Recebi este Parecer do CCCSH - Conselho Científico para as Ciências Sociais e Humanas da FCT sobre o documento
“Estratégia de Investigação e Inovação para Uma Especialização Inteligente” (Fevereiro de 2015). O título fala em especialização inteligente, mas ficamos a saber que de inteligente o documento só tem a palavra no título. Para aquele Conselho será antes um "atentado" à inteligência:
Preâmbulo
O Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades exprime, através do presente documento, o seu parecer sobre A “Estratégia de Investigação e Inovação para Uma Especialização Inteligente”.
Consultado sobre uma versão preliminar em julho de
2014, constatou-se que as
Recomendações deste
órgão
não
foram
tidas
em
conta
e
em
nada
contribuíram
para
a
versão
final.
Este
é
um
documento
estratégico,
que
define
a
agenda
de
investigação
e
inovação
para
os
próximos
anos
e
do
qual
as
Ciências
Sociais
e
as
Humanidades
são
apagadas
ou
tornadas
áreas
subsidiárias
de
outros
temas
ou
domínios
de
atuação.
Este
facto
merece
a
nossa
maior
perplexidade
e
preocupação,
levando-‐
nos
a
emitir
um
parecer
negativo
a
este
documento.
As
consequências
desta
estratégia
não
são
evidentes
e
é
fundamental
que
seja
transparente
qual
o
seu
impacto
na
futura
alocação
de
verbas
para
a
investigação.
Isto
é,
que
percentagem
da
dotação
orçamental
será
colocada
em
projetos
alinhados
com
o
documento
e
qual
a
percentagem
remanescente.
Porque
a
eliminação
das
Ciências
Sociais
e
das
Humanidades
de
um
documento
com
esta
importância
nos
parece
francamente
empobrecedora
para
o
país,
consideramos
importante
a
divulgação
do
presente
parecer
pela
comunidade
científica,
para
que
possa
haver
uma
reflexão
conjunta
e
ponderada
sobre
a
estratégia
agora
aprovada
e
para
que
se
abra
a
possibilidade
de
reabertura
deste
documento,
para
uma
inclusão
de
temas
e
questões
pertinentes
com
o
contributo
destes
domínios.
Os
nossos
comentários
dividem-‐se
nos
seguintes
tópicos:
i)
metodologia;
ii)
listagem
de
temas
e
eixos
temáticos;
iii)
estrutura
de
governança;
iv)
implementação.
(i) Metodologia
O
documento
é
muito
explícito
quanto
à
metodologia
de
elaboração
e
revela
a
existência
de
uma
estratégia
clara
para
a
articulação
entre
setores
que,
tradicionalmente,
não
colaboravam
na
preparação
e
conceção
do
pensamento
sobre
investigação
e
inovação.
É
bastante
evidente
a
articulação
entre
o
Diagnóstico
do
SNCT
e
a
preparação
desta
estratégia.
É
importante
lembrar
que
a
história
da
política
industrial
em
vários
países
(enquanto
incentivo
a
certos
setores)
não
é
muito
estimulante,
uma
vez
que
é
difícil
saber-‐se
o
que
vai
ter
sucesso,
não
sendo
provável
que
sejam
os
estados
ou
comissões
criadas
a
descobrir
as
receitas
de
êxito.
Mesmo
centrado
no
desenvolvimento
económico,
um
problema
óbvio
e
estrutural
que
é
apontado
por
qualquer
observador
da
economia
nacional
é
o
nível
de
formação
dos
recursos
humanos
do
país.
Sem
níveis
mais
elevados
de
capital
humano,
dificilmente
qualquer
estratégia
de
especialização
inteligente
funcionará
numa
economia
moderna,
porque
o
conhecimento
está
na
base
do
sucesso,
do
mesmo
modo
que
o
acesso
ao
conhecimento
é
um
direito
de
cidadania.
O
nível
de
educação
médio
do
trabalhador
português
é
muito
baixo.
As
gerações
mais
jovens
são
bastante
mais
educadas,
mas
ainda
assim
o
nível
médio
é
baixo
quando
comparado
com
gerações
equivalentes
em
outros
países
desenvolvidos.
Além
disso,
vai
passar
muito
tempo
até
que
se
renove
o
nível
educativo
da
população
ativa.
