões de euros à sua viúva. Aliás, sendo de toda a justiça porque não há dinheiro que pague uma vida humana, ademais assassinada de uma forma brutal que só encontra paralelo em tempos medievais ou de circo romano em que os cristãos eram dilacerados pelas feras de Nero!

Como é uso na política deste país de passa-culpas  a culpa pode morrer solteira, e as demissões  dos políticos fazerem-se  de “motu proprio” ou por o escândalo se tornar público, saindo o prevaricador  de um cargo do governo para ascender a um cargo mais elevado na hierarquia do Estado, ou melhor remunerado na actividade privada.

Segundo  se consta,  António Costa aspira a  um cargo de grande relevo na União Europeia  embora  diga não ser esta a altura própria por o país exigir que ele continue a sacrificar-se ao serviço da presidência da União Europeia, qual Madre Teresa de Calcutá!

Será que Eduardo Cabrita está à espera de um cargo mais elevado e mais à altura da sua "competência e desvelo pela causa pública"? Tudo é possível  neste  país. Ou tudo pode ser que não passe de suposições minhas infundadas. Ou serão fundadas, parafraseando  Pessoa,  por se dar o caso “que o que guia Eduardo Cabrita ser uma ilusão; a consciência, porém, é que não o guia"?

Entendeu pessoalmente Marcelo Rebelo de Sousa, ter o dever de simples cidadão cristão em telefonar à viúva de Hyor, ainda que a título particular para lhe transmitir os seus sentimentos de pesar. Aliás, a exemplo de quando  telefonou a Cristina Ferreira, em situação diferente, para a parabenizar pelo seu programa televisivo na Sic. Não acredito que o tenha feito em nome do povo português infantilizado por um programa televisivo  em que o histrionismo de Cristina a fazia passar de gargalhadas estridentes a ares compungidos quando entrevistava pessoas atingidas por desgraças, tendo os telespectadores  de se  contentar com receitas televisivas diárias  de pratos para verdadeiros “gourmets” quando a barriga lhes marcava as horas  para tingir de ilusão  o negrume das suas vidas!

3 comentários:

Rui Baptista disse...

Tenho dado tratos à memória para me lembrar do nome de um boneco de celuloide da minha meninice. Até que eureka!: tinha ele o sugestivo nome de sempre em pé. Era rechonchudo e tinha esferas de chumbo lá dentro e por mais que se tentasse deitá-lo abaixo punha-se teimosamente em pé!

capitão disse...

http://abeiralethes.blogspot.com/2020/12/ihor-homenyuk-e-o-sef.html

capitão disse...


Fui médico hospitalar e, em contexto de Serviço de Urgência, fui muitas vezes chamado a resolver problemas associados a grande agitação de doentes que se encontravam naquele espaço e também nas enfermarias onde tinham sido internados pelas mais diversas doenças.

Frequentemente a agitação deveu-se a abstinência alcoólica, o que acarretava grande dificuldade em resolver, pois implicava não só conseguir acesso ao doente para lhe poder dar medicação, como também o uso de doses elevadas de sedativos, com risco de lhe provocar sedação excessiva e necessidade de suporte ventilatório. A actividade alucinatória é um componente que impede uma comunicação minimante eficiente.

Pela descrição que ouvi sobre o que se passou no SEF em Março de 2020, tudo me leva a supor que Ihor Homenyuk, ao segundo dia de estar retido nas instalações do aeroporto, desenvolveu um quadro de Abstinência Alcoólica. A crise epiléptica descrita pertence ao quadro. A gíria chama-lhe “rum fit” e é frequente no início da síndrome. Ihor Homenyuk esteve num Serviço de Urgência e teve alta sem lhe terem diagnosticado Abstinência. Essas “crises epilépticas não se tratam com antiepilépticos, mas com sedativos para a abstinência. Uma abstinência alcoólica não tratada pode, só por si, levar à morte, mas a contenção "sem mais nada", agrava a evolução, porque a agitação associada ao grande esforço muscular para se libertar, é equivalente ao que aconteceu aos recrutas Dylan da Silva e Hugo Abreu em 2016 - um grande esforço associado a desidratação, leva a alterações metabólicas graves com falência multi-orgânica.

Eu não quero crer que o pessoal do SEF o tenha agredido. Acredito que não soube lidar com um indivíduo agitado e que o manteve imobilizado "demasiado tempo" na esperança infundada de "ele acalmar”.

Os médicos chamados a dar opinião, não o fizeram dentro da “melhor arte”, talvez por não terem acesso a informação suficiente.
1: quem o observou no SU, não diagnosticou Abstinência Alcoólica e deu-lhe alta.
2: o médico do INEM, encontrou-o em "paragem cardio-respiratória", isto é - morto. Não é dito o que escreveu na Certidão de Óbito.
3: o médico de Medicina Legal escreveu que as lesões que causaram a morte foram causadas por “agressão”, não especificando se desencadeadas por “auto-agressão” ou por manobras de contenção demasiado prolongadas.

Ihor Homenyuk pode ter caído, ter batido com a cabeça em qualquer lado com sequentes lesões cerebrais, pode ter fracturado costelas ou outros ossos nessas quedas, pode apresentar múltiplas equimoses sem que elas signifiquem violência intencional, mas decorrentes das quedas ou das manobras de contenção, e pode ter falecido em consequência dessas lesões ou das alterações metabólicas que referi.

Parece-me imprudente que o Presidente da República, Ministros e Líderes Partidários (da Esquerda à Direita), venham a terreiro falar em “HOMICÍDIO”, antes das alegações da Defesa e de um Juiz se pronunciar, como que a arranjar um “bode expiatório” para acalmar a população.

Eu não isento de culpas os elementos do SEF presentes nos dias dos factos. Era sua obrigação ter assumido que aquele nível de contenção não se devia prolongar e ter tido o discernimento de contactar uma chefia mais esclarecida ou referenciá-lo a um hospital.

Recuso a teoria do “mataram-no à pancada!” Era mau demais!

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...