quarta-feira, 3 de agosto de 2016

POLITÉCNICOS, CRISMAS E CISMAS

Meu artigo de opinião saído hoje no Público:


“A pior forma de desigualdade é tentar 
fazer duas coisas diferentes iguais”.
Aristóteles

O financiamento das instituições de ensino superior  foi razão para a publicação de um artigo de opinião, intitulado “Não existe cisão entre o litoral  e o interior”, subscrito pelos presidentes dos politécnicos de Lisboa, Porto e Coimbra, respectivamente, Elmano Margato, Rosário Gambôa e Rui Antunes (PÚBLICO, 22/07/2016).

Neste  texto, estes  corifeus  poem em causa, essencialmente, a distribuição dos financiamentos atribuídos aos dois subsistemas  e, acessoriamente, a impossibilidade dos politécnicos atribuírem doutoramentos. Por falta de conhecimentos de natureza financeira  que me permitam  avaliar a justeza da captação de recursos atribuídos aos ensinos universitário e politécnico, submeto-me à exortação de Plínio: Sutor, ne ultra crepidem (sapateiro, não vá além da sandália). O mesmo  não se aplica quando os responsáveis dos supracitados politécnicos – quiçá porque, como escreveu Maurice de Tayllerand, “a oposição é a arte de estar contra, mas com uma habilidade que logo se possa estar a favor” -  subscrevem, em transcrição que faço verbo pro verbo: “Não temos nenhum preconceito com o nome que ostentamos: Politécnico”.
Concedendo que algumas pessoas, possam ter lapsos de memória, necessitando, como tal, de recorrer ao “Memofante”, tão propagandeado nos canais  televisivos, revisito algumas declarações anteriores, em letra de forma, de Rui Antunes ( e se as palavras ditas leva-as o vento, as palavras escritas perduram no tempo ) que, em pia baptismal de que se fez sacerdote, escreveu: “A cidade de Coimbra só teria a ganhar se o Instituto Politécnico de Coimbra continuasse a fazer o que tem feito até aqui com o nome de Universidade Nova de Coimbra” (“Diário de Coimbra”, 10/11/2005). Anos depois, como se a simples mudança do nome de filarmónica de uma pequena localidade para orquestra sinfónica melhorasse a actuação dos seus executantes, cisma ele em nova crisma para o politécnico das margens do Mondego: “Universidade de Ciências Aplicadas” (“Diário as Beiras”, 05/08/2013).
Malgré tout, não questiono a paixão que Rui Antunes possa ter pelo ensino politécnico, declarada em jura de amor no final do artigo supracitado de que foi um dos subscritores: “Estamos, como sempre, comprometidos com o ensino superior”. Temo, todavia,  que esse comprometimento, a exemplo das símias que de tanto amarem as crias as apertam de encontro ao peito até as asfixiarem, possa conduzir a uma passagem da certidão de óbito ao politécnico da Lusa Atenas, ao som das exéquias da “Marcha Fúnebre” de Mozart  sem a batuta de Joaquim Mourato, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos: “A estratégia do órgão a que presido tem sido no sentido de aprofundar a diferenciação de missões” (2015). Aliás, posição consonante com a de Adriano Moreira quando defende “a identidade separada e a igual dignidade de ambos os sistemas de ensino superior” (2004).
Em nome de uma medida que anularia toda e qualquer diferença e postergaria todo e qualquer valor, a pretendida alteração do nome de politécnico para universidade permitiria direitos iguais a obrigações diferentes por os dois subsistemas de ensino superior pouco diferirem  actualmente na forma e no conteúdo dos respectivos formulários que concedem leituras tortuosas para que o ensino politécnico pesque em águas territoriais universitárias em nome de interesses ocasionais dos seus diplomados. Ou seja, a possibilidade da consumação deste desiderato, em evocação pessoana, “aparentando salvaguardar a liberdade seria a maior das injustiças e a pior das tiranias!”

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