Parece,
portanto,
essencial
que
a
metodologia
de
elaboração
desta
estratégia
coloque
a
qualidade
de
educação,
a
sustentabilidade
do
sistema
de
ensino
e
a
qualificação
como
eixos
prioritários
ou
preocupações
estruturantes
para
a
elaboração
da
estratégia. ´
Há
alguns
aspetos
merecedores
de
preocupação
sobre
a
metodologia
desenvolvida:
-‐ É
competência
dos
Conselhos
Científicos
o
apoio
à
elaboração
de
políticas
de
ciência
por
parte
da
FCT.
No
âmbito
desta
competência,
teria
sido
desejável
que
os
Conselhos
Científicos
tivessem
sido
convidados
a
participar
mais
ativamente
na
elaboração
deste
documento,
quer
na
fase
de
diagnóstico,
quer
na
fase
de
identificação
de
temas
e
eixos
prioritários.
-‐ Refere-‐se,
no
documento,
que
o
SCTN
teve
um
crescimento
muito
significativo
na
última
década,
o
que
se
torna
visível
nos
indicadores
de
produtividade.
Há
uma
correlação
negativa
que
quer
este
documento
quer
o
Diagnóstico
ao
SCTN
estabelecem
entre
o
investimento
em
Ciência
e
a
baixa
taxa
de
transferência
de
conhecimento
para
o
setor
empresarial
que
parece
ser
feita
de
forma
algo
elementar.
Há
dados
cruciais
para
se
entender
este
fenómeno
–
a
que
voltaremos
–
que
não
podem
ser
ignorados.
-‐ O
crescimento
do
investimento
em
Ciência
deve
ser
continuado.
O
sistema
só
amadurecerá
e
poderá
dar
frutos
mais
visíveis
se
houver
previsibilidade
e
estabilidade
no
financiamento.
O
desenvolvimento
do
conhecimento
científico
não
pode
estar
sujeito
a
modismos
e
a
ciclos
irregulares
e
instáveis
de
financiamento.
Neste
sentido,
em
termos
metodológicos,
o
investimento
em
Ciência
e
a
estabilidade
do
emprego
científico
devem
ser
perspetivados
como
eixos
prioritários
para
qualquer
tipo
de
especialização.
-‐ Refere-‐se,
no
documento,
que
as
áreas
de
maior
competitividade
científica
foram
aferidas
também
com
base
em
publicações.
Como
é
reconhecido
por
todos
os
stakeholders,
a
bibliometria
de
base
comercial
não
é
uma
fonte
credível
de
informação
para
garantir
a
visibilidade
da
produção
científica
em
Ciências
Sociais
e
Humanidades.
Há,
portanto,
um
enviesamento
de
raiz
sobre
o
potencial
das
disciplinas
destas
áreas
na
sua
participação
na
estratégia
a
definir.
-‐ A
palavra
“excelência”
é
abundante
no
texto,
mas
a
excelência
não
é
nunca
definida.
Uma
vez
que
o
conceito
é
utilizado
como
critério,
deve
ser
definido
e,
sobretudo,
deve
ser
clarificado
que
a
investigação
de
excelência
carece
de
outra
investigação
que
a
promova
e
sustente
e
justifique,
em
termos
relativos,
o
seu
caráter
de
excelência.
A
nosso
ver,
uma
estratégia
inteligente
deve
não
só
capitalizar
a
investigação
de
excelência,
mas
identificar
os
potenciais
de
acesso
à
excelência
a
partir
de
uma
cuidada
e
ponderada
análise
de
progressão
da
produtividade
e
impacto.
(ii) Temas
e
eixos
temáticos
Os
15
temas
prioritários,
agrupados
em
eixos
temáticos,
correspondem
a
tópicos
porventura
relevantes
para
a
visão
de
Portugal
em
2020,
conforme
enunciado
no
documento.
Mas
são,
contudo,
manifestamente
insuficientes.
Entende-‐se
a
definição
temática,
e
embora
se
sugira
que
todos
os
domínios
científicos
podem
contribuir
para
estes
eixos
e
temas
de
forma
diferenciada,
é
muito
claro
que
há
domínios
subsidiários
ou
que
terão
de
recorrer
a
uma
justificação
fabricada
para
justificar
a
sua
relevância
para
os
temas
escolhidos.
A
seleção
de
temas
e
eixos
merece-‐nos
o
seguinte
conjunto
de
comentários: ´
-‐ Estamos
perante
um
conjunto
de
temas
claramente
orientados
para
a
criação
de
valor
económico,
que
surge,
assim,
como
razão
última
da
produção
de
conhecimento.
