Quando o Primeiro Ministro, em 2018, afirmou que o nosso maior défice era o da Educação, fiquei a saber que a análise que ele fazia deste importantíssimo sector da vida nacional coincidia com a minha. Por isso afirmo uma vez mais que é preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si gente realmente capaz de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino, a começar nos programas, passando pelo negócio dos livros e outros manuais adoptados e, a terminar, na conveniente formação e necessária dignificação dos professores e em tudo mais que lhes diga respeito, como seja, por exemplo, a libertação de todas as tarefas alheias à sua real missão de ensinar.
Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, no propósito de promover a reflexão sobre os acontecimentos actuais, fomentar o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz.
Todo o ideal que aqui se pretende promover está contemplado no teórico e ilusório propósito oficial da nossa escolaridade obrigatória, agora de 12 anos. Basta ler os textos de alguns dos responsáveis pelo nosso ensino para verificar que assim é. Mas a verdade é que continuamos a ser um povo em que ainda são muitos os desinteressados pelos valores da ciência e da cultura, alienados pelo “jogo da bola” e em que muitos militantes e a maioria dos simpatizantes e, até mesmo, militantes dos partidos políticos desconhecem os fundamentos das respectivas ideologias. Basta vê-los, à entrada dos congressos, sem saberem responder às perguntas dos jornalistas sobre esta ou aquela noção.

Não obstante os belos propósitos, que eu diria falhos de convicção, de responsáveis pelo ensino como, por exemplo o que diz que a escolaridade obrigatória estabelece que um aluno, no final dos respectivos 12 anos, esteja:
“munido de múltiplas literacias que lhe permitam analisar e questionar criticamente a realidade, avaliar e selecionar a informação, formular hipóteses e tomar decisões fundamentadas no seu dia a dia”.
Grande e lamentável falhanço!
A verdade é que são muitos os adolescentes que pouco ou nada leram, que chegam à universidade falhos de todas as culturas, sem saberem escrever português.
Os teóricos que aconselham os governos pretendem (ilusoriamente e estou em crer que sem convicção) que, cumprida a escolaridade obrigatória, o jovem:
“seja livre, autónomo, responsável e consciente de si próprio e do mundo que o rodeia”.
Mas basta vê-los, irracionalizados, saltando e gritando, na Praça do Marquês de Pombal, aquando das vitórias deste ou daquele clube de futebol e constatar a elevada percentagem de abstenções nos actos eleitorais, para verificar a falência deste nobre propósito.
Os programas oficiais estabelecem que, nas diferentes áreas de competências, os alunos aprendam a
“colaborar em diferentes contextos comunicativos, de forma adequada e segura, utilizando diferentes tipos de ferramentas (analógicas e digitais), com base nas regras de conduta próprias de cada ambiente”.
Um belo e elevado propósito que não teve e continua a não ter realidade visível na média dos nossos cidadãos e cidadãs. O que salta à vista nos dias que correm e nesta geração de adolescentes, que teve e tem o privilégio de fruir da condição de estudante, é o uso obsessivo dos telemóveis, onde quer que estejam e seja a que horas forem.
É, pois, preciso e urgente olhar para esta realidade do nosso ensino. É, pois, preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si gente realmente capaz de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino, a começar nos programas, passando pelo negócio dos livros e outros manuais adoptados e, a terminar, na conveniente formação e necessária dignificação dos professores e em tudo mais que lhes diga respeito, como seja, por exemplo, a libertação de todas as tarefas alheias à sua real missão de ensinar.
A. Galopim de Carvalho
1 comentário:
Professor Galopim de Carvalho,
Por muito desabrido que lhe possa parecer o meu comentário, tenho de lhe dizer, com toda a franqueza, que, em questões do foro da Educação Nacional, V. Ex.ª está muito desatualizado. Recordo-lhe, com todo o respeito e admiração, que, já vai para mais de duas décadas, entramos neste primeiro quartel do século XXI, onde o ensino professoral, dos seus tempos de juventude e meia-idade, está a dar lugar a uma coisa flexível e inclusiva conhecida nos meios do eduquês por Aprendizagens Essenciais. Para lhe dar uma pequena ideia da revolução que chegou à educação, basta dizer-lhe que a figura do professor clássico, o mestre-escola de aldeia, ou o doutor do liceu, praticamente já foi totalmente substituída pela do educador de infância, que ensina no Jardim, ou pelos dos novíssimos mentores, que mentoram nas escolas EB 2,3 + S.
Agora, o paradigma já não é ensinar! Com esse paradigma corria-se o risco de os professores ensinarem muito e os alunos aprenderem pouco e poderem ficar, temporariamente, para trás - seria uma perda de tempo e de recursos financeiros. Com os mentores, tudo é mais simples: deve-se ensinar apenas o mais fácil e óbvio, para que os todos os alunos aprendam facilmente o pouco que lhes é ensinado. Assim, seremos todos mais iguais, e felizes no desconhecimento de matérias escolares que antigamente só serviam para dar dores de cabeça a alguns estudantes. Pode ser que, com o abrandamento da Covid, continue a haver bons empregos lá fora!
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