A sociedade portuguesa expressa, na sua generalidade, uma opinião muito convergente a respeito dos currículos escolares: os programas das disciplinas são muitos extensos, tornando impossível um trabalho de consolidação dos conteúdos.
Com as metas de aprendizagem e, depois, as metas curriculares sistematizou-se, para algumas disciplinas do ensino básico e secundário, o que seria o fundamental dos programas, mas a sociedade manteve a sua opinião.
Manifesta-se, agora, o Ministério da Educação empenhado em definir "o que é essencial que os alunos aprendam". Para tanto, está a ouvir os representantes dos mais diversos sectores educativos, sendo os resultados desta auscultação traduzidos em mudanças que entrarão em vigor no próximo ano.
Quem teve ou terá uma palavra a dizer no processo em causa talvez considere relevante reflectir sobre o conhecimento que ganhamos em ter no currículo escolar.
Segundo Michael Young, ao lado, esse conhecimento deverá ser o que designa por "conhecimento poderoso".
Trata-se do conhecimento mais relevante que a humanidade conseguiu construir e, que, nessa medida, traduz a civilização.
Se esse conhecimento não for adquirido pelas novas gerações instala-se um retrocesso em todos os sectores da sociedade.
Ao contrário, se esse conhecimento for garantido não se conseguirão superar todos os problemas sociais mas muitas crianças e jovens terão possibilidade de aceder ao pensamento autónomo, crítico e criativo.
Este sociólogo inglês nem sempre pensou assim: pelos anos de 1960 a 1980 afirmava o contrário, que o conhecimento que se inclui no currículo escolar é ditado por quem tem poder para o decidir, impondo-o a quem não tem esse poder. Ora, todos os grupos sociais devem ter o mesmo poder, o poder a escolher o seu próprio currículo.
Reconhece, agora, que o direito conferido a cada grupo para construir um currículo que traduza as suas especificidades não beneficia a tão almejada igualdade de oportunidade, tem o efeito contrário. E são os grupos mais frágeis que mais se ressentem, precisamente por as suas escolham serem menos "poderosas" no sentido acima apontado.
Esperemos que o "essencial que se irá estabelecer que os alunos aprendam" seja "conhecimento poderoso".
Para se perceber melhor esta ideia valerá a pena ver a conferência que, em 2013, Young deu no Brasil e que se encontra disponível no vídeo acima.
1 comentário:
Quantos de nós começamos por aprender sem buscar nada? E acabamos a buscar conhecer sem ser por nada? Embora, desde cedo, nos tenhamos apercebido, de que tantos outros buscavam e buscam sistematicamente o conhecimento poderoso? De preferência tudo aquilo que não se ensina nas escolas, porque "o segredo é a alma do negócio?".
De qualquer modo, o conhecimento poderoso não seduz e não interessa a todos. Pode até ser uma boa estratégia, na perspetiva das políticas educativas, mas aí o que está em causa é o interesse coletivo e não o interesse individual. Para instrumentalizar o conhecimento também é preciso conhecimento sobre instrumentalizar, sobre custos e sobre as finalidades. Isso do conhecimento poderoso, até pode ser fácil de perceber o que é, mas porquê e para quê e à custa de quê, pode não ser tão simples. Sem considerar outro lado da questão: basta querer para acontecer conhecimento poderoso?
O próprio conceito de conhecimento poderoso é muito vago e relativo, porque o que é poderoso, rapidamente, deixa de o ser, basta generalizar-se...
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