Há
alguma
confusão
entre
temas
e
propósitos
na
forma
como
são
apresentados.
Deve
ser
tornado
mais
claro,
no
documento,
se
estão
a
ser
listadas
áreas
temáticas
de
inovação
e
investigação
ou
setores
de
atuação
que
podem
beneficiar
de
investigação
e
inovação.
Esta
diferença
conceptual
não
é
trivial,
mas
é
fundamental
para
uma
implementação
das
estratégias
a
desenvolver.
-‐ Por
muito
que
não
se
queira,
torna-‐se
evidente
que
há
um
enorme
apagamento
da
investigação
fundamental.
Na
melhor
das
hipóteses,
pretende-se
que
a
investigação
fundamental
seja
subsidiária
ou
enquadrada
num
conjunto
mais
vasto
que
tem
como
fim
último
a
investigação
aplicada
e
a
articulação
com
o
mundo
empresarial.
Deve
ser
tornado
claro,
idealmente
até
recorrendo-se
à
exemplificação,
o
papel
da
investigação
fundamental
nesta
estratégia.
Se
tal
não
for
feito,
corre-se
o
risco
de
se
estar
a
definir
uma
estratégia
que
tem
efeitos
a
médio
prazo
na
economia,
mas
que
é
estranguladora
da
criatividade
científica
e
dos
fundamentos
epistemológicos
do
processo
de
criação
de
conhecimento
–
a
experimentação
e
a
falsificação
de
hipóteses.
-‐ A
definição
de
uma
agenda
temática
para
a
investigação
deve
envolver
a
comunidade
científica.
A
definição
de
temas
bottom-up
não
pode
ser
descurada
e,
se
existiu,
tal
não
é
visível
no
documento.
A
velocidade
a
que
se
produz
conhecimento
científico
atualmente
faz
com
que
as
agendas
de
investigação
possam
ser
alteradas
em
períodos
de
três
anos.
Neste
sentido,
é
fundamental
que
a
definição
de
eixos
e
temas
não
possa
ser
considerada
fechada,
mas
que
haja
espaço
para
que
as
comunidades
científicas
possam
participar
dinamicamente
e
de
facto
na
definição
de
agendas
de
investigação.
-‐
Há
temas
cruciais
que
nos
parecem
não
estar
contemplados
no
documento.
Parece-‐nos
que
a
listagem
de
temas
pode
ser
fortemente
enriquecida
se
forem
incluídas
as
áreas
de
investigação
a
seguir
referidas,
que,
não
sendo
exaustivas,
são
capazes
de
contribuir
para
uma
melhor
compreensão
de
Portugal
em
contexto
europeu,
da
sua
identidade
e
dos
seus
valores,
numa
lógica
de
diferenciação
e
especialização
do
conhecimento
desenvolvido
no
espaço
europeu: ´
Compreensão
das
cidades
e
do
seu
património
–
privilegiando-se
estudos
de
caracterização
de
cidades,
de
património
histórico
material
e
imaterial
nas
cidades
em
transformação,
de
fluxos
migratórios,
de
multilinguismo,
de
urbanismo
central
e
periférico
e
as
diversas
formas
de
expressão
urbanas,
nomeadamente
envolvendo
fusão
de
arte,
empreendedorismo
e
ciência,
etc.
Aferição
da
qualidade
das
democracias
e
do
exercício
da
cidadania
–
privilegiando-‐se
a
identificação
dos
critérios
que
permitem
aferir
o
papel
na
construção
das
identidades
locais,
nacionais
e
internacionais,
as
métricas
de
avaliação
dos
serviços
públicos,
os
indicadores
de
desenvolvimento
e
qualidade
do
exercício
da
democracia,
a
especificidade
da
relação
entre
os
estados
europeus
e
cidadãos,
o
respeito
pelos
direitos
humanos,
etc.
A
este
propósito,
deve
ter-‐se
em
conta
que
Portugal
e
a
Europa
atravessam
um
período
de
profunda
transformação/redução
do
Estado
social
e
de
incerteza,
pelo
que
a
reflexão/ação
sobre
os
lugares
vividos
e
a
cultura
partilhada
tornam-se
essenciais
como
temas
que
enquadram
o
potencial
de
desenvolvimento
económico
e
a
segurança
dos
Estados,
como
contraponto
aos
nacionalismos
emergentes.
