“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”
(Mário Quintana, 1906-1994).
Não fora saber eu que os políticos,
mentem com quantos dentes tem na
dentição, ou ainda que mesmo nas placas
dentárias, teria ficado encantado com esperança renovada pela declaração de
António Costa, em proximidades de eleição para a Assembleia da República, que
irá acabar e enterrar em tumba bem funda o flagelo da corrupção.
Mas deste encantamento acordei
sobressaltado dando comigo a pensar em promessas antigas de uma legislação em que por adiamento para as calendas gregas possam transcrever crimes de colarinho branco permitindo, assim, que
políticos espertalhões e sem escrúpulos enriqueçam à custa do cidadão de fracas posses tendo,
como tal, como destino a triste sina de
servirem de repasto a hienas que infestam a política portuguesa com a sua esperteza
saloia sancionada por advogados pagos a peso de ouro.
Meses atrás, a ministra da Saúde, triste
personagem apanhada no turbilhão do
corona vírus, sentiu-se obrigada a “confessar não ter agido
atempadamente”, numa crise que assola e
assusta de morte a população portuguesa perante um fraco governo formado
por laços familiares, ou por “boys” e “girls”
oportunistas quais abutres insaciáveis que vivem na esperança da podridão da política para se saciarem de carne pútrida.
É esta uma geração actual de putos partidários que se sentam na Casa da
Democracia acusando-se mutuamente de não terem sido eles mas outros personagens de outras bancadas responsáveis
pelo estado actual que não permite que
muitos portugueses possam aspirar a uma vida digna, ou com a simples garantia de terem sobre a mesa o simples pão de cada dia para mitigarem a fome dos filhos e de si próprios.
No tempo do Estado Novo, com respaldo no aforismo centenário dizia-se que quem não tem
padrinhos morre mouro, dito a que
corresponde hoje estoutro: quem não tem vergonha e tem bons advogados safa-se sempre.
E assim se vai perdendo a fé na Democracia porque, segundo Aldous Huxley, “nos
estados autocraticamente organizados o espólio do governo é compartilhado entre
poucos sendo que nos estados democráticos há muitos mais pretendentes que só
podem ser satisfeitos com uma quantidade muito maior de espólio que seria necessário
para satisfazer os poucos aristocratas, tendo demonstrado a experiência que o
governo democrático é geralmente muito mais dispendioso do que o governo por
poucos”. E este facto muito se agrava, portanto, com o actual governo com um numeroso número de
governantes, gulosos de chorudas tenças que batem recordes de um país que se debate com carências de toda
a ordem.
Pese embora esta indiscutível realidade, mas mesmo assim sem querer, de
forma alguma, generalizar, para não ferir, com infundadas suspeitas, a honra
de simples e escassos cidadãos que, porventura, possam militar desinteressadamente na
política, transcrevo o meu artigo de opinião: “Portugal e a corrupção” (“Público”, 26/09/2005) . Escrevi então:
“Era um vez um pequeno país, onde a terra acaba e o mar começa” (Camões), obrigado, pelo interesse e cobiça da União Soviética, da China Popular e dos próprios Estados Unidos, então sob a presidência de J. F. Kennedy, para que Angola e Moçambique deixassem de ser territórios sob administração portuguesa. Apesar de grande produtor de café, S. Tomé e Príncipe era mantido à margem da ganância dessas grandes potências por elas ainda não terem conhecimento da descoberta de poços de “ouro negro” naquelas paradisíacas paragens de roças vicejantes.
A conivência
com esta campanha morava nos diversos areópagos internacionais que, sob o manto
hipócrita de nobres intenções humanitárias, atiçaram sobre Portugal as
mandíbulas do opróbrio de ser uma nação colonial quando os verdadeiros motivos
das grandes potências mundiais tinham por finalidade o pior dos colonialismos:
o neocolonialismo!
Estavam
lançadas, assim, em terreno fértil as sementes contra a Guerra do Ultramar que
implicava uma hemorragia do erário público em três frentes de combate: Angola
Moçambique e Guiné Todavia, nos derradeiros anos que antecederam o 25 de Abril, “nunca outro
período da nossa história assistiu a um tão rápido desenvolvimento económico e
a uma tão grande aproximação da nossa economia às mais desenvolvidas” (Luciano Amaral, Atlântico, ano I, n.º 6,
Set. 2005, p. 9)”.
Em
época recente, e julgo que perdura nos dias de hoje, assistiu-se, apesar da
torrente caudalosa dos fundos comunitários (até quando?), a este triste
panorama: o salário mínimo nacional é inferior ao da Grécia; os ordenados em
Espanha são maiores e o custo de vida menor; os automóveis são 15% mais caros
do que a média europeia; a bolsa dos portugueses é onerada com impostos mais
elevados que os da grande maioria dos países europeus; e, por
último, alguns países do Leste Europeu
começam a aproximar-se – ou mesmo a superiorizarem-se – ao desenvolvimento de Portugal.
Numa inditosa Pátria com umas tantas personagens com responsabilidades social, política e económica que, em momentos de grave crise nacional, se preocupam com questões de “lana caprina” ocupando os seus tempos, com intrigas de soalheiro e desavenças de comadres, foi sacudida a opinião pública, pelo menos aquela mais atenta e responsável, pelo artigo de Daniel Kaufmann que relata, na edição de Setembro de 2005, na revista “Finance & Development”, editada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que “Portugal podia estar ao nível da Finlândia se melhorasse a sua posição no ranking do controlo da corrupção”.
De tudo isto colhe-se que se trata de uma questão de tempo e paciência nas mãos de políticos que ocupam o poder, ou têm a esperança de a ele regressarem em novas eleições mesmo que a reboque de uma nova/velha “geringonça”. Esta uma questão colhida do passado, um passado que, segundo Mário Quintana, ”não reconhece o seu lugar por estar sempre presente”.
E de promessa
prometida e nunca cumprida, Portugal corre o risco, em desolação pessoana, de se tornar “num cadáver que procria”. Pior do que isso, que gera verdadeiros, na linguagem dos jovens, “calhaus com olhos” que
se atropelam nas escadarias de acesso ao poder. É um verdadeiro ver se te avias!
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