Minha contribuição para a revista dos estudantes de Física da Universidade de Coimbra:
Embora correndo o risco de deixar
importantes áreas de fora, esboço aqui algumas das actuais fronteiras da Física:
1- Cosmologia
e Física de partículas
O
tema do espaço é muito vasto. Sabemos que o Universo teve um início, o Big
Bang, há 14 mil milhões de anos, sobre o qual é grande a nossa ignorância, e sabemos que a história do Universo assentou
na progressiva auto-organização de partículas devida a forças. Existe um
modelo-padrão de partículas e forças. No quadro desse modelo, já foram unificadas
três das quatro forças fundamentais, faltando a gravidade. Um grande projecto é
a junção da teoria da relatividade geral
com a teoria quântica. Sendo a teoria das cordas uma tentativa dessa
unificação, ela tem-se revelado insatisfatória: há alternativas como a teoria
do loop quântica. Um enorme problema é o da natureza do tempo. Do espaço podem sempre surgir surpresas: Técnicas
de observação recentes como as das ondas gravitacionais poderão trazer novidades.
2-
Computação quântica
Alguns
aspectos estranhos da teoria quântica, como a sobreposição de estados, podem
ser explorados tecnicamente para permitir uma computação muito mais rápida. Já existem
protótipos de computação quântica, que, se forem desenvolvidos, poderão vir a revolucionar
a computação, que está a atingir os limites da lei de Moore, isto é, os
transístores estão a aproximar-se da escala atómica.
3-
Nanotecnologia e novos materiais
A
engenharia à escala atómico-molecular - uma ideia apresentada em 1959 por Richard
Feynman - tem crescido muito desde que foram fabricados os primeiros fulerenos
em 1985. Já há aplicações no mercado
dessas tecnologias, que consiste em fabricar novas moléculas e materiais,
juntando os átomos ou moléculas um a um. O sonho é que novos materiais com
propriedades desejadas sejam fabricados à medida. No domínio dos novos
materiais, permanecem muitas questões teóricas e práticas, por exemplo as que
se ligam à supercondutividade a altas
temperaturas.
4-
Sistemas não lineares e complexidade
Um
domínio interdisciplinar muito fértil tem sido o dos sistemas não lineares,
sistemas cujos outputs são muito sensíveis aos inputs. É o que
sucede na meteorologia: um abanar de asas de uma borboleta pode causar um
furacão do outro lado do mundo. Este domínio, que se liga com a geometria
fractal, encontra aplicações não só nas ciências físico-naturais, mas também
nas ciências sociais e humanas. É neste domínio dos sistemas não lineares que
surgem as interessantes questões do não-equilíbrio.
5-
Vida extraterrestre e exoplanetas
Só
se conhece vida na Terra, mas procura-se vida quer no sistema solar, por
exemplo em luas de Júpiter, quer fora do sistema solar através de
espectroscopia. Poe esta via foram recentemente descobertas moléculas (fosfinas)
em Vénus cuja origem poderá ser biológica, o que significa que o planeta mais
próximo de nós poderá albergar ou ter albergado vida microscópica. O crescimento do número dos exoplanetas, que
hoje em dia são mais de quatro mil, permitirá revelar “novas Terras”, isto é,
planetas à distância certa da sua estrela para poderem acolher vida. Não
sabemos se esta se baseará no código genético que une toda a vida na Terra.
6-
Inteligência artificial e neurociências
O
cérebro é a última fronteira da ciência. A inteligência artificial surgiu em
1956 e desde então não parou de crescer. A ideia é imitar partes do cérebro
humano. Algoritmos de inteligência artificial permitem hoje o tratamento de big
data, incluindo interpretação da fala e da imagem, sendo por isso úteis em
robôs. O problema da consciência continua a desafiar-nos. Além disso, doenças
do cérebro, visualizadas por meios da física, constituem um grande desafio,
quando cresce o número dessas doenças.
7—Ambiente
e clima
As
alterações climáticas são um dos grandes problemas do mundo. A humanidade enfrenta
desafios científico-tecnológicos tremendos para impedir maior acumulação de
gases de efeito estufa e o consequente aumento de temperatura do planeta. Há
que desenvolver novas fontes de energia e novos meios de mobilidade, uma área
em que trabalham muitos físicos.
São
muitos os problemas para os jovens físicos! E, em Portugal e no mundo, não
faltarão oportunidades e trabalho.
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