segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Os enigmas da "Narrativa da Educação do Século XXI"

Reconheço ao mais alto representante da educação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que é como quem diz da educação do mundo (ou, pelo menos, de uma parte muito significativa dele), o especial dom de se exprimir por enigmas. Posso analisar e voltar a analisar as suas declarações, faladas ou escritas, mas sempre sem a certeza de ter conseguido compreender o seu efectivo significado. Não sou capaz de ir além da especulação. 

Vejamos o exemplo abaixo, de que não consigo certificar a fonte, havendo possibilidade de o texto não ser verdadeiro, mas se não o é, poderia sê-lo.

1) Com a covid, diz esse alto representante, "aprendemos que a aprendizagem não é um lugar". Ora, se está em causa a aprendizagem à distância, isto já havida sido dito muito antes. Mas, não sendo a aprendizagem um "lugar" (físico?), dispensa o encontro (físico?) entre professores e alunos? Dispensa a relação pedagógica? Somos levados a pensar que sim. E, mais, que isso "funciona".

2) Sim, a aprendizagem é (e, de resto, sempre foi) uma actividade, mas em que sentido se entende aqui actividade? Reacção comportamental ou acção pensada? O(s) sentido(s) é(são) behaviorista(s)? É(são) cognitivista(s)? É(são) construtivista(s)? Ou é behaviorista-construtivista (prevalecente na  actual narrativa sobre a educação formal)?

3) Evidentemente que a tecnologia deve sustentar a pedagogia (entendendo-se esta como um conjunto de metodologias de ensino que levam a aprender para... melhorar o futuro). Mas isto é tão antigo quanto a educação, mesmo quando as tecnologias eram, aos nossos olhos, muito mais rudimentares do que aquelas de que hoje dispomos. As novas tecnologias da informação não mudaram o essencial do ensino (o que o professor pensa e faz) nem da aprendizagem (o que o aluno pensa e faz), que continuam a ser tarefas "artesanais".

Ler e reler a citação destacada permitiu-nos avançar no esclarecimento dos desígnios da educação? Eu não consegui avançar um milímetro. Pergunto-me se será esse o objectivo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Vamos então ao concreto.
Sem dúvida que a covid-19 prejudicou muito as melhorias das aprendizagens essenciais dos estudantes portugueses. Então, as autoridades políticas da área da educação reagiram da melhor maneira possível: apelaram aos altos saberes técnicos dos especialistas da educação, que todos os dias labutam na construção de textos-guias jurídico-educacionais, e eles e elas deram à luz documentos burocrático-administrativos do mais fino recorte, que se constituíram também em autênticas varinhas de condão que, em menos tempo do que um diabo esfrega um olho, salvaram a situação!
Desde que a democracia regressou ao nosso país, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, nunca se tinham alcançado médias tão elevadas em disciplinas que, até ao corrente ano de 2020, não passavam de autênticas coutadas, onde apenas os filhos de uma aristocracia decadente e de uma burguesia nova-rica cevavam os seus desejos cinegéticos pseudointelectuais, como são exemplos as físico-químicas e as matemáticas, em que as médias - fruto do pacote pedagógico-legal da escola inclusiva, que proíbe a ignorância dos pobrezinhos, e do estudo sistemático e empenhado dos filhos da classe operária -, já ultrapassam, finalmente, os cento e trinta pontos (treze valores)!
É tudo uma questão de critérios de avaliação!
O conhecimento, o engenho e a arte não são para aqui chamados!
O fim, ter o diploma de doutor, justifica todas as hipocrisias, farsas e fraudes, que são os meios da escola atual em Portugal!

Rui Ferreira disse...

O senhor da OCDE sabe o que ignora, a sua agenda assim o obriga. Sabe muito bem que ignora o famoso conceito de Vigotski "a zona de desenvolvimento próximo". Ignora para que se esqueça, interessa-lhe muito que se esqueça, daí Fernando Savater dizer "a luta do justo é sempre a mesma, a luta contra o esquecimento".
Na escola (local), a aprendizagem do aluno é feita por transmissão de conhecimentos pelo professor (actividade).
"A Psicologia Histórico-Cultural considera os processos de aprendizagem, conscientemente dirigidos pelo educador, como qualitativamente superiores aos processos espontâneos de aprendizagem." (Luria, 1979)

Fátima André disse...

Estimada Helena,

Sim, confirmo veracidade da fotomensagem. Faz parte do "Encontro Internacional Educa Connect", realizado nos dias 21, 22 e 23 de julho de 2020, no qual participei. Deixo o link do vídeo completo da intervenção de Andreas Schleicher no supramencionado Encontro: https://youtu.be/yVQjBRphEUg

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