“(Se) educar é necessário, (toda) a educação é legítima,
é sempre para o «bem» do educando
[trata-se de] um raciocínio falacioso,
[trata-se de] um raciocínio falacioso,
porque não distingue entre necessidade e legitimidade."
A. Reis Monteiro in Educação e deontologia. Lisboa: Escolar Editora, 2004.
A ideia de que "mais educação escolar é melhor do que menos educação escolar", muito enraizada na sociedade, pode, em certas circunstâncias, ser profundamente errada, na medida em que submete a legitimidade à necessidade de educar. Se é necessário educar o ser humano, não é legítimo que a escola eduque fora dos estritos parâmetros do que é certo.
O documentário Escolarizando o mundo, de Carol Black, coloca essa ideia em debate. A educação forçada pelos governos, submetida a ideologias de Estado ou outras, que persegue objectivos alheios àqueles que são legítimos (a formação de pessoas), não pode ser aceite.
Com dez anos, este filme é de grande actualidade: no século XIX, os EUA obrigaram crianças nativas americanas a entrar em internatos para lhes incutir o "espírito americano" (no que foram acompanhados por uma multiplicidade de países que fizeram, e fazem, algo semelhante com propósitos análogos); hoje o filantropismo constrói, à escala do planeta, escolas em meios onde a escolarização não tinha chegado ou onde identifica problemas. Os "projectos de ajuda", em vez de prestarem atenção à cultura local, no que ela tem de mais valioso, impõem princípios que se afirmam inequivocamente válidos em termos de "desenvolvimento global", com vista à superação da pobreza e a alcançar-se uma "vida melhor".
O filme questiona, precisamente, as noções de riqueza e pobreza, de conhecimento e ignorância a partir da perspectiva de quem tem poder para determinar a economia e, por acréscimo, as políticas educativas. Alerta, de modo muito incisivo, para o caminho da uniformização dessas políticas, que, de resto, se vê reforçada neste início de década.
1 comentário:
Muito interessante e a merecer divulgação. Parabéns pelo blog♥️
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