Meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras":
“A
maneira de falar e de escrever que nunca passa de moda é a de falar e escrever
sinceramente” (Ralph Emerson).
De entre as pessoas
que me causam frisson situam-se pseudo-letrados que dizem ou escrevem pão, mas que
acossados por críticas à respecriva forma de se expressarem dão a volta ao texto dizendo que queriam dizer
ou escrever queijo, ou vice-versa! Aliás, em política é (ab)uso ser dado uma
no cravo e outra na ferradura, passe o plebeísmo, forma de timoratos "fugirem
com o rabo à seringa".
Haja em vista uma
peça de prosa oral da ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque que, para elucidar cabeças pouco
capacitadas para decifrar subterfúgios da sua linguagem esotérica, esclarece
posteriormente a opinião pública, como
quem se dirige a uma plateia cursada em estudos das "Novas Oportunidades" ou
diploma de "cursos superiores” feitos em fins-de-semana e avaliados ao Domingos, sobre a interpretação
a dar a palavras por si proferidas na
visita à "Fruit Logística" no âmbito das exportações dos produtos
agro-alimentares nacionais.
E porque lhe deve estar na
memória antigos mestres-escolas que se serviam do ponteiro para fazer entrar no
crânio de cabeçudos a matéria explicada, perorou ela, como quem ilumina com
rasgos luminosos a escuridão da ignorância: “Acho que [o coronovírus]
até pode ter consequências bastante positivas. Ainda assim, não tenho dados que
me permitam fazer uma avaliação. Atendendo a que é um mercado emergente, em
crescimento explosivo, temos que nos preparar para corresponder à nossa ambição que é reforçar as nossas
vendas e equilibrarmos a nossa balança comercial”.
.Aliás, “nohil novi
sub sole” neste argumentário de que a ministra Maria do Céu Albuquerque se fez prosélita, a exemplo de camaradas seus
de governação. Bem eu sei, não se poder exigir-se-lhe os dotes oratórios do
nosso padre António Vieira ou o poder tribunício de Demóstenes, grande orador
da Antiguidade Grega, que, para melhorar a sua gaguez, ensaiava as suas peças oratórias pondo seixos na boca para evitar tropeçar nas palavras por si proferidas. Neste exemplo
ministerial não se tratar de tartarmudez mas da tentativa de se desenvencilhar da
argolada por si cometida, quem sabe
porque, como sentenciou Herman José, “a língua portuguesa é muito traiçoeira”!
Colhendo outros
exemplos, haja em vista as intervenções parlamentares da segunda figura de
Estado, Ferro Rodrigues, quando apresenta desculpas esfarrapadas sobre a impossibilidade
da descida do IVA da energia eléctrica e alega, outrossim, a
inconstitucionalidade da medida, ainda que mesmo “in extremis”, sobre a esterilização dos criminosos que abusam
sexualmente das crianças -, algumas delas seus próprios filhos - em consideração
pessoana, "crianças a melhor coisa do mundo!"
Bom aviso podem
colher os nossos políticos da sabedoria popular: “A palavra é de prata e o
silêncio de ouro”. Mas para o cumprimento deste desiderato, há duas condições essenciais a satisfazer. dignidade
e honradez. Isto é, não ser pago a peso de ouro para proferir baboseiras no hemiciclo
abdicando de arregimentar votos em
vésperas eleitorais com promessas sabidas, de antemão, não poderem ser
cumpridas.Disse isto, aliás, de
forma magistral Nikita Kreuschev: “Os políticos em qualquer parte são os
mesmos. Eles prometem construir pontes, mesmo quando não há rios”!
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