Esta importante jazida, classificada como Monumento Natural, em 1997, é hoje um misto de lixeira e matagal com ervas, arbustos e árvores, tudo entretanto nascido e enraizado na própria laje que contém as pegadas.
A primeira batalha que travei com a Administração pela salvaguarda da jazida com pegadas de dinossáurio de Pego Longo (Sintra) na vizinhança imediata de Carenque (Amadora) durou três anos, entre 1990 e 1993, com larga participação da comunicação social. Saldou-se por uma feliz vitória, concretizada com a abertura dos dois túneis da CREL, sob a grande laje que contém as pegadas, o que custou cerca de oito milhões de euros à fazenda pública. À cautela, o Museu Nacional de História Natural, da Universidade de Lisboa, era eu, então, o director, procedeu à moldagem, em latex, da totalidade do trilho (132 m). De tudo isto dei pormenorizado relato no livro “Dinossáurios e a Batalha de Carenque”, Editorial Notícias, 1994.
É verdade que esta penosa batalha foi ganha, salvando-se as ditas pegadas, mas, de então para cá, deixadas ao abandono, assistimos, impotentes, à sua destruição, não obstante as múltiplas insistências que intentei ao longo destes 26 anos.
Em 2001, a Câmara Municipal de Sintra, ao tempo da presidência da Drª Edite Estrela, aprovou o projecto do “Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo” e, quando tudo se encaminhava no sentido da musealização do sítio, mudou a vereação do PS para o PSD e o projecto perdeu-se no fundo de uma qualquer gaveta.
Esta importante jazida, classificada como Monumento Natural, em 1997 (Decreto n.º 19/97 de 5 de Maio), é hoje um misto de lixeira e matagal com ervas, arbustos e árvores, tudo entretanto nascido e enraizado na própria laje que contém as pegadas. Uma vergonha para a Câmara Municipal de Sintra e uma vergonha ainda maior para o Instituto de Conservação da Natureza (e agora das Florestas, um enorme disparate como se as florestas não fizessem parte da natureza), a quem, por lei, compete fiscalizar e zelar por este valioso património.
Estamos a viver um período em que temos outras urgências bem mais gritantes, sendo de bom senso que, pelo menos, se tente travar a degradação em curso, protegendo eficazmente a jazida, na espera de melhores dias.
Se mesmo isto não for feito. que se possa, ao menos, assacar responsabilidades às duas supraditas instituições.
A. Galopim de Carvalho
Artigo saído no jornal Público de dia 15 de agosto
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