terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

"O belo e a consolação" - Entrevista a George Steiner

Na vastidão das suas leituras, a ampla subtileza do seu entendimento 
da força moral da literatura e dos riscos da futuro da verdade 
- apesar de lacunas que especialistas verberavam - 
a perspicácia funda das suas intuições, eram prodigiosas, 
criavam admiradores fiéis e tinham história paralela.
José Cutileiro (sobre George Steiner), 
Expresso, 8 de Fevereiro de 2020, Primeiro caderno, p.34.

Há perto de vinte anos, passou em vários canais de televisão um programa holandês de entrevistas a intelectuais de diversas áreas (ciência, filosofia, literatura, cineastas...). O título desse programa admirável era O belo e a consolação ou, atendendo ao original, Da beleza e da consolação. George Steiner, que agora nos deixou, foi um dos entrevistados. 

Temo que as suas palavras sobre a absoluta necessidade de sabermos - ou, melhor, de procurarmos saber mais e mais profundamente - de sabermos de cor - de coração -, para tentarmos compreender e, mais do que isso, para sermos, sejam das últimas que veremos ditas e escritas. Recordemo-las, enquanto ainda temos uma vaga noção dessa importância.


1 comentário:

Carlos Ricardo Soares disse...

É uma notável entrevista, para guardar e reflectir muitas vezes. Verdadeiramente inspiradora. O primeiro pensamento que me ocorreu, quando li "O belo e a consolação", foi "será que vai falar daquilo que não tem significado, nem precisa, nem pode ter e que é o que mais importa à generalidade das pessoas?"
Quantos de nós se apercebem de que, apesar de vivermos numa cultura intencional e sistematicamente "significadora", centrada na formulação e exploração de significações e de sentidos, há um predomínio daquilo que não tem significado, nem precisa, nem pode verdadeiramente ter, nem interessa que lhe atribuam?
Se tomarmos a Escola como exemplo para ilustrar o que digo, logo daremos conta de que a questão do "significado" e do "sentido" é um prévio requisito de elegibilidade, mormente se o critério geral for o da utilidade/retorno...
Todas as disciplinas se tornaram ávidas, pelo princípio de alguma forma de economia/importância/relevância, da evidência do significado e do sentido de existirem.
A ironia é que esta exigência de justificação impõe pensamento e construção racional que, ela própria, é um objecto de parca valia e menos apreço.
Atalhando, quero eu dizer que as sociedades hodiernas assistem a um recrudescer da importância dos talentos não directamente revelados como talentos de discurso do pensamento, saber pensar (filosófico, científico, político, económico, religioso...), que se revelam nas áreas do desporto, das artes, do lazer, da poesia, música, gastronomia, contemplação, ócio, vadiagem...
Se observarmos e analisarmos os dados das economias dos países, talvez nos surpreenda que mais do que os suportes tecnológicos da comunicação o que importa são os "conteúdos" comunicados e estes, da música ao futebol, passando pela dança, pela contemplação de uma paisagem, pela gastronomia, ou por uma droga...quanto mais se apresentarem como simples fruições e menos como interrogações ou respostas, maiores adesões obtêm e mais compensações/retornos dão aos seus autores e respectivos países.
Por incrível que pareça, não são os filósofos, nem os historiadores, nem os cientistas, nem o engenheiros... que obtêm ou geram mais rendimentos nas economias dos países.
As coisas e a vida não precisam de ter significado, ou explicação, para serem o que são, interessantes (como um chocolate, uma dança, um quadro do Picasso...) ou não (como a morte, um acidente...), mas o significado e questões de pensamento e de sentido poderão fazer acreditar que as coisas não têm de ser como são.

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