A
aferição
da
qualidade
das
democracias
(bem
como
a
formação
da
opinião
pública
a
que
nos
referiremos
em
seguida)
deve
passar
pela
constatação
de
que
a
relação
dos
cidadãos
com
as
instituições
representativas
se
tem
vindo
a
deteriorar,
como
os
elevados
níveis
de
abstenção
atestam
de
forma
clara.
Importa,
assim,
eleger
como
prioritária
a
qualificação
da
informação
a
que
os
cidadãos
têm
acesso.
O
documento
aborda
as
indústrias
culturais,
mas
apenas
numa
lógica
de
produção
para
o
entretenimento,
faltando
referências
à
qualificação
de
informação
para
a
tomada
de
decisão
nos
sistemas
democráticos.
Literacia,
educação
e
desenvolvimento
–
sabendo-‐se
que
a
literacia
e
a
qualificação
são
indicadores
do
desenvolvimento
das
economias,
parece-nos
que
são
de
privilegiar
estudos
que
apontem
caminhos
para
uma
compreensão
mais
clara
das
estratégias
para
um
melhor
desempenho
nestes
domínios,
face
às
características
específicas
do
espaço
europeu
(assimetrias
regionais,
fluxos
migratórios,
variabilidade
linguística,
promoção
da
criatividade
e
da
corresponsabilização
comunitária
pela
tarefa
educativa,
etc.)
Regista-‐se
ainda
que
o
documento
é
omisso
relativamente
ao
papel
da
educação
no
desenvolvimento
individual,
social,
económico.
Devem
ser
contemplados
domínios
como
a
criatividade,
a
educação
artística
e
os
aspetos
sócio-‐emocionais
que
matizam
os
processos
educativos.
Importa
ainda
salientar
que
tem
vindo
a
ganhar
enorme
relevância
a
preocupação
com
o
conceito
de
avaliação
em
todos
os
domínios
de
atividade,
pelo
que
os
estudos
sobre
avaliação
não
podem
deixar
de
ser
considerados
prioritários.
Conhecimento
–
privilegiando-‐se
estudos
que,
integrando
a
perceção
de
que
a
forma
como
o
ser
humano
se
relaciona
com
a
informação
está,
atualmente,
profundamente
alterada,
deem
conta
dos
mecanismos
cognitivos
associados
à
organização
e
estruturação
do
conhecimento,
bem
como
dos
princípios
filosóficos
e
éticos
que
norteiam,
na
sociedade
contemporânea,
a
relação
do
indivíduo
com
a
informação.
Ainda
neste
âmbito,
são
de
considerar
os
processos
de
decisão
e
os
subjacentes
à
memória.
Estes
tendem
a
ser
vistos
como
propriedade
de
indivíduos
isolados.
Contudo
o
estudo
da
memória
social
e
colaborativa
e
dos
processos
de
decisão
grupais
e
em
rede
tem
vindo
a
emergir
com
cada
vez
maior
impacto
em
diversas
ciências
sociais
e
outras
e
tem-‐se
revelado
crucial
na
explicação
do
sucesso
ou
insucesso
na
implementação
de
inovações
e
políticas.
Daí
que
se
devesse
incentivar
estudos
sobre
a
forma
como
se
constroem
memórias
e
representações
socialmente
partilhadas
quer
de
acontecimentos
cruciais
para
as
sociedades,
quer
de
acontecimentos
banais
e
estudos
focados
na
maneira
como
as
decisões
políticas
e
económicas
são
condicionadas
pelas
redes
institucionais
e
organizacionais
em
que
se
inserem.´
Formação
da
opinião
pública
–
obstáculos
e
facilitadores
à
formação
de
uma
opinião
pública
informada
–
Aposta
em
estudos
que
elucidem
e
documentem
os
processos
de
formação
de
opinião
em
diferentes
grupos
etários
e
étnicos
(entre
outros
enfoques
identitários),
nas
suas
facetas
cognitivas,
emocionais,
societais
e
históricas,
seus
obstáculos
e
fontes
principais.
Língua
portuguesa
e
lusofonia
–
têm
sido
vários
os
estudos
e
indicadores
que
reconhecem
o
valor
económico
da
língua
portuguesa.
Parece-‐nos
que
esta
estratégia
não
pode
ignorar
estes
resultados
e
deve
privilegiar
de
forma
explícita
a
língua
enquanto
instrumento
de
promoção
da
economia,
da
cultura
e
do
encontro
e
aprendizagem
recíproca
entre
culturas,
das
indústrias
criativas
e
culturais
e
do
próprio
conhecimento
científico.
