terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

MANEIRAS DE FALAR E DE ESCREVER

Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras":

“A maneira de falar e de escrever que nunca passa de moda é a de falar e escrever sinceramente” (Ralph Emerson).

De entre as pessoas que me causam frisson situam-se pseudo-letrados que dizem ou escrevem pão, mas que acossados por críticas à respecriva forma de se expressarem  dão a volta ao texto dizendo que queriam dizer ou escrever queijo, ou vice-versa! Aliás, em política é (ab)uso ser dado uma no cravo e outra na ferradura, passe o plebeísmo, forma de timoratos "fugirem com o rabo à seringa".

Haja em vista uma peça de prosa oral da ministra da Agricultura, Maria do Céu  Albuquerque que, para elucidar cabeças pouco capacitadas para decifrar subterfúgios da sua linguagem esotérica, esclarece posteriormente a opinião pública, como quem se dirige a uma plateia cursada em estudos das "Novas Oportunidades" ou diploma de "cursos superiores” feitos em fins-de-semana e avaliados ao Domingos, sobre a interpretação a dar a palavras por si proferidas na visita à "Fruit Logística" no âmbito das exportações dos produtos agro-alimentares nacionais. 

E porque lhe deve estar na memória antigos mestres-escolas que se serviam do ponteiro para fazer entrar no crânio de cabeçudos a matéria explicada, perorou ela, como quem ilumina com rasgos luminosos a escuridão da ignorância: “Acho que [o coronovírus] até pode ter consequências bastante positivas. Ainda assim, não tenho dados que me permitam fazer uma avaliação. Atendendo a que é um mercado emergente, em crescimento explosivo, temos que nos preparar para corresponder  à nossa ambição que é reforçar as nossas vendas e equilibrarmos a nossa balança comercial”.

.Aliás, “nohil novi sub sole” neste argumentário de que a ministra Maria do Céu Albuquerque se fez prosélita, a exemplo de camaradas seus de governação. Bem eu sei, não se poder exigir-se-lhe os dotes oratórios do nosso padre António Vieira ou o poder tribunício de Demóstenes, grande orador da Antiguidade Grega, que, para melhorar a sua gaguez, ensaiava  as suas peças oratórias  pondo seixos na boca para evitar tropeçar nas  palavras por si proferidas. Neste exemplo ministerial  não se tratar de tartarmudez mas da tentativa de se desenvencilhar da argolada por si cometida, quem sabe porque, como sentenciou Herman José, “a língua portuguesa é muito traiçoeira”!

Colhendo outros exemplos, haja em vista as intervenções parlamentares da segunda figura de Estado, Ferro Rodrigues, quando apresenta desculpas esfarrapadas sobre a impossibilidade da descida do IVA da energia eléctrica e alega, outrossim, a inconstitucionalidade da medida, ainda que mesmo “in extremis”, sobre a  esterilização dos criminosos que abusam sexualmente das crianças -, algumas delas seus próprios filhos - em consideração pessoana, "crianças a melhor coisa do mundo!"

Bom aviso podem colher os nossos políticos da sabedoria popular: “A palavra é de prata e o silêncio de ouro”. Mas para o cumprimento deste desiderato, há duas condições essenciais a satisfazer. dignidade e honradez. Isto é, não ser pago a peso de ouro  para proferir baboseiras no hemiciclo abdicando de arregimentar votos em vésperas eleitorais com promessas sabidas, de antemão, não poderem ser cumpridas.Disse isto, aliás, de forma magistral Nikita Kreuschev: “Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes, mesmo quando não há rios”!

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