O estudo da cultura clássica e das suas línguas desaparecem dos sistemas educativos públicos de múltiplos países cuja matriz de pensamento é a Ocidental. A determinação explícita, forte e generalizada de as extinguir do currículo para dar lugar (apenas) ao que é útil tem muitas décadas, mas é agora que está a chegar à sua plena concretização.
Tendo, nos últimos anos, acompanhado de perto este movimento, vi a esperança de continuidade, do seu ensino, aprendizagem e investigação, deslocar-se para escolas e universidades privadas com uma robusta tradição aliada a uma resolução de intervir no mundo.
Entre essas escolas e universidades estão, inequivocamente, as jesuítas. Ou, estavam... Vejamos...
O Projecto Horizonte 2020 da Fundació Jesuïtes Educació deixou muita gente atónita (eu incluída): como é possível os jesuítas alinharem pela mais fina "narrativa do século XXI/do futuro"?! E do modo superficial, para não dizer leviano, com que o fazem?! Isto enquanto muita outra gente dizia (e diz): vejam como é maravilhoso o projecto que essa "narrativa" revela que até os jesuítas o adoptam! O espanto é igual, ainda que tenha razões diferentes, porque, quer queiramos ou não, quer gostemos ou não, os jesuítas são uma referência educativa de primeira linha.
Aprofundado este cenário, vemos algo mais inquietante: não são todas as escolas e universidades que seguem a linha de renovação: umas seguem-na e outras não. Em texto posterior explicarei esta afirmação, pois, por agora, quero destacar o esforço que ex-alunos, alunos e professores do Instituto de Estudos Clássicos e Medievais de um colégio jesuíta (Canisius College) de Buffalo - Nova Iorque, fundado em 1870, estão a fazer para que os programas de ciências humanas que têm proporcionado, directamente ligados aos estudos clássicos, não sejam extintos, como propõe a administração (ver a carta que escreveram aqui).
Pedem, em concreto, ajuda aos classicistas espalhados pelo mundo para apoiarem o seu esforço, dirigindo-se por escrito aos responsáveis da escola e assinando uma petição (aqui).
Talvez fosse de alargarem o seu pedido a todos, pois não são apenas os classicistas que reconhecem valor à cultura clássica. Toda a gente se deve preocupar com ela: trata-se de manter algures no mundo (já que isso deixou de ser possível em cada país) a possibilidade de alguém aprender uma parte da herança que nos foi confiada e em relação à qual temos obrigação moral de preservar e de transmitir, mas também o direito de a fruir.
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