quarta-feira, 5 de agosto de 2020

LIVROS DE CIÊNCIA PARA O VERÃO

Meu artigo publicado em vários jornais regionais (projecto "A Ciência na Imprensa Regional" coordenado pelo António Piedade):

Têm saído entre nós alguns livros sobre a ciência ligada ao novo coronavírus, à infecção que provoca e à resposta do nosso sistema imunitário. Mas outros livros sobre temas de ciência têm também saído numa época má para o comércio livreiro: as livrarias estiveram fechadas, muitas sessões de lançamento de livros foram canceladas, as Feiras do Livro de Lisboa e Porto foram adiadas. Vários editores, livreiros e leitores estão, felizmente, a resistir a este estado de coisas. As obras indicadas a seguir, todas elas recentes , estão por ordem alfabética do apelido do autor:

- Daniel M. Davis, O Incrível Sistema Imunitário, Descubra o poder das defesas naturais do seu corpo, Ideias de Ler. O autor, físico e professor de Imunologia na Universidade de Manchester, explica neste livro, saído lá fora em 2018, agora colocado em português com referência aos novos tempos (há uma nota actual do autor), o complexo sistema que protege o nosso organismo perante um invasor. O autor apresenta, com grande arte pedagógica, as mais recentes descobertas na sua área, onde as novidades abundam graças a intensa investigação.

- Ann Druyan, Cosmos, Mundos Possíveis, Gradiva. Vale a pena ler este livro porque, 40 anos depois do Cosmos de Carl Sagan, é uma nova obra no mesmo estilo que preserva o espírito do primeiro. Ou não fosse escrito pela pessoa que melhor conheceu Sagan, a sua mulher. A ciência progrediu, o mundo evoluiu, mas a mensagem de Sagan continua válida porque é intemporal: ‘Devemos a nossa obrigação de sobreviver não só a nós próprios, mas ao Cosmos, vasto e antigo, de onde despontámos.’ Ao ler o bem ilustrado livro de Druyan, tal como antes ao ler o livro de Sagan (os dois guiões de séries televisivas), percebemos melhor o nosso lugar no Universo.

- June Goodfield, Um Mundo Imaginado. Uma história de descoberta científica, Gradiva. Recomendo a leitura ou releitura deste livro, que conheceu agora uma reedição de homenagem a Maria de Sousa, a cientista portuguesa que foi vítima da Covid-19. Ela é a Ana Brito, a cientista portuguesa cujo trabalho a autora acompanhou ao longo de cinco anos. Sobre a edição portuguesa: é pena que não tenha incluído o novo prefácio da autora, com carta da cientista para a autora e para o leitor, na reedição de 1992 da Imprensa da Universidade de Michigan. Percebe-se a urgência da homenagem póstuma, mas os novos leitores teriam ficado a perceber melhor as razões da longa durabilidade de um livro que teve excelentes apreciações incluindo a do imunologista britânico Sir Peter Medawar, Nobel da Medicina em 1960. Hoje Um Mundo Imaginado é um grande clássico!

- Adam Kucharski, As Leis do Contágio. Como surgem e desaparecem os surtos virais, Porto Editora. O autor, professor na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, investigou as pandemias do ébola e do zica. Nesta obra, traduzida em tempo recorde, uma vez que saiu no Reino Unido há escassos meses, fala da transmissão viral, não apenas na perspectiva biológica, mas também da perspectiva dos computadores. De facto, até há pouco a nossa ligação mais comum aos vírus encontrava-se no mundo da informática. E hoje estamos confrontados no planeta todo com um microorganismo danoso e este livro já fala de Covid-19. É uma obra de divulgação, recheada de exemplos e evitando a terminologia técnica.

- Daniel Quammen, Contágio. Uma história dos vírus que estão a mudar o mundo, Objectiva. Nesta obra cujo original é de 2012, o autor, escritor de ciência norte-americano premiado, trata, numa escrita muito viva, o processo que faz passar vírus de animais como os morcegos para os seres humanos (processo conhecido por zoonose). Em particular fala da passagem do HIV dos chimpanzés para humanos. O prefácio é do virologista português Pedro Simas e logo a seguir vem um artigo de Quammen que saiu no New York Times no final de Janeiro passado, quando a presente pandemia ainda estava no início. São mais de 600 páginas que se lêem não só com proveito mas também com gosto.

Boas leituras!
Carlos Fiolhais

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