domingo, 30 de agosto de 2020

NO PROSCÉNIO DA POLÍTICA PORTUGUESA


“A oposição é a arte de estar contra, 
mas com uma habilidade tal que logo se possa estar a favor”
(Maurice deTayllerand-Périgord, politico e diplomata francês, 1754-1838). 

1. Um Governo Dinástico do Tipo Pensão Familiar: Nesta parcela da península ibérica existe um país em que o “nosso primeiro" (ministro) nada ou pouco resolve. Desta forma simplificada e simplista, os problemas do país são secundários, secundaríssimos, desde que as famílias de marido, mulher e filhos, repimpados em cadeiras do poder ( a sorte é não haver netos em idade para serem ministros ou secretários de Estado) a pesarem que nem chumbo no erário público porque, como nos diz o ditado, "o tempo tudo cura" e mesmo que não cure o que importa se essas famílias de eleitos estiverem felizes e aos pulos de contentamento.

E, em contrapartida, o povo chora as sua mágoas sem ter, sequer, um lenço para enxugar as lágrimas! Longe vai o tempo em que os filhos de pessoa inteligentes podiam nascer burras e os filhos de pessoas honesta podiam nascer assaltantes de bancos. Hoje não, a inteligência herda-se como a cor dos olhos, por exemplo, não sendo necessário dar provas que os descendentes de gente ungida desta graça tenham as idênticas capacidades, através de entrevistas e exames psicotécnicos exigentes. E como os lugares, mesmo num governo tão cheio de governantes, como carruagem de metro em hora de ponta, não há lugar para todas essas intelijumências, havendo, como tal, que mexer os cordelinhos da cunha para encaixar uma legião de medíocres em lugares bem remunerados da função pública ou privada.

Época remota houve, em que era dito que quem não tinha padrinhos morria mouro. Hoje, por falta de padrinhos, pessoas ainda que de posse de licenciaturas ou mestrados, obtidos em universidades públicas e honestidade impoluta, estiolam, por vezes, em empregos mixurucos como caixas de supermercados ou vivem mesmo nas garras do desespero por estarem desempregadas pela não subserviência a juventudes partidárias que berram em megafones slogans ou agitam frenéticos bandeiras ao vento.

2. As reviravoltas do mundo da política: Face à inacção, ou falta de pulso, de António Costa em resolver os graves problemas da vida nacional varrendo-os para debaixo do tapete, o Bloco de Esquerda, pela voz de Catarina Martins, denuncia a intenção de um divórcio entre este partido e o PS paras as eleições autárquicas que se avizinham. Ou seja,“nada de novo na frente ocidental”, título de um livro com relatos da “I Guerra Mundial”, da autoria de Erich Maria Remarque, por mim não previsto e escrito várias vezes, de ser um casamento de conveniência em risco de um divórcio litigioso de grande estardalhaço público.

Inopinadamente, chega agora a notícia, que nunca me passou sequer pela pela cabeça, de estar o Partido Socialista a lançar olhares cupidos ao CHEGA para, ao que creio, embora "a profecia ser algo muito difícil de prever , especialmente em relação ao futuro" (Mark Twain), uma hipotética aliança para as eleições autárquicas que se aproximam. Embora no panorama político nacional seja difícil traçar um linha que delimite a esquerda e a direita e os seus extremos, nanja que eu considere o CHEGA um partido de extrema-direita, como tal diabolizado, como fazem, ou melhor queriam fazer crer, até hoje, certos “democratas” da ocidental praia lusitana. Basta de tamanho descaramento de um socialismo que pretende manter-se à tona de água, esbracejando, qual indivíduo preste a perder o pé, procurando boia de salvação, num acordo, "contra natura", com o CHEGA sem qualquer dignidade.

Chega de tanta hipocrisia. Há limites para tudo, até para levarem os socialistas um pontapé nos fundilhos das calças. Desta forma, o Partido Socialista acaba de dar um tiro nos próprios pés por fazer com que as pessoas indecisas em quem votar transformem essa indecisão em certeza de votarem num partido que tem um programa de acção bem delineado e sem tergiversações que tanto parece incomodar o presidente da Assembleia da República, pai tirano do CHEGA e pai permissivo de outros partidos vivendo, aparentemente, com eles como Deus com os anjos.

Deu-nos um retrato perfeito deste “status quo”, António José Saraiva, no seu “Panegírico de um Oportunista”, ao escrever, em citação que faço: “Diz-se que um oportunista é um sujeito sem princípios. Não é verdade. O oportunista tem todos esses princípios necessários aos seus fins. O oportunista é um homem de fins, e tem tantos e tão diversos princípios, conforme o tempo e as circunstâncias. (…) Talvez seja até o único tipo de homem cem por cento coerente, visto que nele não há contradição entre os princípios e os fins. Os fins são sempre idênticos: o interesse e a ambição do oportunista; e os princípios os mais apropriados a esses fins”.

Bem nos disse Paul Ricoeur, que “a história é uma mediação entre o passado e o presente num círculo hermenêutico”. Para infelicidade daqueles que se querem fazer passar por heróicos e denotados combatentes de uma estória de conveniências e traições, não passando de figurantes de triste figura de bastidores deste tenebroso “status quo”!

2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

O argumento que me faz hesitar perante a pena de morte é que ela seria mais um instrumento dos usurpadores do poder e dos poderosos.
De resto, aceitaria, sem pestanejar, a pena de morte para um assaltante, de um carro, de um apartamento, de uma casa, de uma pessoa, desde que fosse julgado e, quanto mais facilidades apresentasse em indemnizar os lesados, mais difícil seria a sua absolvição.
Compreendo mais facilmente um homicídio do que um roubo ou um furto. Confesso que tenho horror a ladrões. Nunca me candidataria a um cargo político.
Os ladrões não roubam só os anéis, e não roubam as consequências, nem a memória. E não venham com a treta de que todos são ladrões, porque isso é falso. Há imensas formas de roubar, é verdade. Mas, na minha escala de valores, que vale o que vale, roubar é o pecado capital. A hierarquia dos valores, no sistema jurídico, deveria ser estabelecida, não a partir do primado da lei (princípio da legalidade), mas a partir do primado da propriedade (princípio da propriedade). Voltamos ao princípio.
E há sempre os bons e os maus. Mas não há ladrões bons. Neste capítulo, pode ser interessante colocar os olhos na China.

Rui Baptista disse...

Mais um comentário que me (nos) nos briga a uma meditação profunda, num mundo de superficialidade. Obrigado.

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