sábado, 3 de junho de 2017

Um (triste) retrato da escola pública

Qual é, ao certo, a função da escola pública? Ou, dito de outra maneira, porque é que obrigamos os mais jovens a estarem nessa instituição estatal, durante tantos anos, doze no nosso caso?

Porque tendemos a ver os alunos a partir de uma base patológica, seja ela bio, psico, neuro, sócio... E porque é que tendemos a ver os professores do mesmo modo? Porque partimos do princípio que todos aqueles que estão na escola necessitam de terapia, de acompanhamento, de intervenção...?

Que relações deve a escola - repito, pública e estatal - manter com entidades e agentes - uns públicos mas muito privados - que se propõem resolver todos os problemas dos alunos e dos professores?

Os professores (onde se incluem os directores, que também o são), como "profissionais de ensino" (expressão consagrada na legislação em vigor), têm, certamente, mais dia menos dia, de empreender uma reflexão séria sobre estas questões, sob pena de a sua função se diluir conjuntamente com a diluição da escola.

Esta nota decorre de uma notícia, semelhante a muitas outras mas com a diferença de nela se reunirem, numa harmonia muito enganadora, as questões que acima enunciei. 

Um triste, muito triste, retrato da escola pública.

2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

É possível imaginar imensos cenários sobre escolas possíveis, ou até sobre inexistência de escolas.
Se eu fosse criança não concebia e não queria escolas.
Se fosse adolescente, concebia e talvez quisesse escolas de jogos e desportos.
Como sou adulto amestrado e "conformado" com as realidades da vida (e sempre me fizeram saber que era um privilegiado, para que eu aprendesse, mas acho que não) lido com a realidade que tenho, por mais difícil que seja e...Por mais justificada que seja a organização e a classificação das pessoas (classificação numa sociedade "dita" sem classes), só o simples facto de odiar tudo isso exclui toda a possibilidade de sucesso e de felicidade e de concordância.
As crianças, de hoje mais do que as de ontem, têm uma percepção de que assim é. As informações contraditórias, os deveres contraditórios, os objetivos contraditórios, e sobretudo as hipocrisias, provocam curto-circuitos nos cérebros, ou pelo menos nas inteligências e geram desconfiança, agressividade, frieza, ódio...

A justificação nunca poderá envolver um desmesurado sacrifício, sob pena de não se justificar.
A primeira preocupação dos sistemas de ensino talvez devesse ser o respeito pelas pessoas e a atenção ao seu bem estar, alunos e professores. Colocar a tónica em aspetos disciplinares, muitas vezes para disfarçar incompetências, é velho de mais. O bem estar, não como um estado definitivo, mas como um objetivo prioritário, considerando que é um dos pilares construtivos por excelência e, já agora, dos mais pedagógicos e saudáveis.
Mas, pensem duas vezes, parem de instrumentalizar as pessoas e de tratá-las abaixo de robots, fazendo-as amargar ao máximo o seu estado de dependência. Não coloquem ninguém em estado de dependência.
Este é o pão nosso/vosso de cada dia.
Este "parem" dirige-se às Insolências "Superiores", como é vulgar dizer-se, ainda hoje, neste tempo civilizado de Venerandos "Juízes" e "Suas Santidades". Ó acólitos, prosélitos, nefelibatas e quejandos, coloquem-nos num pódio, atribuam-lhes medalhas, laureiem-nos, como fazem às misses... Mas acabem definitivamente com esta aberração/humilhação.

Anónimo disse...

Ui, parabéns por este verbete tão arguto. A Escola Pública não pode existir para servir qualquer tipo de ideologia. O excesso de hierarquia está a esmagar toda e qualquer hipótese dos professores inovarem a sua actividade, e não são as instituições internacionais que geram boas soluções. Andamos há demasiado tempo a tentar cientifitizar a Escola, com termos como Educação e tal. Educação é missão da família, instrução é missão da Escola.
A Escola não pode substituir-se à destruturação da família, à ausência tradicional da mãe juntos dos filhos, o abaixamento do salário dos homens pela entrada em massa das mulheres no mercado de trabalho, nem pode curar as violências perpetradas sobre as crianças desde a mais tenra idade, isto entre outras loucuras subversivas do Marxismo aplicado.

O relaxamento dinâmico pode sim, pode ser uma boa ferramenta, mas não antes do início da adolescência. Antes disso, é preciso que as crianças sejam crianças, apenas, com amor e tempo.

Há mais de uma década trouxe para Portugal a Eutonia de Gerda Alexander, ninguém ligou puto, nem mesmo na área artística. Fica o agradecimento a todos os colarinhos brancos que vivem de parasitar a Escola Pública:
http://apma-artes.blogspot.pt/

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...