Mais
do
que
se
dizer
que
a
língua
pode
ser
um
instrumento
ao
serviço
de
outros
eixos
de
desenvolvimento,
parece-‐nos
que
a
língua
é,
por
si
só,
um
eixo
de
desenvolvimento
estratégico,
em
linha
com
as
recomendações
da
última
cimeira
de
ministros
da
educação
e
ciência
da
CPLP
e
o
Plano
de
Ação
de
Lisboa.
Famílias,
parentalidade
e
envelhecimento
–
o
tema
do
envelhecimento,
que
surge
frequentemente
em
documentos
estratégicos
europeus,
não
pode
ser
dissociado
dos
temas
“cuidado”
e
“baixa
natalidade”,
sobretudo
num
contexto
de
acesso
restrito
a
elementos
de
cidadania
reprodutiva
(procriação
medicamente
assistida,
etc.),
e
em
que
a
prestação
de
cuidados
a
terceiros
consolida
fortes
assimetrias
em
contexto
familiar.
Acresce
que
as
práticas
de
conjugalidade
e
parentalidade
estão
em
transformação
acentuada,
refletindo-se
nas
expectativas
individuais
e
na
redistribuição
de
papéis
sociais
e
recursos
disponíveis,
condicionados
por
crescentes
taxas
de
desemprego
e
emigração
de
pessoas
em
idade
reprodutiva.
A
conjunção
destes
fatores
tem
um
forte
impacto
no
sistema
económico
dos
próximos
anos
e
não
estão
devidamente
singularizados
no
documento.
(iii) Estrutura
de
governança.
A
gestão
desta
estratégia
não
está
suficientemente
explícita.
Tendo,
aparentemente,
sido
construída
por
vários
agentes,
as
competências
dos
vários
participantes
devem
ser
clarificadas,
sobretudo
tendo
em
conta
a
perspetiva
de
este
ser
um
documento
em
aberto
com
potencial
de
atualização
e
enriquecimento.
(iv) Implementação
As
políticas
enunciadas
parecem-nos
demasiado
centradas
na
articulação
com
o
setor
empresarial,
afigurando-‐se-‐nos
ser
necessário
equacionar
um
investimento
em
absoluto
na
investigação.
Há
um
dado
omitido
neste
documento
que
é
fundamental
para
se
perceber
o
diagnóstico:
as
qualificações
médias
dos
empresários
portugueses
são
bastante
baixas,
o
que
tem
poder
explicativo
sobre
a
resistência
à
integração
de
pessoas
doutoradas
e
pessoal
técnico
qualificado
nas
empresas.
A
inversão
deste
estado
de
coisas
passa
pela
valorização
da
formação
de
quadros
de
empresas
e
pela
promoção
generalizada
de
uma
valorização
do
conhecimento,
o
que
não
é
visível
no
documento.
Há
propostas
que
nos
parecem
merecer
revisão,
como
a
sugestão
de
que
os
estatutos
das
carreiras
de
docente
e
investigador
devem
ser
revistas
para
valorização
da
componente
de
colaboração
com
o
setor
empresarial
ou
o
estatuto
privilegiado
dado
à
formação
universitária
conferida
em
associação
com
as
empresas.
A
colaboração
implica
reciprocidade
e,
por
este
motivo,
não
nos
parecem
promissoras
as
políticas
que
submetem
unilateralmente
a
academia
ao
meio
empresarial.
Não
se
encontram
correlatos
claros,
como
a
valorização
profissional
de
empresários
que
colaborem
com
as
universidades
ou
políticas
de
benefício
para
as
empresas
que
apoiem
o
conhecimento
fundamental.
Acresce
que
o
conhecimento
é
um
bem
em
si
mesmo,
e
deve
ser
assim
defendido
independentemente
das
prioridades
circunscritas
de
qualquer
outro
setor.
Por
esta
razão,
consideramos
que
o
processo
de
auscultação
descrito
(50%
de
empresas
e
50%
academia)
carece
de
sustentação
ética
e
epistemológica,
aspeto
agravado
pela
ausência
de
auscultação
das
associações
profissionais
e
científicas
em
CSH.
Lisboa, fevereiro de 2015
O Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades Fundação para a Ciência e Tecnologia
1 comentário:
O primeiro passo fundamental para uma Especialização Inteligente é remover a secretária de estado e a direcção da FCT. Nessa altura fará sentido discutir o assunto.
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